Terra Vegana

Luisa Mafei é culinarista e professora de cozinha a base de vegetais

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Faça arroz doce tipo da vovó, mas em versão vegana

Volto hoje da licença maternidade com uma confissão e uma receita

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Caro leitor, cara leitora, faz quatro meses que não escrevo. Volto hoje da licença maternidade com uma confissão e uma receita. Espero que me perdoem.

A receita de hoje, de um arroz doce vegano, não foi feita no meu puerpério —conseguir passar um café ou botar no forno uma das marmitas que deixei preparada ainda na gravidez foi o muito que pude fazer.

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Arroz doce vegano com receita de Luisa Mafei - Luisa Mafei

Arroz doce. Cremoso. Bem doce, mas sem ser enjoativo. Polvilhado com canela. Nunca faltava na casa da minha avó, que fingia não ver a transgressão da neta que enfiava a mesma colher que ia à boca na travessa de servir.

Nunca suspeitei que o arroz doce fosse uma invenção portuguesa, até me mudar para Portugal. Cada família portuguesa —e muitas brasileiras— tem a sua receita de arroz doce.

Pode ser pálido ou bem amarelinho, o que denuncia a presença (ou a ausência) de gemas na sobremesa. Pode levar paus de canela e tiras de casca de limão ou de laranja na água de cozedura do arroz. Pode ser finalizado com uma chuva anárquica de canela, ou com um bordado minucioso da especiaria em forma de paralelepípedos.

O arroz doce em Portugal é típico das festas de casamento e da ceia de Natal, mas é também a sobremesa dos dias ordinários. Pode ser facilmente encontrado em qualquer tasca.

Na minha primeira saída de casa após o parto, caminhei pela Rua dos Pescadores, na Costa da Caparica, à margem sul de Lisboa, em busca de algum conforto que não sabia nem como nomear, nem onde encontrar.

Entrei numa tasca e me sentei. Tudo o que eu conseguia ver era o arroz doce na vitrine, como se minha avó tivesse voltado à Terra com uma travessa, só para mim. Não vi a vaca, não vi a teta ferida sugada por máquinas, não vi o sangue no leite. Vi apenas uma cumbuquinha de conforto transbordando pelas beiradas.

Aquele arroz doce era branco como o de minha avó, cremoso como o de minha avó, morno, acabado de fazer. Minha visão ficou turva como a do bebê que me aguardava em casa, dei uma colherada, e outra, senti que minha avó estava ali, naquele ato pagão metade fúnebre, metade festivo.

Foi a minha forma de lhe dizer que ela ganhou mais um neto, embora nunca vá conhecê-lo.

Não deixei de ser vegana por isso, acredito. Foi um deslize (julgue quem quiser) que me levou a criar uma receita de arroz doce 100% vegetal que não deixa nada a desejar ao da Dona Teresinha, nem ao da tasca.

O melhor arroz para fazer a sobremesa é o arroz quebrado (sorte do nosso bolso), mas quem quiser usar o arroz que tem em casa pode dar uma ligeira triturada no liquidificador. Quebrar o arroz ajuda a liberar o amido, importante para a cremosidade dessa sobremesa.

Para deixar o arroz doce ainda mais cremoso, essa receita traz uma redução de castanha do pará, que pode ser substituída pelo amendoim cru e sem pele numa versão mais econômica e igualmente deliciosa.


Arroz doce vegano da vó

INGREDIENTES

1 xícara de arroz branco cru e quebrado (200g)

1 xícara de castanha do pará, ou de amendoim cru e sem pele (100g)

¾ xícara de açúcar demerara (135g)

500 ml de água + água para cozinhar o arroz

Casca de 1 limão siciliano

2 paus de canela

Canela em pó, para finalizar

PREPARO

  1. Leve o arroz para cozinhar com 2 xícaras de água em fogo baixo e com a panela tampada, até a água quase secar. Desligue o fogo e reserve o arroz.
  2. Enquanto o arroz cozinha, prepare o creme: bata a castanha do pará com a água no liquidificador em velocidade máxima durante 3 minutos. Caso opte pelo amendoim, cozinhe durante 15 minutos e escorra a água antes de acrescentar no liquidificador. Transfira o creme para uma panela, acrescente a casca dos limões, os paus de canela, o açúcar e leve para cozinhar em fogo médio, mexendo de tempos em tempos, durante 20 minutos.
  3. Peneire o creme dentro da panela do arroz. Misture e cozinhe em fogo baixo por três minutos, mexendo sempre, como se fosse um risoto.
  4. Sirva em tacinhas com canela polvilhada por cima, morno ou frio.

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