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Trump elabora plano para aumentar poder presidencial caso vença eleição nos EUA

Ação remodelaria estrutura do Poder Executivo para concentrar autoridade maior no presidente

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Jonathan Swan Charlie Savage Maggie Haberman
The New York Times

O ex-presidente Donald Trump e aliados estão planejando uma ampla expansão do poder presidencial sobre a máquina do governo dos Estados Unidos se os eleitores os devolverem à Casa Branca em 2025. A ação remodelaria a estrutura do Poder Executivo para concentrar autoridade maior no presidente.

Os planos de Trump para centralizar o poder vão muito além das recentes observações de que ordenaria uma investigação sobre seu rival político, o presidente Joe Biden, sinalizando a intenção de acabar com a norma pós-Watergate de independência do Departamento de Justiça.

Trump e seus associados têm um objetivo mais amplo: alterar o equilíbrio de poder, aumentando a autoridade do presidente sobre todas as partes do governo federal que agora operam, por lei ou tradição, com alguma medida de independência da interferência política da Casa Branca.

O ex-presidente Donald Trump chega de avião a Newark, em Nova Jersey, nos Estados Unidos
O ex-presidente Donald Trump chega de avião a Newark, em Nova Jersey, nos Estados Unidos - Doug Mills - 13.jun.23/The New York Times

Trump pretende colocar sob controle presidencial direto órgãos hoje independentes. Isso afetaria a Comissão Federal de Comunicações, que elabora e aplica regras para empresas de televisão e de internet, além da Comissão Federal de Comércio, órgão que impõe normas antitruste e de proteção ao consumidor.

Ele quer reviver a prática de "apreender" fundos, recusando-se a gastar dinheiro que o Congresso destinou a programas dos quais não gosta —tática que os legisladores proibiram no governo de Richard Nixon.

Ele pretende ainda retirar as proteções ao emprego de milhares de funcionários públicos de carreira, tornando mais fácil substituí-los se forem considerados obstáculos à sua agenda. E planeja vasculhar as agências de inteligência, o Departamento de Estado e as burocracias de defesa para remover funcionários que ele chamou de "a classe política doente que odeia o nosso país".

"O plano do presidente deve ser reorientar fundamentalmente o governo federal de uma forma que não foi feita desde o New Deal de Roosevelt", disse John McEntee, ex-chefe de pessoal da Casa Branca que em 2020 iniciou a tentativa sistemática feita por Trump de varrer funcionários considerados desleais.

"Nosso Poder Executivo atual foi concebido por progressistas com o propósito de promulgar políticas progressistas. Não há como fazer a estrutura existente funcionar de maneira conservadora. Não basta acertar o pessoal. O que é necessário é uma revisão completa do sistema", acrescentou McEntee.

Trump e seus assessores não escondem suas intenções —proclamando-as em comícios e em seu site de campanha. Ele ainda as descreve em artigos e as discute abertamente.

"O que estamos tentando fazer é identificar os bolsões de independência e cercá-los", disse Russell Vought, que dirigiu o Escritório de Administração e Orçamento na Casa Branca de Trump e agora comanda o Centro para Renovação da América, uma organização política.

As duas forças motrizes dessa iniciativa para remodelar o Poder Executivo são a própria política de campanha de Trump e uma rede financiada por grupos conservadores, formados por ex-autoridades do governo Trump que provavelmente desempenhariam funções em um novo mandato.

Vought e McEntee estão envolvidos no Projeto 2025, uma operação de transição presidencial de US$ 22 milhões (R$ 105 milhões) que está preparando políticas, listas de pessoal e planos de transição para recomendar a qualquer republicano que possa vencer a eleição de 2024.

O projeto de transição, cuja escala não tem precedentes na política conservadora, é liderado pela Fundação Heritage, grupo de estudos que moldou o pessoal e as políticas dos governos republicanos desde a Presidência Reagan. Esse trabalho se encaixa com os planos expostos no site da campanha de Trump de expandir o poder presidencial, elaborados principalmente por dois conselheiros do republicano, Vincent Haley e Ross Worthington, com contribuições de outros assessores, como Stephen Miller, o arquiteto da dura agenda de imigração do ex-presidente.

Alguns elementos dos planos foram lançados quando Trump estava no cargo, mas foram impedidos por preocupações internas de que seriam impraticáveis e poderiam levar a contratempos. E, para alguns veteranos da turbulenta Casa Branca de Trump que questionaram sua aptidão para a liderança, a perspectiva de centralizar um poder ainda maior sobre o governo parecia uma receita para o caos.

"Seria caótico", disse John Kelly, o segundo chefe de gabinete da Casa Branca de Trump. "Porque ele estaria continuamente tentando exceder sua autoridade, e os bajuladores concordariam com isso. Seria um tiroteio ininterrupto com o Congresso e os tribunais."

Donald Trump na varanda da Casa Branca, em Washington, quando presidente dos Estados Unidos
Donald Trump na varanda da Casa Branca, em Washington, quando presidente dos Estados Unidos - Anna Moneymaker - 5.out.20/The New York Times

O poder pessoal sempre foi uma força motriz de Trump. Ele costuma fazer gestos mais simplistas, como em 2019, quando declarou a uma multidão que o aplaudia: "Tenho o Artigo 2, em que tenho o direito de fazer o que quiser como presidente", referência à sua alegada capacidade de demitir Robert Mueller, o conselheiro especial no inquérito sobre a Rússia, salientando sua hostilidade contra agências policiais e de inteligência. Ele também tentou fazer com que um subordinado expulsasse Mueller, mas foi desafiado.

No início da Presidência de Trump, seu então estrategista-chefe, Steve Bannon, prometeu uma "desconstrução do estado administrativo". Mas Trump instalou pessoas em outras funções importantes que acabaram dizendo a ele que ideias mais radicais eram impraticáveis ou ilegais. No último ano de sua Presidência, ele disse a assessores que estava farto de ser tolhido por subordinados.

Agora, Trump apresenta uma visão muito mais ampla de poder em um eventual segundo mandato. E, em contraste com sua transição desorganizada, após a surpreendente vitória em 2016, ele agora se beneficia de uma infraestrutura de formulação de políticas bem financiada. Ela é liderada por ex-funcionários que não romperam com ele após as tentativas de subverter a eleição de 2020 e do ataque de 6 de Janeiro.

Uma ideia que as pessoas em torno de Trump desenvolveram é a de colocar agências independentes sob seu controle. O Congresso criou essas agências tecnocráticas especializadas dentro do Poder Executivo e deu a elas parte de seu poder de fazer regras para a sociedade. Mas fez isso sob a condição de que não estava simplesmente entregando esse poder aos presidentes para agirem como reis –colocando em seu comando comissários que os presidentes indicam, mas geralmente não podem demitir até o fim do mandato, enquanto usava o controle de seus orçamentos para mantê-los parcialmente submetidos aos legisladores. (Os atos da agência também estão sujeitos a revisão judicial.)

Os presidentes de ambos os partidos se irritaram com a independência das agências. O presidente Franklin D. Roosevelt, cujo New Deal criou muitas delas, endossou uma proposta em 1937 para colocar todas em departamentos do gabinete sob seu controle, mas o Congresso não a aprovou.

Os presidentes posteriores procuraram impor maior controle sobre as entidades não independentes criadas pelo Congresso, como a Agência de Proteção Ambiental, dirigida por um administrador que o presidente pode remover à vontade. Por exemplo, o presidente Ronald Reagan emitiu ordens executivas exigindo que agências não independentes apresentassem propostas de regulamentação para revisão da Casa Branca. Mas, em geral, os presidentes deixaram as agências independentes em paz.

Os aliados de Trump estão se preparando para mudar isso, redigindo uma ordem executiva que exige que agências independentes submetam ações à Casa Branca para revisão. Trump endossou a ideia em seu site de campanha, prometendo colocá-las "sob a autoridade presidencial".

Tal ordem foi redigida no primeiro mandato de Trump —e abençoada pelo Departamento de Justiça—, mas nunca emitida, devido a preocupações. Algumas delas eram sobre como fazer revisões para agências chefiadas por vários comissários e sujeitas a leis de procedimentos administrativos e reuniões abertas.

Trump e aliados também querem transformar o serviço público. Isso vale para funcionários do governo que devem ser profissionais apartidários e especialistas, protegidos contra demissões políticas.

O ex-presidente dos EUA e candidato à Presidência em 2024, Donald Trump, na conferência Turning Point Action USA, em West Palm Beach, na Flórida
O ex-presidente dos EUA e candidato à Presidência em 2024, Donald Trump, na conferência Turning Point Action USA, em West Palm Beach, na Flórida - Giorgio Viera - 15.jul.23/ AFP

Trump vê o serviço público como um antro de defensores do "estado profundo" que tentaram frustrá-lo a todo momento, inclusive levantando objeções legais ou pragmáticas às suas políticas de imigração. No final de seu mandato, assessores redigiram uma ordem executiva que removeu as proteções ao emprego de funcionários de carreira cujos cargos eram considerados vinculados à formulação de políticas.

Ele assinou a ordem, que ficou conhecida como Anexo F, perto do final de sua Presidência, mas Biden a rescindiu. O ex-presidente prometeu restabelecê-la imediatamente em um segundo mandato.

Os críticos dizem que ele poderia usá-la para um expurgo partidário. Mas James Sherk, ex-funcionário do governo Trump que teve a ideia e agora trabalha no Instituto de Políticas América Primeiro —um grupo de pensadores recheado de ex-funcionários de Trump—, argumentou que a ordem só seria usada contra pessoas com baixo desempenho ou que impedissem ativamente a agenda do presidente eleito.

"O Anexo F proíbe expressamente a contratação ou demissão com base na lealdade política", disse Sherk. "Os funcionários do Anexo F manteriam seus empregos se servissem de forma eficaz e imparcial."

O próprio Trump caracterizou suas intenções de maneira bastante diferente. Ele promete em seu site de campanha "encontrar e remover os radicais que se infiltraram no Departamento Federal de Educação" e listou uma ladainha de alvos em um comício realizado no mês passado.

"Vamos demolir o Estado profundo", disse Trump no comício em Michigan. "Vamos expulsar os belicistas do nosso governo. Vamos expulsar os globalistas. Vamos expulsar os comunistas, marxistas e fascistas. E vamos jogar fora a classe política doente que odeia nosso país."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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