Ross Douthat

Colunista do New York Times, é autor de 'To Change the Church: Pope Francis and the Future of Catholicism' e ex-editor na revista The Atlantic

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Com DeSantis estagnado nas pesquisas, que tal Tim Scott nas eleições dos EUA?

Republicano afro-americano de aparência jovem, senador tem o perfil de um candidato promissor nas próximas eleições

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The New York Times

Argumentei na semana passada que, apesar de sua estagnação nas pesquisas, para os republicanos (e não republicanos) que prefeririam que Donald Trump não fosse reindicado para disputar a Presidência, o governador Ron DeSantis, da Flórida, continua sendo praticamente a única alternativa possível.

Naturalmente, a semana que se seguiu foi a pior para DeSantis, começando com um expurgo da equipe de campanha que apresentava uma subtrama nazista e terminando com o candidato controlando os danos após sua sugestão de que Robert F. Kennedy Jr. poderia comandar a Administração de Alimentos e Drogas (FDA, na sigla em inglês) em seu eventual governo.

A pior notícia para DeSantis, porém, foram novas pesquisas de Iowa. Os números mostraram o senador republicano Tim Scott, da Carolina do Sul, aproximando-se dele, com cerca de 10% de apoio, contra aproximadamente 15% do governador.

O senador Tim Scott, candidato presidencial republicano, fala com repórteres em evento na Prefeitura em Ankeny, no estado de Iowa
O senador Tim Scott, candidato presidencial republicano, fala com repórteres em evento na Prefeitura em Ankeny, no estado de Iowa - Jordan Gale 27.jul.23/The New York Times

Um dos meus argumentos era que nenhum outro republicano, incluindo Scott, havia demonstrado a menor capacidade de conquistar o apoio do qual DeSantis desfruta. Mas se o governador entrar numa batalha contínua pelo segundo lugar provavelmente estará derrotado, e Trump terá caminho livre.

A menos que essa batalha resulte num colapso de DeSantis e na possibilidade de outra pessoa enfrentar o favorito. Afinal, por que DeSantis deveria ser a única esperança fora Trump só porque ele parecia potente no início? Por que não, bem... Tim Scott?

Ele tem um trunfo óbvio que falta a DeSantis: um bom ânimo fundamental que os americanos preferem em seus presidentes, além do perfil de um candidato potente nas eleições gerais, um afro-americano e um republicano genérico de aparência jovem para enfrentar a senescência de Joe Biden.

Por fim, digamos o seguinte: Scott está no ponto ideal para a classe doadora republicana, um conservador no estilo de George W. Bush, intocado pelos memes agressivos e radicais do populismo da era Trump.

Mas todos esses pontos fortes estão conectados aos pontos fracos da campanha principal. Para vencer Trump, é preciso que cerca de metade do eleitorado republicano vote em você (dependendo dos detalhes da alocação de delegados). E não há indício de que metade dos eleitores republicanos nas primárias queira voltar ao conservadorismo pré-2016, uma alternativa republicana genérica em detrimento do estilo Trump de esmagar seus inimigos; a positividade e o otimismo em vez de um estilo mais pessimista.

A razão pela qual DeSantis parecia ser a maior esperança contra Trump era o histórico e a personalidade que pareciam atender aos republicanos atuais. Seu sucesso foi construído após a eleição de Trump, sobre questões que importam para os eleitores republicanos de hoje, não para os de 30 anos atrás.

Ele poderia alegar ser melhor no estilo pugilístico do que Trump —com mais batalhas substanciais para mostrar e mais sucesso político. Em certas questões, especialmente na política da Covid, ele poderia afirmar que representa as opiniões dos apoiadores de Trump melhor que o próprio Trump. E com a guerra de DeSantis contra a Disney, ninguém o confundiria com uma criatura da classe dos doadores.

Tudo isso criou uma estratégia plausível para atrair alguns eleitores de Trump para o lado de DeSantis, apresentando-se como o cumpridor da promessa mais competente, mais politicamente capaz, mais ousado, mais jovem e mais adequado à época atual. Essa estratégia estava funcionando há cinco meses e agora está falhando. Mas seu fracasso não revela um tom alternativo, e Scott não parece ter um.

De fato, como aponta Jonathan Last, do site de política The Bulwark, Scott não está realmente se colocando como uma alternativa a Trump; ele está "se posicionando como um companheiro de chapa atraente para Trump, caso o Todo-Poderoso não interfira" e remova o ex-presidente da corrida.

Portanto, superar DeSantis e se tornar o principal adversário de Trump pode ser o que Last descreve como "sucesso catastrófico". Poderia levar a uma estranha campanha de bode expiatório, na qual Scott se contenta com um quarto do eleitorado primário que hoje o apoia na votação frente a frente contra Trump.

Ou poderia pressioná-lo a apresentar uma proposta para ser o sucessor de Trump. Mas é difícil ver o que tornaria esse discurso mais forte do que aquele que não está funcionando atualmente para DeSantis.

Afinal, o governador tem um histórico substancial de vitórias políticas; Scott tem bem menos. DeSantis teve sucesso num ambiente político contestado; Scott é um senador seguro.

DeSantis foi indiscutivelmente um republicano tão importante quanto Trump durante os meses cruciais da era da Covid; Scott foi insignificante. DeSantis tem lutado para expandir seu discurso político além da Covid e anti-wokeness; Scott nem tem esse tipo de base para se erguer.

Para DeSantis, derrotar Trump faria sentido à luz do cenário republicano como o conhecemos. Para Scott, vencer exigiria uma reavaliação total do que pensamos saber sobre os republicanos hoje.

Tais reavaliações acontecem, ou então o próprio Trump não teria sido presidente. O sucesso cria condições inesperadas; se Scott ultrapassar DeSantis, terá a chance de aproveitá-las ao máximo.

Por enquanto, porém, sua ascensão nas pesquisas parece uma vitória modesta para sua própria campanha e um grande êxito para a de Trump.

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