Quando o assunto são os milicos, sobra a Lula audácia na política externa; falta na política interna. Disse o presidente, em entrevista na terça-feira (27), que se deve "saber tocar a história para frente", que o golpe de 1964 "faz parte do passado", e concluiu: "Eu, sinceramente, não vou ficar remoendo e eu vou tentar tocar esse país para frente". Disse estar "mais preocupado com o golpe de 8 de janeiro de 2023 do que com 64" e que nunca na história deste país militares foram tão punidos pelo golpe de 2023, sem apontar, no entanto, qual parte da cúpula militar foi punida pelo ataque a Brasília.
Pelo contrário. O seu ministro da Defesa, José Múcio, continua o mesmo, apesar de contemporizar em diversas ocasiões o 8 de janeiro, para quem as Forças Armadas tiveram "papel, assim, de absoluta responsabilidade" durante a depredação. O Novo PAC destina mais recursos para projetos de defesa (R$ 52,8 bilhões) do que para a saúde. Com aval do governo, a nova lei orgânica das polícias não toca em nada na violência policial.
Quem dera o Lula da Etiópia viajasse para Brasília. Quem dera Lula tivesse a mesma coragem de criticar as Forças Armadas brasileiras que possui ao vociferar, com razão, contra o genocídio pelas Forças Armadas israelenses em Gaza. Para quem se ofendeu com a comparação, que obviamente guarda as devidas proporções, vá dizer isso para os moradores do Complexo do Alemão (RJ) que carregaram, no mesmo dia da fala de Lula, o corpo de um homem morto durante chacina cometida pela Polícia Militar.
Vá dizer que seria desmedida a crítica para quem foi torturado com saco plástico e para quem foi executado e colocado em formato de cruz com outros cadáveres na Baixada Santista (SP), como apontou relatório de organizações de direitos humanos na segunda-feira (26). Se a responsabilidade direta pelas atrocidades em São Paulo e no Rio de Janeiro recaem sobre os seus respectivos governos estaduais, a omissão recai sobre Lula. Remoemos sim o passado, Lula, porque não é passado, mas o presente.
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