Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Paul Krugman

O pleno emprego é bom para a sociedade

Desigualdade e disparidades raciais estão finalmente diminuindo nos Estados Unidos

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The New York Times

No dia em que Martin Luther King foi baleado, em 1968, ele estava em Memphis para demonstrar apoio aos trabalhadores de saneamento em greve. Naquela época, ele já havia percebido que lutar pela igualdade econômica era uma parte crucial da luta pelos direitos civis.

Infelizmente, houve pouco progresso nesse sentido nos cinquenta anos seguintes. Por muitas medidas, a divisão econômica entre afro-americanos e brancos era tão grande no final da década de 2010 quanto era no final da década de 1960.

A boa notícia: nos últimos anos, vimos uma queda significativa na desigualdade em várias dimensões, incluindo uma redução na diferença entre afro-americanos e brancos.

Martin Luther King Jr. Memorial, em Washington, nos Estados Unidos - Amanda Andrade-Rhoades - 15.jan.2024/Reuters

A persistência da disparidade econômica racial durou tanto tempo porque o movimento pelos direitos civis não conseguiu fazer nenhum progresso contra o racismo e a discriminação? Não.

A discriminação racial explícita se tornou relativamente rara —em parte por causa do Ato dos Direitos Civis de 1964— e a discriminação implícita provavelmente diminuiu, porque somos uma sociedade menos racista do que éramos.

OK, tenho certeza de que vou receber críticas por essa afirmação. Claro, o racismo não desapareceu; ainda é muito mais presente do que os brancos americanos podem facilmente apreciar. Mas éramos incrivelmente racistas no passado.

Para dar uma ideia, até a eleição de Ronald Reagan em 1980, apenas cerca de um terço dos americanos brancos aprovava o casamento interracial; hoje quase todos aprovam —ou, pelo menos, afirmam aprovar.

Então, por que os afro-americanos não progrediram relativamente? Provavelmente porque os benefícios da redução da discriminação foram compensados por um aumento na desigualdade de renda geral, em particular uma ampliação da diferença entre salários em empregos relativamente mal remunerados e salários para os altamente remunerados.

Como os trabalhadores negros continuaram sub-representados em empregos bem remunerados, a crescente polarização das oportunidades econômicas tirou muitos dos ganhos que se poderia esperar de uma sociedade que, novamente, ainda é racista, mas não tanto quanto antes.

O que nos leva ao surpreendente progresso dos últimos anos.

Sempre que escrevo sobre as boas notícias econômicas de 2023, nosso notável sucesso em reduzir a inflação drasticamente sem um aumento no desemprego, recebo dois tipos de críticas.

A maior parte dessas críticas vem dos republicanos, três quartos dos quais dizem que foi um ano ruim ou terrível para o país, mesmo que quase 70% deles digam que foi bom ou melhor para eles pessoalmente.

Mas também recebo críticas de alguns da esquerda, que insistem que nossa suposta recuperação ajudou apenas os ricos e não fez nada pelas famílias comuns.

Isso está completamente errado.

Já escrevi sobre o trabalho de David Autor, Arindrajit Dube e Annie McGrew mostrando que a recuperação econômica pós-Covid produziu ganhos salariais especialmente grandes na parte inferior da escala, reduzindo a disparidade salarial.

Os salários nos Estados Unidos ainda são altamente desiguais, mas não tão desiguais quanto eram há poucos anos. Na verdade, eles concluíram que revertemos quase 40% do aumento em uma medida-chave de desigualdade que ocorreu durante a grande divergência de renda, de 1979 a 2019.

E porque uma menor desigualdade geralmente ajuda de forma desproporcional os afro-americanos, um efeito tem sido uma "redução histórica nas disparidades salariais raciais", postou Dube nas redes sociais.

Por que a desigualdade salarial diminuiu? Vários estados aumentaram seus salários mínimos. Os sindicatos conquistaram algumas vitórias, e o medo de sindicalização pode ter levado alguns empregadores a aumentar os salários.

O principal fator, no entanto, foi certamente um mercado de trabalho aquecido: o pleno emprego aumenta muito o poder de barganha dos trabalhadores.

O pleno emprego também fez maravilhas por outro aspecto das disparidades raciais: o alto desemprego entre afro-americanos.

O último a ser contratado, o primeiro a ser demitido, ainda é um fato das relações raciais nos EUA; uma medida de nosso sucesso em finalmente alcançar algo como pleno emprego é que a diferença entre as taxas de desemprego de afro-americanos e brancos é a menor desde que o governo começou a coletar dados sobre o assunto.

Agora, os ganhos recentes para trabalhadores de baixa renda estão longe de restaurar a sociedade relativamente de classe média em que cresci, e estamos longe da igualdade racial também.

Mas fizemos progressos reais, mesmo que ainda haja um longo caminho a percorrer.

Tudo isso tem uma importante lição moral para as políticas: o pleno emprego é extremamente importante não apenas porque leva a um PIB mais alto, mas também porque ajuda a criar uma sociedade mais saudável e justa.

E devemos lutar contra as forças políticas que estão impedindo a criação de empregos. Particularmente, uma recessão gratuita pode facilmente desfazer grande parte do progresso que fizemos.

Agora está claro que a obsessão pelo déficit na década de 2010, que atrasou a recuperação da recessão de 2007-2009 por muitos anos, foi uma tragédia social e econômica.

E corremos o risco de uma tragédia semelhante se o Federal Reserve for intimidado a manter as taxas de juros elevadas pelos republicanos, que acusam a instituição de realizar cortes para ajudar o presidente Joe Biden —e não porque a inflação que levou o Fed a aumentar as taxas tenha diminuído.

Ainda há muitas coisas que precisamos fazer para cumprir a visão de King, e algumas delas serão difíceis. Mas uma coisa que deveria ser relativamente fácil é fornecer uma economia na qual os americanos dispostos a trabalhar —o que significa a grande maioria dos adultos— possam encontrar empregos.

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