Sergio Firpo

Professor de economia e coordenador do Centro de Ciência de Dados do Insper

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Descrição de chapéu mercado de trabalho

Investimentos públicos na educação profissional deveriam estar na agenda dos candidatos

Estados podem aproveitar reformulação do ensino médio para readequar oferta da educação profissional e tecnológica

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O novo ensino médio está sendo implementado em diversas redes de ensino e escolas do país. São cinco possibilidades de trilhas que os alunos podem escolher: linguagem, matemática, ciências da natureza, ciências humanas e formação técnica e profissional.

A mudança oferece uma possibilidade única para reorganizarmos a oferta no ensino médio. Hoje, para cada 10 formados no ensino médio regular, apenas 1 vem do ensino médio técnico. Isso ocorre mesmo havendo excesso de demanda por essa modalidade, que se reflete em concursos de admissão ou filas para matrícula. Com as trilhas, poderemos acoplar a formação técnica ao ensino regular, sem a necessidade de termos escolas específicas para esse fim, aumentando a oferta.

De acordo com os dados do IBGE, entre os jovens de 15 a 17 anos, menos de 10% estão fora dos bancos escolares. Já entre os jovens com 18 a 24 anos, por volta de 60% estão fora do sistema de ensino. Dos 40% que estão matriculados, metade está no superior, enquanto a outra metade ainda está terminando o ensino médio ou em cursos pré-vestibulares. Dos que já saíram da escola nessa faixa etária, um pouco mais de 40% estão desocupados ou fora da força de trabalho.

Alunos durante aula do curso de design de mídias digitais no Senai, em São Paulo - Eduardo Knapp - 10.jun.2021/Folhapress

Há, portanto, um estreito funil no processo de escolarização do jovem, sem que haja adequada absorção pelo mercado de trabalho daqueles que não continuam com sua formação. Nessa transição entre adolescência e a vida adulta explicita-se o dilema entre continuar com sua formação e ingressar no mercado de trabalho precoce e desfavoravelmente. Na maior parte das vezes, contudo, não há opção. Restrito em crédito, só resta ao jovem ingressar no mercado de trabalho.

A entrada no mercado de trabalho ao fim do ensino médio deveria ser o início de um período rico em experiencias formativas. Contudo, temos falhado em oferecer para os jovens a possibilidade de fazer escolhas que não são definitivas ao fim do ensino médio. Eles entram no mercado de trabalho incapazes de executar tarefas que não sejam rotineiras. Acabam tendo dificuldade de ingressar no mercado formal e oscilam entre o desemprego, o trabalho por conta própria e o emprego sem vínculo formal. E dificilmente voltam ao sistema de ensino para continuar sua formação.

O ensino médio não deveria ser o fim do processo de escolarização, nem mesmo entre os egressos do ensino técnico e profissional, que são aqueles com competências que mais os capacitam para o ingresso imediato e qualificado no mercado de trabalho. Uma maior proximidade entre empresas e escolas poderia fazer com que esse fluxo de dupla mão acontecesse ao longo da vida laboral, mas em especial, nas suas etapas iniciais. E deveríamos permitir que créditos cursados no ensino médio técnico pudessem ser aproveitados no ensino superior.

Mas nada disso acontece hoje. Em nosso país de bacharéis, a educação profissional continua a ser vista com embaraçoso desdém pelos formuladores de políticas educacionais e oportunisticamente por aqueles que, por serem financiados com contribuições parafiscais, têm grande poder de mercado para deixar de fora potenciais entrantes nesse mercado.

Aproveitar a oportunidade trazida com o novo ensino médio para fazer uma expansão estratégica da oferta da educação profissional deveria ser prioridade nas campanhas dos candidatos ao executivo estadual. Parcerias entre os setores público e privado e dentro do setor público deveriam ser formadas para que essa expansão da oferta possa acontecer. A baixa produtividade da nossa força de trabalho tem várias raízes, mas uma delas é, sem dúvida, a inadequada formação de nossos jovens para sua inserção no mundo do trabalho.

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