Sylvia Colombo

Historiadora e jornalista especializada em América Latina, foi correspondente da Folha em Londres e em Buenos Aires, onde vive.

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Sylvia Colombo
Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Passado ensina que América Latina deveria condenar ações de Putin

Marcos da história da região, como acordo com as Farc na Colômbia, mostram dificuldade para selar negociações de paz

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O atentado a uma pizzaria em Kramatorsk, na Ucrânia, no último dia 27, que matou a escritora Victoria Amelina e outras dez pessoas, fez o presidente da Colômbia, Gustavo Petro, abandonar a posição de certa neutralidade no conflito e atacar duramente a Rússia.

Isso porque, entre os 56 feridos estavam dois colombianos: o escritor Hector Abad Faciolince e Sergio Jaramillo, aquele que foi chefe da Comissão de Paz que negociou o fim do conflito entre o Estado colombiano e as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Socorristas e vítimas ao redor de pizzaria bombardeada por míssil na região ucraniana de Kramatorsk
Socorristas e vítimas ao redor de pizzaria bombardeada por míssil na região ucraniana de Kramatorsk - Oleksandr Ratuchniak - 27.jun.23/Reuters

Em conversa com a Folha em Bogotá, Jaramillo afirmou que a América Latina não pode ficar neutra na Guerra da Ucrânia porque conhece a violência brutal da qual pode ser vítima uma população.

"Se sei algo, é sobre negociações de paz. Fiz isso na Colômbia e agora me dedico a assessorar outras negociações difíceis. Essa guerra não termina enquanto [Vladimir] Putin souber que tem aliados pelo mundo."

No conflito colombiano com as Farc, morreram 500 mil pessoas entre 1964 e 2016, sem contar as vítimas dos embates entre Forças Armadas e outras guerrilhas, além de paramilitares e cartéis de narcotráfico. Naquele período, mais de 1 milhão de colombianos emigraram.

Um dos atentados mais conhecidos, por ter ocorrido em Bogotá e não no interior, onde eram mais comuns, foi o do luxuoso clube El Nogal, numa das áreas nobres da capital, em 2003, deixando 36 mortos após as Farc levarem um caminhão com mais de 200 kg de explosivos até o interior do clube. Além das vítimas, o ataque deixou a sensação de que a guerra estava já fora do controle e muito perto dos centros de poder.

"El Nogal é um exemplo de quantas insurgências recorreram ao terror na América Latina. Também tivemos os montoneros colocando suas bombas nos anos 1970 na Argentina e os atentados no Chile nos anos 1980. É por isso que a América Latina, se possui valores e coragem, deveria estar protestando contra a invasão", diz Jaramillo.

A escritora ucraniana morta no atentado à pizzaria em junho passado havia abandonado a ficção para registrar crimes de guerra e também ajudava familiares de vítimas e animais abandonados nas cidades desertas pela fuga desesperada de seus moradores.

No início do ano, Victoria Amelina esteve no Hay Festival, de Cartagena, onde ficou amiga de vários autores latino-americanos e fez o pedido de que ajudassem seu país. Foi lá que Jaramillo a conheceu e lhe contou de sua campanha "Aguanta Ucrânia", da qual participam, por meio de vídeos, vários autores e artistas, incluindo os brasileiros Luiz e Lilia Schwarcz, Michel Laub e Milton Hatoum.

A escritora chilena Isabel Allende é outra que participa e faz um relato sobre os anos da ditadura chilena e o horror de viver com o peso das bombas e da repressão no cotidiano.

Com a voz embargada e lágrimas nos olhos, Jaramillo pede que o Brasil condene abertamente a Putin e a invasão russa da Ucrânia.

"O que o Brasil e outros países da nossa região estão fazendo é dar oxigênio a Putin. Essa posição de países da América Latina convence Putin de que tem pelo menos um bloco de países amigos e ratifica suas teorias delirantes nas quais vê o Ocidente como o problema."

"Isso alarga a guerra e faz com que a paz seja impossível."

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