Rodrigo Zeidan

Professor da New York University Shanghai (China) e da Fundação Dom Cabral. É doutor em economia pela UFRJ.

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Rodrigo Zeidan
Descrição de chapéu BNDES

Lula acumula erros não forçados no primeiro trimestre

Ainda não conhecemos o principal eixo de políticas deste governo

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Por um lado, preocupação com o bem-estar social que traz esperança para o país. Por outro, sinais trocados de política econômica, que ora indicam novo-desenvolvimentismo como em um terceiro mandato de Dilma Rousseff, ora acenam para reformas modernizantes.

No tênis, um erro não forçado pode custar uma partida ou um campeonato. Em economia não é muito diferente. Como sistemas econômicos são sistemas complexos adaptativos, erros não forçados, do tipo atacar arranjo institucional, podem trazer efeitos em cadeia perversos que adiam o crescimento do país.

Qual o saldo destes três meses de governo? A reinstitucionalização do sistema de bem-estar social é de longe a melhor coisa que a administração petista fez. Temos um governo normal, com empatia, que busca o melhor para as diferentes comunidades que compõem o multifacetado Brasil.

Alguns exemplos são o combate ao trabalho análogo à escravidão, a luta contra a fome na floresta amazônica, a retomada da agenda ambiental e a recriação do Conselho LGBTQIA+.

Operação com PRF, MPT e Ministério do Trabalho resgatou trabalhadores mantidos em situação de escravidão em Bento Gonçalves - 24.fev.23/Divulgação

Em vez de vermos ministros pressionando famílias pobres e tramando planos para deixar passar a boiada, temos a normalidade de um governo equipado com gente técnica que busca amparar todos os brasileiros, mas que tem enorme trabalho pela frente depois da destruição institucional provocada pela extrema direita.

Os problemas na economia eram previsíveis, pois o governo não apresentou nenhum plano concreto sobre o que seria o cerne do terceiro mandato de Lula.

Os ataques à independência do Banco Central são erros bobos, de repúblicas de bananas. "Não gosto do que faz um órgão independente com milhares de funcionários, então vou atacá-lo como se o presidente mandasse em tudo sozinho."

Pior é a proposta de isentar do IOF os empréstimos do BNDES. Parece que a equipe econômica não se conforma com o fato de que não pode subsidiar as empresas ricas como já fez no passado. Coça o dedo para transferir dinheiro dos brasileiros para os acionistas de grandes empresas. Essa proposta, como muitas outras da agenda econômica da década de 1970 que perpassa o ideário petista, é péssima.

Reconstruir o Bolsa Família, o melhor programa social da história do Brasil, é obviamente um acerto. O Minha Casa, Minha Vida, se bem redesenhado, também poderá contribuir para uma retomada econômica. O Mais Médicos é muito necessário. Mas faltam ideias novas.

Lula ao lado de beneficiários do Minha Casa Minha Vida em Santo Amaro (BA) - Arisson Marinhao/AFP

O novo arcabouço fiscal é algo que pode destravar investimentos, trazendo confiança para a economia. Mas o governo provavelmente não vai entregar algo transformador, para o bem e para o mal.

Resta a pergunta: qual o principal eixo de políticas deste governo? Ainda não sabemos a resposta. Esse é o problema de viver em um país onde candidatos à Presidência não lançam programas robustos, mas sim plataformas ideológicas.

Detalhes importam e, para variar, vamos ver um governo com políticas construídas atabalhoadamente. Se a conjuntura permitir e houver criatividade, sairão políticas decentes. Mas ser governado ao sabor dos ventos macroeconômicos só traz uma certeza: os passageiros saem enjoados.

Se em vez de caçar bodes expiatórios o governo buscar reformar o governo brasileiro para o século 21, Lula poderá sair de novo como o pai dos pobres. O presidente já deveria ter resolvido a tensão entre populismo econômico e as reformas necessárias à sociedade. O primeiro trimestre já passou. Quando saberemos a resposta?

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