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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Descrição de chapéu Futebol

Necessidade de organização é discussão óbvia no futebol

Seriedade, vontade e união são qualidades tão básicas que nem deveriam ser discutidas

 

A marcação por pressão, para recuperar a bola perto do outro gol e evitar que o adversário troque passes desde o goleiro, tem sido cada dia mais frequente, embora a maioria das equipes que usa essa estratégia, desde o início do jogo, atua em casa e precisa inverter o resultado.

Na primeira partida contra o Manchester City, o Liverpool, em casa, pressionou desde o começo e fez três gols. A Roma, após perder por 4 a 1, sufocou, em casa, o Barcelona, do primeiro ao último minuto, ganhou por 3 a 0 e está nas semifinais. O Cruzeiro acuou o Atlético-MG e fez dois gols, um no início do primeiro tempo e outro no início do segundo.

A marcação por pressão não deve ser exercida no desespero do fim de um jogo, no “vamos lá”, como era no passado. Ela precisa ser treinada. Isso não significa que é a única estratégia para inverter o resultado. A Juventus, mesmo fora de casa, ganhou por 3 a 1 do Real Madrid, jogando em sua tática habitual, de alternar a marcação mais à frente com a mais atrás.

O jogador Kostas Manolas, da Roma, comemora gol durante partida das quartas de final da Liga dos Campões contra o Barcelona, na terça-feira (10)
O jogador Kostas Manolas, da Roma, comemora gol durante partida das quartas de final da Liga dos Campões contra o Barcelona, na terça-feira (10) - Xinhua - 10.abr.2018/Imago/Zumapress

Uma das dificuldades da marcação por pressão é o cansaço, pois é quase impossível fazer isso durante os 90 minutos. A Roma fez.

Quando um time pressiona, sofre e não faz um gol no primeiro tempo, geralmente não tem força física para reagir no segundo.

Outra dificuldade, marcante nos times brasileiros e sul-americanos, é a incapacidade de formar equipes compactas. Contra o San Lorenzo, o Atlético-MG jogou com os zagueiros colados à grande área, o centroavante Ricardo Oliveira colado à outra área e um enorme espaço no meio-campo. A falta de aproximação dos jogadores diminui a recuperação da bola e a troca de passes, o que ocasiona um excesso de bolas longas, esticadas, que vão e voltam. Isso foi frequente no clássico entre Palmeiras e Boca Juniors.

A marcação por pressão começou na Copa de 1974, com a Holanda, que surpreendeu e encantou o mundo.

Durante décadas, muitos times tentaram fazer o mesmo, sem conseguir, com raras exceções, como o Milan, dirigido por Arrigo Sacchi, na década de 1980, e, principalmente, o Barcelona, com Guardiola, inspirado no técnico Cruyff, que bebeu na fonte de Rinus Michels, técnico da Holanda, em 1974.

Com o desenvolvimento da preparação física e tática, das estatísticas, dos estudos técnicos detalhados de todos os jogadores e equipes, vários grandes times conseguem alternar, com eficiência, a marcação por pressão e a mais recuada.

Escrevi, na coluna anterior, que “tenho uma óbvia convicção de que os melhores times, os que ganham títulos, são, com algumas exceções, os que possuem os melhores jogadores”. Um comentarista contestou, ao dizer que os jogadores brilham somente quando atuam em equipes organizadas e que, com frequência, um time organizado, mesmo com jogadores inferiores, ganha de um desorganizado, com melhores jogadores.

Isso é óbvio. Já falei sobre isso um milhão de vezes. Vou além, times mais desorganizados e piores, de vez em quando, ganham dos mais organizados e melhores. O que não se pode é, por causa das exceções, valorizar mais o jogador obediente, mediano e os times que ganham sem nenhum brilho. Ter um bom conjunto e jogar com seriedade profissional, vontade e união são qualidades e atitudes tão básicas, essenciais, que nem deveriam ser discutidas.

Seria como um corpo sem alma, um país sem esperança, um grande clube sem um rival no estado.

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