As perguntas são da deputada Anna Eshoo, do Partido Democrata. As respostas, de Mark Zuckerberg, fundador do Facebook:
— Você pretende mudar seu modelo de negócios para proteger a privacidade dos indivíduos?
— Deputada, estamos fazendo e continuaremos fazendo mudanças para reduzir a quantidade de…
— Não. Você pretende mudar seu modelo de negócios para proteger a privacidade dos indivíduos?
— Deputada, não tenho certeza sobre o que isso significa.
O diálogo, revelador, foi um dos muitos das duas sessões de interrogatório no Congresso dos EUA. Zuckerberg pediu trocentas desculpas, tentou demonstrar humor, arrancou comentários sobre como fica diferente de terno —valia qualquer coisa para levar a discussão para o mais longe possível do motor de seu negócio.
O spin do Facebook não é coisa de amador. Com a mesma Eshoo ele havia sido mais objetivo momentos antes, feliz em contar que até os dados dele, Zuckerberg, vazaram.
Após o erro inicial de silenciar sobre o escândalo, a empresa foi ao ataque. Divulga quase todo dia uma nova ação sobre privacidade ou notícias falsas. Publica anúncios em alguns jornais em papel para ensejar discussões inocentes sobre impresso x digital. Envia executivos mundo afora para falar on e off the records.
No Capitólio, o despreparo de muitos congressistas (algumas coisas não mudam...) criou momentos ridículos e fez com que debates importantes entremeassem estupidezes.
Mas o ponto principal não é avaliar o Congresso nem Zuckerberg. O fato é que as pessoas começaram a acordar: nunca se enfatizou tanto como elas podem ser rastreadas em qualquer lugar, a qualquer momento. Se isso mudará os hábitos, só o tempo dirá. O inegável é que o vento da história não favorece o faroeste em vigor até aqui; encolheu a margem para aceitar os problemas da falta de privacidade. É uma boa notícia.
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