Ross Douthat

Colunista do New York Times, é autor de 'To Change the Church: Pope Francis and the Future of Catholicism' e ex-editor na revista The Atlantic

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Trump supera adversários republicanos na habilidade de fazer promessas

Propostas irresponsáveis do ex-presidente soam mais atraentes que ideias impopulares de seus rivais

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The New York Times

Para entender a resiliência da influência de Donald Trump no Partido Republicano e a maneira como ele sempre parece renascer apesar do escândalo, do desastre ou da desgraça, basta olhar para o contraste entre suas primeiras incursões políticas na campanha de 2024 e o que estão fazendo dois de seus possíveis adversários.

A julgar pelo discurso de Trump na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), sua agenda política até agora inclui dois pilares cruciais. Primeiro, a promessa de defender a Previdência Social e o Medicare contra os falcões do déficit em qualquer dos partidos e, segundo, uma visão retrofuturista de bônus para bebês e novas "cidades da liberdade" no interior dos Estados Unidos, com projetos de construção seguindo linhas clássicas em vez das linhas feias da arquitetura moderna.

fotografia mostra o rosto de Donald Trump, homem branco, já idoso, de cabelos loiros e olhos claros. ele, que usa terno azul com gravata vermelha, se posiciona em frente a duas bandeiras dos Estados Unidos
O ex-presidente Donald Trump fala à imprensa antes de seu discurso na Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC), em Maryland - Anna Moneymaker/Getty Images via AFP

Enquanto isso, dois de seus adversários, a definitivamente candidata Nikki Haley e o esperançoso Mike Pence, ganharam as manchetes este ano por apresentar cortes de direitos. Haley por sua proposta, anunciada na semana passada, de mudar a idade de aposentadoria para os que hoje têm 20 e poucos anos, e Pence por trazer de volta a ideia das contas privadas de Previdência Social, do tipo que George W. Bush propôs em 2005.

A tranquilidade de Trump sobre o custo dos direitos é irresponsável, desnecessário dizer, e depois de quatro anos de experiência com sua liderança podemos imaginar o que a política da cidade da liberdade renderia –um cassino Trump e alguns prédios de uso misto administrados por Jared Kushner erguendo-se em um trecho inacabado de rodovia em algum lugar qualquer entre os vazios do oeste americano, financiados por arrecadação de fundos entre idosos vulneráveis.

E, claro, no discurso da CPAC, as propostas políticas de Trump ocuparam um tema menor entre as estratégias dominantes de autopiedade divagante e ameaças de retribuição.

Mas é possível reconhecer tudo isso e ainda ver que, mais uma vez, ele está oferecendo aos eleitores das primárias do Partido Republicano uma alternativa ao estilo mesquinho, às ideias obsoletas e à falsa seriedade fiscal do Partido Republicano pré-Trump –e agora, ao que parece, pós-Trump.

Uma verdadeira seriedade fiscal seria defensável com a inflação em alta. Mas a ideia de Haley de cortar benefícios para os americanos que se aposentarem em 2065 é amplamente irrelevante para essas considerações imediatas.

Enquanto isso, o renascimento da proposta de conta privada por Pence está irremediavelmente fora de contato com a realidade fiscal e política. Como observa Ramesh Ponnuru, da National Review, o plano de contas privadas da era Bush dependia do uso de fundos excedentes para suavizar a transição, mas, agora que os baby boomers [nascidos entre 1946 e 1964, pós Segunda Guerra Mundial] estão se aposentando, a janela para esse tipo de manobra se fechou.

Portanto, se Trump está sendo irresponsável e implausível para agradar a seus eleitores, Haley e Pence fazem algo ainda mais estranho e autodestrutivo: estão oferecendo ideias que são implausíveis e impopulares, cuja única virtude é que soam vagamente sérias se você não pensar muito nos detalhes. "Nem popular, nem de direita" pode muito bem ser o lema deles, que funciona como epitáfio para o tipo de política de direita que a campanha de Trump em 2016 derrubou.

A realidade é que existem apenas duas maneiras de lidar com os crescentes custos da Previdência Social e do Medicare e sua exclusão de outras prioridades nacionais. Uma é negociar acordos que forneçam cobertura bipartidária para a reforma –seja trabalhando à margem por meio do chamado Congresso Secreto, a negociação longe das manchetes que se tornou mais comum ultimamente, ou buscando o tipo de grande barganha que iludiu John Boehner e Barack Obama.

Mas como nenhum candidato republicano nas primárias fará hoje em dia campanha para fazer acordos, pequenos ou grandes, com Joe Biden ou Chuck Schumer, esse tipo de cenário é mais ou menos irrelevante para uma campanha presidencial. O único cenário que poderia ser relevante, para um comunicador hábil com algum senso de dever cívico, seria enquadrar uma reforma de direitos como uma espécie de transferência intergeracional, um reequilíbrio de contas em uma sociedade muito inclinada para gastos com idosos. Para usar o exemplo das grandes ideias de Trump, esse enquadramento pode tranquilizar os eleitores jovens e de meia-idade de que eles receberão benefícios ligeiramente menores na aposentadoria para que mais coisas possam ser feitas agora, como bônus de bebê para famílias jovens e imóveis mais baratos em cidades novas e brilhantes.

Mas esse é um salto de imaginação difícil para um certo tipo de político republicano, treinado nas ideias de que fazer promessas políticas reais a eleitores persuasíveis é o que democratas e socialistas fazem, e que o objetivo de cortar a Previdência Social e o Medicare é uma virtude fiscal por si só ou para liberar espaço para a alíquota de imposto mais baixa possível.

Considerando o que quer que se diga sobre a continuidade da vida política de Trump, ele nunca teve nenhum problema em fazer promessas atraentes aos eleitores (ou a investidores ou a autoridades municipais, nesse caso).

Portanto, a questão para seus possíveis rivais —e especialmente para Ron DeSantis, enquanto ele espera, observa e se prepara— é se eles podem aprender o suficiente com esse estilo para finalmente superá-lo, ou se oferecerão tão pouco aos eleitores que as promessas de Trump ainda parecerão doces.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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