O Pior da Semana

Escritora Tati Bernardi transforma em coluna as perguntas enviadas por leitores da Folha

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Síndicos mais nojentos que catarro

Vamos expor um homem vil cuja "ignorância agressiva merece ser ridicularizada"

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São Paulo

Janaina, minha querida. Você conquistou meu coração vingativo ao me pedir para falar mal do síndico do seu prédio. Se tem uma coisa que eu gosto é de expor gente desgraçada. E esse homem merece que essa crônica seja colada no elevador do prédio antigo, de muitos apartamentos por andar, na simpática cidade de Santos.

Uma vez uma psicanalista me perguntou se eu escrevia por belos impulsos literários ou para vomitar o ódio que me corroía as veias. Eu até hoje não entendi como ela pôde separar uma coisa da outra. Existe escritor cuja motivação é bondade, altruísmo e ternura? Se existe, desconheço qualquer sucesso.

Sim, vamos expor o síndico do seu prédio. Esse homem vil, nojento, cuja "ignorância agressiva merece ser ridicularizada", como Janaina, que é uma escritora prontinha (será que você sabe disso?) me contou por email.

Este homem, que nas palavras da impiedosa e talentosa leitora, é "grosseiro, bolsonarista e arrogante", tem por costume postar no WhatsApp dos moradores do prédio alguns chichês religiosos, fotos de festas "bem caídas", nas quais ele trabalha como funcionário de buffet ou DJ (que porcarias será que ele escolhe para animar a festa?) e fofocas maldizendo a vizinhança, sobretudo os mais idosos.

O prédio de Janaina, por motivos de encanamento antigo e descuidado, sofreu um vazamento recente. A porta do apartamento de nossa missivista ficou "mofada e podre" e ela foi pedir um alento ao síndico nojento. O homem, aparentemente regozijante ao ver que aquela senhora, já cansada de um dia duro de trabalho mal remunerado, agora tinha mais esse problema para lamentar, e ficava repetindo, como um bom torturador mental faria: "Mas isso é dentro da sua casa ou fora? Porta de dentro ou porta de fora?". Porta é porta, ela repetia. E ele, sorrindo, felicíssimo em ser repugnante: "Demora uns seis meses para resolver, se é que resolve".

fotografia colorida mostra canal dois, em Santos
Canal 2, na av. Bernardino de Campos, em Santos, no litoral paulista - Eduardo Knapp/Folhapress

Mas para a mocinha no elevador, com cara e jeito de bolsonarista, o pilantra respondia sempre, fosse a pergunta mais imbecil, com semblante dadivoso e entregue. Ainda é etarista o miserável!

E nesse dia Janaina não se aguentou. Exigiu que todos fossem bem tratados. Que essa baixaria não poderia continuar. E esse senhor respondeu, como se entrando em seu jatinho particular, rumo aos fiordes franceses: "O final do meu apartamento é quatro, o seu não é!"

Janaina ficou sem entender nadinha, até que ele explicou, triunfante, e até mesmo um tantinho humilde, por não ter sido esnobe anteriormente: "É o que vale mais, é o maior!".

Janaina então me pede, pois quer que o Brasil todo saiba: "Conta aí na sua coluna, conta que o apartamento dele tem dois metros a mais que o meu, e nem é dele, é da mãe dele!". Está contado, Janaina!

Ainda gostaria, se me resta tempo depois de dedicar boa parte desse espaço para achincalhar o síndico do prédio da santista Janaina, "com apartamento maior porque é final "quatro", de me compadecer de Felipe, o rapaz que se apaixonou pela terapeuta lacaniana, contou para ela, contou para ela todos os dias por três anos, e teve seu número bloqueado pela profissional.

Eu não sei o que você fez, Felipe, e o flerte não desejado será sempre pior quando partir de um "hétero top branco". Mas eu, semanalmente, me declaro a meu analista winnicottiano, e comemoro o fato de que ele ainda não me abandonou. Mas sei que meu dia chegará. Ninguém merece aturar um neurótico xavequeiro.

E por último, toda a minha solidariedade a Ingrid, leitora querida que achou que estava tendo um mal-estar místico, pois acordou toda arrepiada às 3h33 da manhã, ajoelhou, agradeceu, esperou a revelação, mas algumas horas depois descobriu ser somente uma quantidade extrema de catarro que estava chegando em sua faringe. E catarro não é de Deus.

Elisângela, sinto muito que sua parceira tenha te largado para virar GP. Fiquei horas aqui achando que era Fórmula 1. Me perguntando porque você estava tão incomodada. Ainda que eu ache mais fácil namorar uma garota de programa do que o Lewis Hamilton.


Tem algum questionamento inusitado ou uma reflexão incomum para contar? Participe da coluna O Pior da Semana enviando sua mensagem para tati.bernardi@grupofolha.com.br

VA Tati Bernardi Coluna Piores Perguntas
Catarina Pignato

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