Renata Mendonça

Jornalista, comenta na Globo e é cofundadora do Dibradoras, canal sobre mulheres no esporte.

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Renata Mendonça
Descrição de chapéu Copa do Mundo Feminina

CBF perde outra oportunidade de se redimir de erros contra o futebol feminino

Sissi, a maior camisa 10 do Brasil antes de Marta, foi ao Mundial graças a uma vaquinha

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Foi há quatro anos que tive meu primeiro contato com Sissi. Um dos maiores nomes do futebol mundial, essa mulher fazia chover dentro de campo. Mas infelizmente poucos conhecem essa história.

Artilheira da Copa do Mundo de 1999, autora de um dos gols mais bonitos da história das Copas --uma cobrança de falta espetacular contra a Nigéria, o gol de ouro da prorrogação das quartas de final--, Sissi fez parte da primeira seleção brasileira já formada ainda na década de 1980. Jogou três Mundiais, duas Olimpíadas, e foi a maior camisa 10 que o Brasil já teve na era pré-Marta.

Um gênio com a bola nos pés, que deixava os dirigentes do futebol brasileiro de cabelos em pé pela ausência dos seus na cabeça. Que ousadia para a época uma mulher querer jogar futebol --e ainda de cabeça raspada. Tentaram até fazer um regulamento no Paulista de 2001 que a impedisse de desfilar sua habilidade em campo --uma que regra proibia mulheres de cabelo curto no torneio e priorizava a "beleza" das jogadoras.

Sissi comemora o golaço contra a Nigéria em sua última Copa do Mundi, em 1999. Zoraida Diaz/Reuters - Reuters

Como sempre driblou as adversárias em campo, Sissi passou lisa por esse entrave também, foi jogar nos Estados Unidos e lá ganhou a majestade que merecia. Pendurou as chuteiras em terras americanas e, há pelo menos uma década, atua como treinadora em clubes de base.

Essa eterna craque do nosso futebol reencontrou a Copa do Mundo na França, 20 anos depois de seu último Mundial. Não foi levada para lá pela CBF em reconhecimento à sua história, nem pela Fifa, que a incluiu na categoria de "legends", mas não a ponto de dar a ela ingressos para participar de alguma forma desse Mundial.

Sissi veio à França porque o clube onde trabalha e os pais de suas jogadoras (que têm entre 12 e 13 anos) fizeram uma vaquinha para levá-la. Ela foi a quatro jogos, dois dos EUA.

"Queria muito ter ido a um jogo do Brasil, mas não deu", ela disse, revelando também que não levou a camisa da seleção americana que recebeu de presente de seu clube para usar nesta Copa. "Ah, não consigo né. Meu coração ainda é 'half and half'".

Sissi mistura o português com o inglês às vezes, mas não mistura o sentimento pelo país onde nasceu.

Fico imaginando quão grandioso seria o encontro dessa lenda com as jogadoras de hoje. Quão importante poderia ser para essa nova geração conhecer as histórias de um tempo em que nem uniforme as atletas brasileiras ganhavam para representar seu país.

Vestiam os que sobravam dos homens --e depois ainda tinham que devolvê-los. Um momento crucial para valorizar a luta que trouxe as jogadoras de hoje até aqui, e que deu a elas a chance de construir um futuro mais promissor para as mulheres no futebol. Mais uma oportunidade perdida pela CBF, de conectar o passado e o presente e se redimir dos erros cometidos.

Sissi não encontrou a seleção, mas cruzou com muitos fãs na França. Em um parque de Paris, crianças francesas ficaram admiradas quando souberam quem estava ali. Vieram logo pedir para jogar com ela.

Aos 52 anos, a ex-jogadora não pensou duas vezes e foi para o campo com eles. Deu caneta em uns, chapéu em outros e não poupou as crianças dos dribles tradicionais brasileiros. Mas também riu muito e pareceu extasiada com tudo o que estava acontecendo ali.

Ao final, os pedidos de autógrafo e de uma foto para registrar o momento em que tinham jogado bola com uma das maiores craques que o futebol já viu.

"Eu queria estar lá dentro jogando, ainda tem aquela vontade de viver isso. Trouxe até minha chuteira", brincou.

E olha que ela poderia ser um bom reforço para a seleção brasileira --dentro ou fora de campo.

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