Pedro Diniz

Jornalista com formação em comunicação audiovisual pela Universidade de Salamanca (Espanha).

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Descrição de chapéu Moda

'Pink Carpet' do Met foi manifesto por beleza menos corretinha

Festa quer provar que máxima do 'seja você mesmo' passou a valer mais do que o decote do momento

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Ator Ezra Miller veste look Burberry na festa do Met Gala 2019, no Metropolitan Museum, em Nova York

Ator Ezra Miller veste look Burberry na festa do Met Gala 2019, no Metropolitan Museum, em Nova York Mario Anzuoni/Reuters

Bradam por aí, inclusive este colunista, que tapetes vermelhos saíram de moda. Corrige-se: o que se exauriu, na verdade, foi a tentativa de enfiar pessoas num padrão estético inalcançável para quem acompanha de longe o glamour idealizado pelo showbiz.

Criou-se tantas regras de certo e errado, listas sem fim de mal vestidas, que a beleza perfeitinha das estrelas soa maçante para a maioria da audiência, que, por sua vez, passou a ter como referência gente fora da caixa normatizadora.

O padrão sem padrão, a máxima do "seja o que você quiser ser", passou a valer e vender muito mais do que o decote do momento. Dito isso, fica mais fácil entender os looks "meu-deus-o-que-é-isso?" do Met Gala, que aconteceu nesta segunda-feira (6), em Nova York.

A ideia era extravasar, mandar às favas todas as convenções e fazer da festa o que, para os brasileiros, significaria criar um baile de carnaval. Mas, como se trata do gala que arrecada fundos para o Instituto de Vestuário do Metropolian Museum, com uma lista de convidados escolhidos pela editora-chefe da Vogue americana, Anna Wintour, o bailinho precisa de “dress code”.

Os códigos de vestimenta seguem as diretrizes do tema da exposição anual do Met. Nos últimos anos, os convidados foram impelidos a se inspirar na cultura chinesa, na estética da estilista Rei Kawakubo, da Comme des Garçons, e na influência das religiões na moda. Fácil.

Neste, a coisa complicou quando foi anunciado em coletiva, durante a semana de moda de Milão, que o tema seria um texto de 1964 escrito pela ensaísta americana Susan Sontag, “Notes on Camp” (notas sobre o 'camp'), que, em resumo, batiza a estética do absurdo.

Não qualquer absurdo aleatório, como o mictório dadaísta de Marcel Duchamp, ou um kitsch, que seria um exagerado sem valor, pobre em discurso ou matéria-prima. O “camp” é um exagero calculado, propositalmente estranho, rico em detalhismo e, acima de tudo, subversivo. 

Ele necessariamente desafia o bom senso e o bom gosto utilizando veículos da cultura de massa que, nessa festa, pode ser definido pelo vestido-lustre de Katy Perry ou pelo edredom vestível de Cardi B.

Esse foi um dos temas mais inteligentes e bem amarrados escolhidos pela produção da festa. De um lado havia o patrocinador, a Gucci, maior porta-voz do “camp” aplicado à moda —a cabeça de Jared Leto foi ideia do estilista da marca, Alessandro Michele, para um desfile da grife em Milão; e, do outro, toda a massa de fashionistas e curiosos que cansou da nobreza um tanto antiquada do Oscar.

Ao mesmo tempo, o tema está alinhado à vontade da indústria fashion em romper com as convenções. A última temporada de alta-costura, tratou-se aqui, foi a ponta de lança desse circo extravagante visto no Met Gala 2019, que até na escolha dos anfitriões seguiu a desordem.


No trono havia Lady Gaga, ainda em alta pelos troféus conquistados na temporada de premiações do cinema e que é pioneira da estética “camp” na cultura pop. Reveja os looks usados por ela em aparições da época dos álbuns “The Fame” e “Artpop” que as quatro roupas desfiladas na festa não farão nem cócegas nos olhos.

Na base da coroa da festa esteve o cantor Harry Styles, garoto-propaganda da Gucci, que hoje tenta desconstruir arquétipos masculinos em sua carreira solo pós-One Direction. Foi de unhas pintadas, roupa transparente, nem feminina, nem masculina, e acompanhado de um homem, no caso, o próprio designer responsável pelo look e pelo contrato, Alessandro Michele.

O vestido Cinderela que acende no escuro assinado por Tommy Hilfiger e usado pela multiartista Zendaya; a alfaiataria fetichista desenhada por Riccardo Tisci, da Burberry, para o ator Ezra Miller; e a roupa circense com toques de Carmen Miranda da modelo Cara Delevingne, assinada pela Dior, entregaram a salada de imagens pretendida pelo evento.

Houve, claro, momentos amenos. As modelos Gisele Bündchen, de Christian Dior, e Doutzen Kroes, com um rosa-choque Giambattista Valli combinado às novas sandálias Vicky, de Alexandre Birman, sagraram a ala das belas.

Se tudo caminhasse como a alta casta da moda deseja, logo elas seriam exceção nos tapetes vermelhos e cederiam lugar ao brilho estapafúrdio, que, embora candidato a meme, renderia momentos mais divertidos do que um punhado de tule cortado.

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