Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Descrição de chapéu América Latina

Juan Grabois, novidade e zebra à esquerda, complica peronistas na Argentina

Jovem sobe nas pesquisas e deve se tornar obstáculo inesperado para Sergio Massa nas primárias

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Justo quando Javier Milei começa a dar mostras de que está desinflando, outra zebra aparece no caminho da fervilhante campanha eleitoral na Argentina. Desta vez, não se trata de um antiperonista, mas de um peronista que reivindica ser o verdadeiro herdeiro dos ensinamentos de Juan Domingo Perón (1895-1974).

Jovem e próximo do papa Francisco, o católico Juan Grabois, 40, prega que os ideais mais caros ao peronismo estão sendo insultados, principalmente seu foco na justiça social.

homem branco de cabelos e barba castanho escuros gesticula diante de parede vermelha
O político argentino Juan Grabois durante conversa em Lisboa - Ana Mendes - mar.23/Wikimedia Commons

Ele também vê os políticos atuais pregarem grande respeito ao pagamento de uma dívida com o FMI (Fundo Monetário Internacional) que, para ele, não deveria ser uma prioridade diante do tamanho da crise econômica no país. Defende o fim do peso, não para dolarizar a economia, como defende Milei, mas para criar outras unidades de valor de troca, como a "moeda comum" tantas vezes debatida entre Brasil e Argentina.

Grabois poderia ser considerado um candidato nanico até outro dia. Mas, apesar de a máquina do Estado peronista ter sido colocada em marcha para eleger o ministro da Economia, Sergio Massa, ambos terão de se enfrentar nas primárias que ocorrem no próximo dia 13 de agosto. E o que parecia uma vitória simples para o expansivo e ambicioso Massa já começa a virar um problema.

O caso é que Massa é uma referência do peronismo de centro, até de direita. Não é a primeira opção de Cristina Kirchner, que costuma escolher seus ungidos como fazia o PRI no México, com o "dedazo" — isto é, com o presidente em exercício apenas apontando o dedo àquele que desejava que fosse o sucessor. Cristina preferia um de seus fiéis seguidores do La Cámpora, como Wado de Pedro ou Axel Kicillof.

Porém, vendo a disputa tomar o caminho de candidatos mais à direita, a ex-presidente escolheu Massa, um peronista dito moderado, defensor da linha dura contra o crime, pró-ajustes e pró-Mercosul. O cálculo da cúpula do Unión por la Patria, novo nome da coligação governista, era a suposição de que essa fórmula roubaria votos da direita democrática (Horacio Rodríguez Larreta e Patricia Bullrich) e até do ultradireitista Milei.

Só que a escolha incomodou os mais ardentes kirchneristas, em geral mais à esquerda do peronismo tradicional. O crescimento de Grabois nas pesquisas deve-se a essa revolta da esquerda peronista.

O registro dessa sutil mudança vem surgindo em sondagens, como as de Jorge Giacobbe, do instituto Giacobbe & Associados. Os números mais recentes mostram que Grabois tem 9,8% das preferências, à frente de Larreta, atual chefe de governo da cidade de Buenos Aires e o preferido de Macri, que tem 7,55%. Bullrich, com quem Larreta disputa as primárias da oposição, aparece com 25,7%, e Milei, 22%. Massa tem 18%.

Conta a favor de Grabois o fato de ele ser uma novidade. Nascido em uma família endinheirada de Palermo, ele passou a se preocupar com os mais pobres desde cedo, liderou o movimento de trabalhadores excluídos, atua em favelas, comanda piqueteiros e uma rede de economia popular que distribui comida.

É um representante da geração de 2001, que despontou na grave crise econômica no país. "Chamaram-nos de geração destruída, mas na verdade somos a geração que pode dar sentido ao século 21", já disse.

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