Ross Douthat

Colunista do New York Times, é autor de 'To Change the Church: Pope Francis and the Future of Catholicism' e ex-editor na revista The Atlantic

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Ross Douthat

Fim da era Trump divide republicanos

Partido só abandona ex-presidente se tiver certeza que ele não pode vencer DeSantis

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Desde as eleições de meio de mandato em 2022, o fim da era Trump na política americana tornou-se, no mínimo, uma proposta meio a meio. Enquanto Ron DeSantis surge em várias pesquisas nacionais, o ex-presidente se ocupou vendendo figurinhas digitais dele mesmo por US$ 99 para seus fãs mais devotos.

A batalha real prometida, na qual Donald Trump emerge de Mar-a-Lago para derrotar seu adversário e recuperar o trono, ainda pode estar por vir. Mas também é possível que Trump 2024 termine onde muitas pessoas esperavam que Trump 2016 fosse, reduzindo-se a um ato de autoindulgência que se apoia em seus verdadeiros partidários, mas não consegue obter maiorias nas primárias.

Se é assim que Trump sai, desaparecendo lentamente enquanto DeSantis reivindica seu manto, as pessoas que se opuseram mais ferozmente a Trump, tanto os liberais da Resistência quanto os republicanos do Trump Nunca, provavelmente acharão o final profundamente insatisfatório.

Donald Trump em púlpito; ele é um homem branco, loiro e veste terno preto com camisa branca e gravata vermelha; atrás dele, estão bandeiras dos EUA
Durante um evento em sua propriedade Mar-a-Lago, na Flórida, o ex-presidente Donald Trump anuncia que concorrerá novamente à presidência dos Estados Unidos em 2024 - Jonathan Ernst - 15.nov.2022/Reuters

Não haverá apresentação à mídia de Trump saindo da Casa Branca algemado; nenhuma revelação de traição putinista forçando os Trump a um exílio no Oriente Médio; nem denúncia escrita por Aaron Sorkin levando-o a sair, envergonhado, da praça pública.

Tampouco haverá um repúdio dramático ao estilo trumpista. Se DeSantis derrotar Trump, será como um imitador de seu pugilismo e populismo, como um político que promete travar as batalhas de Trump com mais eficácia e astúcia.

Nem, finalmente, haverá qualquer responsabilização dos facilitadores indulgentes de Trump no Partido Republicano. Houve uma certa responsabilização política quando os devotos do "Parem o Roubo" perderam tantas eleições que poderiam ter vencido no mês passado.

Mas os homens e as mulheres que taparam os narizes e concordaram com Trump em todas as etapas, exceto a pior, continuarão a liderar o Partido Republicano se ele desaparecer; não haverá campanha presidencial de Liz Cheney para dar um golpe de misericórdia em todos eles.

Essas realidades já estão gerando alguma raiva justificada, espírito visível no título de um artigo recente de Bill Lueders no The Bulwark: "Você está deixando Trump só agora?" Nunca se esqueça, insiste Lueders, que se os republicanos abandonarem Trump não será por causa de sua longa lista de ofensas contra a decência e o governo constitucional; será apenas porque, finalmente, eles têm certeza de que ele não pode vencer.

Como um adepto original do Trump Nunca, não critico ninguém por essa reação. Se Trump desaparecer, será uma vitória para lugares como The Bulwark, mas as pessoas naturalmente querem algo mais que uma vitória silenciosa e limitada após uma longa campanha aparentemente existencial. Elas querem vingança. Elas querem sentir como se todos finalmente concordassem: Nunca mais.

Mas a insatisfação pela falta de repúdio ou vingança é uma característica normal da vida democrática. O ato de vencer uma eleição cria uma alquimia de lealdade —"Vox populi, vox Dei"— que, na maioria das circunstâncias, apenas a derrota pode desacelerar.

O tempo que os partidos levam para repudiar seus líderes mais decepcionantes pode se estender por décadas ou séculos (como no caso do lento divórcio entre o Partido Democrata e Andrew Jackson). E os eleitores geralmente não impõem penalidades permanentes aos partidos, preferindo aceitar cada eleição como ela ocorre.

A ala sul do Partido Democrata era literalmente um partido de insurreição na década de 1860, e a ala norte era contaminada pelo apego, mas elas simplesmente se reuniram como um partido de oposição normal após a Guerra Civil.

O primeiro presidente republicano eleito após a renúncia de Richard Nixon, Ronald Reagan, não pagou nenhum preço por ter sido um dos mais leais defensores de Nixon durante a maior parte do caso Watergate. O público votou em massa contra o suposto radicalismo perigoso de Barry Goldwater e George McGovern, então deu meia volta alguns anos depois e votou nos partidos que os indicaram.

Ou, para pegar um exemplo internacional, na breve janela em que a Rússia foi uma democracia semifuncional, seu principal partido de oposição era, é claro, o sucessor do Partido Comunista, cujo governo ditatorial havia sido derrubado pouco antes.

Na política atual, não são apenas os antitrumpistas que se sentem frustrados com a recusa dos eleitores a olhar para trás. Considere a esperança entre os conservadores de que o exagero democrata nas restrições da Covid-19, especialmente o fechamento das escolas, desempenharia um papel decisivo nas eleições de 2022.

Isso teve um papel crucial nas eleições de 2021, quando essas políticas ainda estavam em vigor ou em debate. Mas, uma vez suspensas, o público seguiu em frente, deixando os ativistas conservadores deprimidos porque não houve punição duradoura.

Esse desejo de vingança é completamente compreensível. De que outra forma você pode garantir que erros graves não se repitam ou que um terrível demagogo simplesmente não se vestirá de ovelha e voltará?

A resposta, entretanto (e este é um remédio difícil), é que a maneira de evitar esse tipo de repetição é garantir que você tenha uma estratégia para vencer a próxima eleição e as seguintes —nos termos do público, e não nos seus.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.