Ross Douthat

Colunista do New York Times, é autor de 'To Change the Church: Pope Francis and the Future of Catholicism' e ex-editor na revista The Atlantic

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Por que Ron DeSantis deve disputar a indicação à Casa Branca agora

Não entrar na corrida é jogar fora posição atual, na esperança sem garantias de começar mais perto da nomeação em 2028

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The New York Times

O ressurgimento de Donald Trump nas pesquisas para as primárias republicanas de 2024, a evidência nada surpreendente de que seus apoiadores o defenderão durante um processo legal e a hesitação da pré-campanha de Ron DeSantis se combinaram para criar um burburinho de que talvez o governador da Flórida não devesse concorrer. Isso foi sussurrado por doadores nervosos, gritado pelos apoiadores de Trump e recentemente levantado por analistas de esquerda e de direita.

O progressista Bill Scher, em artigo no Washington Monthly, argumenta que Trump parece muito forte, que não há um eleitorado claro o suficiente para a promessa de DeSantis de um trumpismo sem o drama florido e que se ele concorrer e fracassar será mais provável que acabe "cruelmente humilhado", como ocorreu com os rivais de Trump em 2016, do que consolidado como o próximo na fila para 2028.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, discursa durante evento na cidade de North Charleston, no estado da Carolina do Sul
O governador da Flórida, Ron DeSantis, discursa durante evento na cidade de North Charleston, no estado da Carolina do Sul - Sean Rayford - 19.abr.23/Getty Images via AFP

Da direita, em texto para The Spectator, Daniel McCarthy canaliza Maquiavel para argumentar que, embora DeSantis provavelmente vá concorrer, seria mais sensato escolher um caminho mais obstinado e de longo prazo –enfatizando a "virtù" em vez de perseguir a Fortuna, para usar a linguagem do filósofo.

Em 2024, Trump pode envenenar as perspectivas de qualquer candidato do Partido Republicano que possa derrotá-lo, enquanto o presidente Joe Biden pode ser um incumbente relativamente potente. Mas se o governador da Flórida continuar a construir um histórico de conquistas conservadoras em seu estado natal, "2028 ofereceria um tiro certeiro a um DeSantis bem preparado".

Acho que ambos estão errados, e se DeSantis tem ambições presidenciais ele simplesmente tem que concorrer agora, apesar de todos os obstáculos que os analistas identificam. Meu raciocínio depende tanto da "Fortuna" que McCarthy invoca quanto de um argumento que o artigo de Scher indica ao mesmo tempo em que rejeita: a ideia de que os candidatos presidenciais têm maior probabilidade de perder seu ímpeto –como Chris Christie quando deixou de concorrer em 2012 e Mario Cuomo durante toda a sua carreira– do que de concorrer cedo demais e sofrer uma rejeição que acabe com sua carreira.

É verdade que a sorte nem sempre favorece os ousados. (Como observa McCarthy, essa frase se origina na "Eneida" de Virgílio, em que é proferida por um chefe guerreiro italiano pouco antes de ser morto.) Mas a chave para o argumento de não perder o momento é que, quando se trata de algo tão difícil quanto chegar à Presidência, geralmente a fortuna não favorece ninguém. Todo aspirante a presidente, independentemente de suas virtudes como político, é inevitavelmente refém dos fatos, dependendo de sincronicidades inusitadas para abrir caminho até a Casa Branca.

Muitas carreiras políticas de sucesso nunca têm esse caminho aberto. Uma minoria o abre da maneira mais estreita, na qual você pode enfiar linhas no buraco de agulhas e tirar seis nos dados até a Casa Branca. Apenas um pequeno número é confrontado com uma situação em que parece ter uma grande chance, não apenas uma possibilidade remota, antes mesmo de anunciar sua candidatura.

É onde DeSantis está agora. O site de apostas políticas PredictIt situa suas chances de ser presidente em 2024, expressas como preço de ação, em US$ 0,23, ligeiramente abaixo de Trump e bem abaixo de Biden, mas muito acima de todos os outros. Essas chances, representando uma probabilidade aproximada de 20% de chegar à Casa Branca, parecem-me corretas. Se você analisar as pesquisas nacionais desde o indiciamento de Trump, o apoio a DeSantis caiu apenas ligeiramente; se você olhar as pesquisas dos primeiros estados que receberão as primárias, ele está claramente dentro do raio de ataque.

Trump tem um piso de apoio, mas também muitos eleitores pouco ansiosos para apoiá-lo (sua acusação pode ter solidificado o apoio a ele, mas não fez os números dispararem), e DeSantis ainda nem começou a campanha. Ele está numa posição muito melhor que a de qualquer um dos rivais de Trump em 2016, e é possível argumentar que ele começa mais perto da indicação que qualquer republicano em 2008 ou 2012.

Não disputar agora é jogar fora essa proximidade, na esperança de começar ainda mais perto daqui a quatro anos. Mas a posição atual de DeSantis é em si uma criação de uma sorte política incomum. Sim, ele tem sido habilidoso, mas essa habilidade não o teria trazido até aqui sem eventos fora do controle de qualquer um –a pandemia de Covid-19, a revolução "woke" nas instituições progressistas, o racha entre Mike Pence e Trump depois de 6 de janeiro de 2021, a força da economia da Flórida e muito mais.

Obviamente, é possível imaginar um futuro em que a sorte continue a favorecer DeSantis, e ele entre em 2028 como o favorito inconteste. Mas o tempo e o acaso são cruéis, e há muitos outros caminhos em que os eventos conspiram contra, e ele pode acordar em 2027 olhando para probabilidades de 5% da PredictIt.

Se ele tivesse 5% de chance agora –se Trump estivesse com vantagem de 75% a 20% em New Hampshire e Iowa em vez de cerca de 40% a 30%, ou se os índices de aprovação de Biden estivessem em 70% em vez de 43%–, eu compraria o argumento a favor de esperar.

Mas DeSantis hoje é um homem já agraciado pela Fortuna. E mesmo que a deusa nem sempre favoreça a ousadia, ela tem uma visão severa sobre aqueles a quem o favor é oferecido e no fim recusam o presente.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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