Tatiana Prazeres

Executiva na área de relações internacionais e comércio exterior, trabalhou na China entre 2019 e 2021

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Descrição de chapéu Governo Trump

Para Trump, seria melhor não aplicar as sanções da lei sobre Hong Kong

Levadas às últimas consequências, medidas seriam prejudiciais a EUA, China e ao território

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Trump não tinha mesmo alternativa. Depois de o projeto de lei sobre direitos humanos e democracia em Hong Kong receber apoio praticamente unânime no Congresso americano, seria politicamente muito custoso para o presidente não transformá-lo em lei. 

O que não significa que Trump não o tenha feito com gosto. O presidente ganhou mais uma moeda de barganha na relação com a China. 

E, em clima de campanha eleitoral, se viu diante de uma oportunidade de se mostrar firme contra Pequim. Apenas chutou para o gol.

No seu aspecto mais sensível, a lei em questão determina que o governo americano reexamine anualmente a situação de Hong Kong, com o objetivo de verificar se a região é suficientemente autônoma da China a ponto de justificar o tratamento especial que recebe. 

 

Se perder seu status, as relações econômicas e comerciais de Hong Kong com os EUA passam a se dar em termos menos favoráveis. 

A legislação também prevê a possibilidade de sanções contra indivíduos que cometerem violações de direitos humanos em Hong Kong, vedando-lhes o ingresso nos EUA.

As sanções mais duras não devem se materializar no curto prazo. É como instrumento de ameaça contra a China que a lei tem mais valor para os americanos. 

Ela servirá como um irritante no relacionamento bilateral. Será usada por Washington como um lembrete do estrago que pode fazer. Os americanos explorarão seu valor simbólico. 

Anualmente, os EUA terão uma oportunidade (a mais) de vociferar contra a China e de levantar a bandeira dos direitos humanos e da democracia.

A lei não muda fundamentalmente a equação sobre Hong Kong para Pequim, mas tampouco ajuda. Somada ao grande apoio que recebeu no Congresso dos EUA, ela dá fôlego extra para aqueles que Pequim vê como baderneiros. Irrita. E estabelece um precedente ruim.

Ao mesmo tempo, para fazer do limão uma limonada, a China usará a legislação como prova de ingerência estrangeira no território e de que forças externas estariam alimentando a balbúrdia. 

Essa é a narrativa sobre Hong Kong na mídia local, e Washington ajudará a legitimá-la.

Da perspectiva americana, para fazer bom uso das regras, seria melhor para Trump nunca levá-las às últimas consequências e simplesmente maximizar o poder das ameaças de sanções. 

 

Evitaria com isso o tiro no pé que seria revogar o tratamento especial de Hong Kong, o que prejudicaria os interesses econômicos americanos, levaria a contramedidas chinesas e tenderia a inviabilizar o acordo comercial que o presidente-candidato deseja.

Às vésperas das eleições, Trump tende a oscilar entre, por um lado, mostrar-se firme contra os chineses e, por outro, querer fechar um acordo comercial (seja lá qual for) para vender internamente como o melhor da história. 

Se a ameaça contra Hong Kong contribui para a imagem linha-dura do presidente, a aplicação efetiva das sanções azedaria as negociações comerciais. 

Ou seja, para Trump, melhor deixar a coisa como está. Sanções contra o território são uma carta com mais valor na manga do que sobre a mesa.

No entanto, em se tratando do atual presidente americano, nunca se sabe. Se a nova lei for levada às últimas consequências, todos sairiam perdendo: Washington, Pequim e, obviamente, Hong Kong. 

E o mundo assistiria à relação entre os dois grandes se deteriorar em alta velocidade. A ver se Trump vai conseguir manter a carta na manga.

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