Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Será o amanhecer na América de Joe Biden?

Republicanos não convencerão americanos de que governo Biden está cheio de corrupção

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Se as eleições de meio de mandato pudessem ser repetidas neste mês, os democratas provavelmente acabariam controlando totalmente o Congresso. Os índices de aprovação do presidente Biden estão crescendo. A inflação está baixa e os consumidores se sentem mais otimistas. E os americanos estão vendo melhor a verdadeira agenda política do Partido Republicano, que é profundamente impopular.

Está bem, não damos aos políticos que perderam uma eleição a oportunidade de uma segunda chance, mesmo que eles aleguem falsamente que a eleição foi roubada. Mas acho que vale a pena notar o quanto o ambiente econômico e, portanto, político mudou nos últimos meses e começar a pensar seriamente na possibilidade de que os democratas estarão numa posição surpreendentemente forte no próximo ano.

É difícil quantificar como as coisas pareciam ruins para o partido de Biden na véspera das eleições de meio de mandato, no final do ano passado. O último relatório de preços ao consumidor divulgado antes das "midterms" mostraram uma inflação de 8,2% em relação ao ano anterior, número terrível para qualquer país.

A taxa de desemprego ainda era muito baixa para os padrões históricos, mas a mídia noticiosa estava cheia de alertas sobre tempos difíceis pela frente e uma grande maioria dos prováveis eleitores acreditava (falsamente) que estávamos em recessão.

Dada a percepção de severidade do ambiente econômico, os republicanos e muitos analistas políticos esperavam com confiança uma enorme onda eleitoral republicana.

Por que isso não aconteceu? Parte da resposta pode ser porque os americanos não estavam se sentindo tão mal com a economia quanto algumas pesquisas sugeriam. É verdade que o respeitado índice de sentimento do consumidor da Universidade de Michigan tinha caído a níveis vistos pela última vez só após a crise financeira de 2008, durante a pior crise desde a Grande Depressão.

Mas o índice de Michigan provavelmente foi distorcido devido ao partidarismo: os republicanos realmente acreditavam, como afirmavam, que a economia estivesse pior do que em junho de 1980? (Naquela época, a economia realmente estava em recessão, a inflação era de 14% e o desemprego estava acima de 7%.)

E outro antigo índice de confiança do consumidor, do Conference Board, contava uma história bem diferente, com os consumidores se sentindo muito bem com a economia. Não sei por que essas medidas foram tão diferentes, mas o Conference Board parece ter feito um trabalho melhor em prever a votação —embora a reação sobre Roe x Wade, e contra alguns candidatos republicanos terríveis, certamente também tenha influído.

De qualquer forma, em meados de janeiro –cerca de dois meses após a eleição e com três relatórios de preços ao consumidor publicados– as coisas parecem muito diferentes. Ainda não há recessão. Os preços ao consumidor realmente caíram em dezembro; mais especificamente, eles aumentaram a uma taxa anual de apenas 2% nos últimos seis meses.

E embora as expectativas do consumidor não tenham alcançado os mercados financeiros, que parecem acreditar que a inflação permanecerá reduzida no futuro previsível, as expectativas de inflação do consumidor voltaram a baixar aos níveis de um ano e meio atrás.

O que levanta uma pergunta que poucos fariam até alguns meses atrás: Joe Biden –que, aliás, teve uma eleição intermediária muito melhor do que Ronald Reagan em 1982– poderia estar rumando para um momento de "amanhecer na América"?

Alguns meses atrás olhei o "índice de miséria" –a soma do desemprego e da inflação, originalmente sugerido por Arthur Okun como um resumo rápido do estado da economia. Eu costumava pensar que esse índice era bobo; há várias razões pelas quais ele não deveria fazer sentido. Mas, historicamente, é um trabalho surpreendentemente bom por rastrear o sentimento do consumidor. E, como já observei, o índice de miséria parecia estar diminuindo.

Bem, agora caiu de um penhasco. Se usarmos a taxa de inflação dos últimos seis meses, o índice de miséria, que em junho estava em 14, agora caiu para 5,4, ou quase o que era às vésperas da pandemia, quando Donald Trump acreditava confiantemente que uma economia forte garantiria sua reeleição.

E essa não é a única coisa que os democratas têm a seu favor. Os subsídios à energia verde na Lei de Redução da Inflação estão levando a vários novos investimentos na manufatura nacional; não está claro quantos empregos serão criados, mas os próximos dois anos darão a Biden muitas oportunidades de presidir a inauguração de fábricas e fazer discursos sobre como a América está, hum..., ficando ótima novamente.

Não estou sugerindo que os democratas irão arrasar com os republicanos em 2024. Por um lado, muitas coisas podem acontecer nos próximos 22 meses, embora eu não ache que os republicanos, mesmo com a cooperação de muitos na mídia, convencerão os americanos de que a administração Biden está cheia de corrupção.

Por outro lado, as eleições geralmente não dependem tanto de como as coisas estão boas, mas da taxa de melhora percebida, e com a inflação e o desemprego já baixos não está claro quanto espaço há para crescimento.

Além disso, a extrema polarização política provavelmente tornou as eleições esmagadoras uma coisa do passado. Os republicanos talvez pudessem indicar George Santos e ainda conseguir 47% dos votos.

Mas, na medida em que o cenário econômico molda o cenário político, as coisas parecem muito melhores para os democratas agora do que quase todo mundo imaginava até muito recentemente.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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