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Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina.

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Pessoas de diferentes áreas enriquecem a crônica esportiva

Escritores, filósofos, artistas e pensadores de botequim deveriam escrever mais sobre futebol

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De vez em quando, jornalistas, de diversas áreas, escritores, poetas, filósofos, artistas e pensadores de botequim escrevem e falam sobre futebol. Deveriam participar mais. Por escreverem muito bem e por não terem os olhares viciados, por não utilizarem os clichês do jornalismo esportivo e por não terem compromisso com os detalhes táticos, enriquecem a crônica esportiva, com uma nova linguagem.

Nelson Rodrigues tinha a fama de não entender nada de futebol e de não enxergar bem. Mestre Armando Nogueira, companheiro na TV Bandeirantes, que entendia de futebol e que tinha a alma de poeta, conta que, após as partidas no Maracanã, Nelson o segurava pelo braço e perguntava: "Como foi o jogo? Quem foi o craque?".

Imagem do documentário "Nelson Rodrigues, personagem de si mesmo", exibido pela TV Cultura. Na cena. o escritor fuma enquanto mexe em uma máquina de escrever
Imagem do documentário "Nelson Rodrigues, personagem de si mesmo", exibido pela TV Cultura - Folhapress

Nelson Rodrigues ia para a redação do jornal e, com suas exageradas e deliciosas metáforas, escrevia, sobre o personagem do jogo, os textos mais prazerosos e bonitos que já li sobre futebol.

As colunas de Luís Fernando Veríssimo são belíssimas e bem humoradas. Uma que adoro é a do menino que ganha uma bola de presente do pai e pergunta: "Onde eu ligo? Tem manual?".

Aprendo com as opiniões e textos que escuto e leio na atual crônica esportiva. Tento escrever de uma maneira concisa, clara, técnica e tática, embora muitos leitores gostem muito mais quando escrevo sobre coisas fora do jogo. Há também alguns que gostam mais das explicações táticas e outros que não gostam de jeito nenhum.

Sou um viciado telespectador, ainda mais que não participo de redes sociais. As coisas boas são trazidas e discutidas na televisão. Há excelentes programas, gerais e esportivos, embora haja uma excessiva repetição nos noticiários e nas análises.

Em outra coluna, falei de uma série que vi na Netflix, "The English Game", sobre detalhes da vida inglesa, na mesma época em que iniciava o futebol na Inglaterra, quando foi criada a primeira liga de futebol do mundo.

Coincidentemente, o grande escritor Mario Prata vai lançar, brevemente, pela Editoria Record, o livro "As origens do futebol". Comecei a ler os originais que ele me enviou. Mario Prata fez uma longa pesquisa.

Segundo ele, é uma ficção, com base na realidade, um romance de humor, com prefácio do mestre Juca Kfouri.

Homem com jaqueta escura olha para a câmera
O escritor Mario Prata, em foto de 2019 - Marlene Bergamo/Folhapress

Há muitos outros bons livros sobre futebol. Um que adorei foi "Veneno Remédio, o futebol e o Brasil", publicado pela Companhia das Letras, do ensaísta, músico, filósofo, professor de literatura, escritor e apaixonado por futebol José Miguel Wisnik.

Outro excelente livro é "O Drible", escrito por Sérgio Rodrigues, uma ficção que se inicia com o drible de Pelé no goleiro Mazurkiewicz, do Uruguai, na Copa de 1970, um dos quase gols mais espetaculares da história.

Os europeus lançam mais livros e biografias sobre futebol e atletas que os brasileiros. Acho que exageram no número de publicações, embora todas as vidas mereçam ser contadas. Mesmo os grandes talentos são mais especiais pelo que fazem em suas atividades.

Tenho orgulho de ter escrito o prefácio da autobiografia de Cruyff, traduzida para o português pela Editora Grande Área. Ele não foi o melhor jogador nem o melhor técnico do mundo, mas foi o personagem mais influente e importante da história do futebol, porque foi tão espetacular como atleta e como técnico.

Cruyff foi também um excelente analista, crítico. Quem foi melhor: o craque Cruyff, um dos maiores jogadores do mundo, ou o revolucionário treinador Cruyff, que ajudou a mudar a história do futebol?

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