Tabata Amaral

Cientista política, astrofísica e deputada federal por São Paulo. Formada em Harvard, criou o Mapa Educação e é cofundadora do Movimento Acredito.

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Tristes trópicos

Brasil foi tirado do palco do debate sério e levado de forma humilhante para a coxia da discussão global sobre o ambiente

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No mais autêntico estilo de laçador de crise e seguindo sua maneira predileta de governar, Jair Bolsonaro mais uma vez atirou no que viu, mas, dessa vez, colheu mais do que previu.

Negou a crise ambiental e ressuscitou as teses conspiratórias do mundo contra nós. Talvez tenha feito isso para agradar os defensores de um nacionalismo primitivo que teme a transformação da Amazônia em patrimônio do mundo. Aqui, quem manda sou eu, bradou para plateias incrédulas, dentro e fora do Brasil. 

Em suas falas sobre a Amazônia, subiu o tom contra os verdes “ignorantes” e os ambientalistas alarmistas. Demitiu o diretor do Inpe e, de quebra, chamou de incendiárias as ONGs “entreguistas”. Tudo parecia fazer parte de um script para convertidos. Mas algo fugiu ao controle.

A comunidade global reagiu. A sociedade brasileira foi às ruas. Depois do embate verbal agressivo entre Bolsonaro e o presidente francês Emmanuel Macron, vimos, aliviados, o primeiro-ministro inglês e os líderes da Alemanha e Espanha adotarem a defesa da manutenção do acordo UE-Mercosul, sendo contra seu uso como punição pelo aumento do desmatamento. 

Mas permanecem ameaças de retaliação nos acordos comerciais contra o agronegócio brasileiro, especialmente carne e soja, grão que representa R$ 5 bilhões/ano em compras da União Europeia. E como noticiou esta Folha, além da paralisação do Fundo Amazônia, outros convênios podem ser suspensos no âmbito de estados e municípios.

Brotou muito fácil o discurso da ingerência externa em problemas brasileiros. Mas a realidade a encarar é de que o Brasil foi tirado do palco do debate sério e levado de forma humilhante para a coxia da discussão global sobre o meio ambiente, quando deveria ser protagonista de primeira linha. 

O nosso país tem uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, tanto pelo nível tecnológico quanto pelos índices menores de emissão de gases, o que nos permitiria ser uma liderança entre as inovadoras economias de baixo carbono, inclusive pelo esforço do setor industrial brasileiro em desenvolver ações voluntárias de mitigação climática. São vantagens inegáveis, que agora desperdiçamos como nação. Bolsonaro incentivou a dicotomia burra entre ambiente e desenvolvimento e acirrou desentendimentos desde a ameaça de abandono do Acordo de Paris sobre o clima. 

O governo teve reações tardias, como o decreto que autorizou o emprego das Forças Armadas no combate aos incêndios na Amazônia. O que vimos na semana foi a infeliz junção de verborragia extrema com paralisia inicial, combinação explosiva que se sucedeu ao desmonte das estruturas de controle ambiental.

Coletivos parlamentares de diferentes matizes políticos já se movimentam para formular novas políticas para o meio ambiente e a exploração sustentável dos recursos naturais. Irei compor a Comissão Externa de Fiscalização e Controle do Meio Ambiente, que está sendo criada para que a Câmara possa exercer com maior rapidez e proximidade seu papel fiscalizador. 

Na discussão da reforma tributária, vou propor uma emenda e um projeto de lei para que o imposto sobre bens e serviços tenha alíquotas diferenciadas conforme a pegada de carbono do produto ou atividade. Também votarei contra a proposta que tramita na Câmara e que torna o licenciamento ambiental pro forma ao tirar da equação os impactos indiretos do empreendimento.

Já não nos resta tempo. Se julgamos difícil Ricardo Salles pedir desculpas e mudar o rumo do ministério, então sua saída se faz urgente e necessária. É o que espero, como cidadã e deputada.

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