O Marrocos já fez história nesta Copa do Qatar. Escrevi no começo do Mundial que Senegal tinha o maior potencial para marcar o torneio com as digitais de uma seleção africana. Era quem podia ir mais longe. Sem Sadio Mané, entretanto, não resistiu à Inglaterra. Coube aos marroquinos.
O país chegou as quartas de final. Já é a melhor participação da seleção do Marrocos em uma Copa. Já é, ao menos, igual à melhor participação de um país africano no torneio.
Mesmo sem estrelas mundiais, como Mané e o egípcio Salah, os marroquinos se juntam a Camarões (1990), Senegal (2002) e Gana (2010). Os ganeses foram os que estiveram mais perto de passar dessa fase e chegar a uma semifinal. Perderam um pênalti no último minuto da prorrogação contra o Uruguai.
Agora, Marrocos terá essa chance. Pega Portugal. Se levarmos em conta o futebol avassalador apresentado pelos portugueses nas oitavas contra a Suiça, a vida marroquina não será nada fácil. Aliás, é altamente improvável uma vitória contra o país de Cristiano Ronaldo.
Mas é bom para eles. Isso porque o improvável tem feito parte do caminho do Marrocos.
O país liderou seu grupo na primeira fase. Ganhou da famosa e badalada geração belga, que ficou pelo caminho. Classificou-se para as oitavas de final. Tornou-se a primeira seleção africana a somar sete pontos em um Mundial. Derrotou a Espanha, outro time bastante badalado.
Pegar agora Portugal como azarão, portanto, não parece um problema.
Pouco antes da partida entre Marrocos e Espanha, o site da Fifa publicou texto no qual fala sobre "o sucesso contínuo do futebol marroquino". No artigo, a entidade máxima do futebol afirma que o país está colhendo os frutos de um desenvolvimento planejado, com objetivo de fortalecer o esporte no país.
A Fifa lembra da classificação da seleção feminina do Marrocos para Copa do Mundo do ano que vem e de bons resultados das categorias de base marroquinas nas competições de seleções.
Essa é apenas a sexta vez que o Marrocos participa de uma Copa do Mundo. Em 2019, o país inaugurou a Academia de Futebol Mohammed VI. Ela é focada no desenvolvimento de novos talentos e classificada pela Fifa como uma das mais "bem-sucedidas academias esportivas do mundo".
É bem cedo para dizer se o bom resultado é fruto desse investimento no desenvolvimento do futebol tão enaltecido pela Fifa. Mas o fato é que o Marrocos surpreendeu a Espanha. Venceu nos pênaltis por 3 a 0.
O goleiro Yassine Bono sai do Mundial, independentemente do resultado que ocorra contra Portugal, como ídolo da torcida.
Com futebol pragmático, superou uma das campeãs do mundo. Teve, inclusive, possibilidades de vencer no tempo normal. Além da chance de se tornar a seleção africana que chegou mais longe na história das Copas, é a única seleção "intrusa" no torneio, atualmente.
Está nas quartas de final com quatro campeãs mundiais (Brasil, Argentina, Inglaterra e França), duas vices (Holanda e Croácia) e o time do icônico Cristiano Ronaldo. Em fase final de carreira e com problemas de relacionamento, não se duvida da capacidade do português de resolver uma partida com um lance genial, mesmo em crise.
Para quem gosta de surpresas e está cansado de ver sempre os mesmos times ganhando, torcer para que o Marrocos siga "bagunçando" a Copa é a última chance de novidade no torneio.
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