Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan
Descrição de chapéu Rússia

Putin não é um gênio, mas um megalomaníaco em uma bolha de bajuladores

Como muitos ditadores, os maiores esforços do presidente russo são gastos em tramas para se manter no poder

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Putin não é um gênio estrategista, não esperava a forte resistência da Ucrânia, e não tinha noção do tamanho das sanções que vão jogar a Rússia em uma gigantesca crise econômica. Essa ideia de que os grandes homens da historia (e são sempre homens, nesse tipo de mitologia) são geniais é o resultado dos vencedores contarem e distorcerem a história.

Todas as decisões que importam são tomadas sob condições de informação incompleta e imperfeita. E, infelizmente, a racionalidade acaba sendo deixada de lado quando se está cercado de sicofantas e quando se distorce a realidade para justificar qualquer ação.

Putin em uma reunião com membros do Conselho de Segurança - Andrey Gorshkov - 3.mar.2022/Sputnik/AFP

Putin pode ser uma pessoa inteligente, mas é um líder incompetente. Como muitos ditadores, seus maiores esforços são gastos em tramas para se manter no poder. Gênios estrategistas não empobrecem seu país enquanto se metem em aventuras militares que acabam em desastre.

Pior, existe na história soviética/russa um ataque militar tão sem sentido como o atual: a tentativa de tomada da Finlândia pela União Soviética de Stalin em 1939. O governo russo também achava que ia conquistar um território sem muita resistência, com o exército sendo recebido como heróis para instalar um governo de marionetes no país. O que se seguiu foi uma das mais sangrentas batalhas da segunda guerra, que durou três meses e meio e deixou dezenas de milhares de russos mortos nas florestas finlandesas. A Liga das Nações, uma proto-ONU, expulsou a União Soviética por esse ataque.

Oitenta e dois anos depois, a Rússia comete falhas similares. Putin errou e errou feio. Não havia como saber que Europa e EUA se uniriam em sanções internacionais que chegassem a isolar o Banco Central Russo. Um governo que soubesse que haveria tantas sanções teria se preparado para isso; em vez disso, teve que decretar feriado bancário, a bolsa continua fechada, com o banco central anunciando dia a dia se vai reabri-la, e as empresas de energia têm dificuldade de vender seu petróleo e gás.

O PIB per capita russo é hoje menor do que era quando Putin reassumiu o poder em 2012 e isso antes da crise por vir. Em parte, essa guerra é uma resposta ao fracasso do seu governo em melhorar a economia. Não houve reformas, o limite de gastos públicos foi abandonado, o desemprego parou de cair (saiu de 8,3% em 2009 para 5,4% em 2012, e hoje é de 5,5%, e a inflação disparou, de 5% em 2012 para 8,4% hoje). A economia anda de lado, mesmo com o país se tornando um dos maiores produtores de óleo e gás do mundo, responsável por 10% da produção mundial.

A preparação russa realmente contava com uma fraca resistência ucraniana. O país também não previu que a Alemanha mudaria uma política de décadas de proibir o envio de armas a países em conflito. A Rússia continua podendo ganhar a guerra quando quiser, mas só se resolver matar centenas de milhares de civis, explodindo os centros urbanos.

Os erros de Putin estão em todas as frentes de campanha. Como estrategista, Putin é somente um megalomaníaco que vive numa bolha, ouvindo dos outros só o que quer ouvir. Putin é um ditador latino-americano em espírito, só que com armas nucleares e bajuladores a seu redor que falam russo, em vez de espanhol ou português. Poucos são realmente os grandes homens da história. Putin não é um deles; é só um vilão de quadrinhos e agora criminoso de guerra. E que pode explodir a todos.

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