Vaivém das Commodities

A coluna é assinada pelo jornalista Mauro Zafalon, formado em jornalismo e ciências sociais, com MBA em derivativos na USP.

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Vaivém das Commodities
Descrição de chapéu Agrofolha

Aos 60 anos, Cocamar eleva o rol de produtos e de industrialização

Carne bovina, peixe, biodiesel e etanol entram no foco da cooperativa

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A Cocamar, uma das principais cooperativas do país, está completando 60 anos. Teve início em Maringá, no auge da crise cafeeira do país, quando havia uma superprodução, queda de preços e compras feitas por intermediários, o que complicava a situação econômica dos produtores de café à época.

A Cocamar dos 60 anos é bem diferente daquela de seu início. O café deixou de ser o foco principal, e uma gama de outros produtos entrou na sua lista. Pioneira na região de Maringá, a cooperativa busca agregar valor aos produtos recebidos dos cooperados.

Unidade receptora de grãos da Cocamar, em Sertaneja, no norte do Paraná
Unidade receptora de grãos da Cocamar, em Sertaneja, no norte do Paraná - Mauro Zafalon/Folhapress

"Além da agregação de valor, a cooperativa tenta amenizar as oscilações de mercado e fazer com que os riscos de crédito fiquem mais pulverizados", afirma o vice-presidente da entidade, José Cícero Aderaldo, o Zico.

Para ele, dadas as condições das propriedades da região, o produtor agrícola teria muita dificuldade para sobreviver economicamente sem a cooperativa. Pelo menos 70% das propriedades têm até 50 hectares.

O volume produzido em uma propriedade deste tamanho é pouco atrativo para multinacionais, mas plausível para uma cooperativa, que, em geral, é formada pela união de pequenos produtores.

"A cooperativa não vai a uma região para extrair a riqueza do local e levá-la para outro. Ela atua para deixar a riqueza na própria região", diz Aderaldo.

As cooperativas têm evoluído com o aumento de produção nas regiões em que atuam, e a Cocamar não tem sido diferente. Nesta safra, vai receber 4 milhões de toneladas de grãos, somando soja, milho e trigo.

Esse avanço na produção agropecuária tem exigido também uma evolução das cooperativas, não só no recebimento de um volume cada vez maior de produtos como também na industrialização.

A capacidade atual de armazenagem da Cocamar é de 2,2 milhões de toneladas, mas a cooperativa já se prepara para pelo menos 3 milhões. "Não precisamos ter os 4 milhões, uma vez que são safras diferentes, mas precisamos estar preparados para a decisão de venda do produtor, que nem sempre faz uma comercialização de uma só vez", afirma o vice-presidente.

A cooperativa já tem 16 plantas industriais, que vão de esmagamento de soja à produção de ração e de nutrientes foliares. O incentivo da própria cooperativa para que produtores entrem em mais atividades gera novas exigências.

É o caso do programa ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta), sempre incentivado pela Cocamar. O avanço da aplicação do programa nas propriedades dos associados gerou a necessidade do processamento e da comercialização de carne bovina precoce, um programa que começará em breve.

As mudanças no agronegócio criam exigências para as cooperativas. Aderaldo diz que a Cocamar tem diversos projetos para serem implementados. Após a implementação da indústria de biodiesel, já são feitos estudos de avaliação para a produção de etanol de milho.

Está no radar, ainda, o incentivo à criação de peixes na região, com base em uma tecnologia diferente, afirma o vice-presidente. O avanço da agricultura nas regiões onde atua está obrigando também a Cocamar a duplicar a indústria de processamento de soja.

"Não paramos de investir, e dedicamos pelo menos 50% do resultado da cooperativa em investimentos todos os anos", afirma Aderaldo. Ele destaca, no entanto, que é uma tarefa difícil com os juros nos patamares atuais.

Alguns investimentos, porém, são pontuais e indispensáveis, como a ampliação da capacidade de armazenagem. Tendo em vista o maior volume de grãos que a cooperativa passou a receber nos anos recentes, ela está ampliando em 300 mil toneladas a sua capacidade. Esse volume é 15% da capacidade atual.

"Temos de dar abrigo à produção do cooperado. Este ano foi um desespero. Esperávamos 2,1 milhões de toneladas e recebemos 2,3 milhões", diz o vice-presidente.

"E agora chega a safra de milho e, como a comercialização está mais lenta, vai ser outro desespero. Mas é sempre uma decisão complexa a ser tomada, uma vez que a produção do milho é mais incerta", afirma

"Podemos esvaziar o armazém, retirando a soja, e não receber o milho na quantidade que esperávamos. Vai ser com muito sofrimento", diz.

Aderaldo afirma que a cooperativa tem de dar suporte a todas as necessidades do cooperado: do diesel à colheitadeira. A partir de 2016, a Cocamar virou revendedora exclusiva da John Deere em várias das regiões onde atua.

"A cada máquina que vendemos aumentamos a capacidade do produtor de produzir. Se não aumentarmos nossa estrutura, o gargalo passa a ser aqui [na cooperativa]".

O maior acesso do produtor às máquinas e o avanço da tecnologia nelas permite que o plantio e a colheita sejam feitos mais rapidamente. Uma safra, que antes era feita em 30 dias, hoje pode ser colhida em 15, e a cooperativa tem de estar preparada para esse ritmo intenso, afirma Aderaldo.

A Cocamar, que faturou R$ 7 bilhões em 2020, deverá atingir a marca de R$ 15 bilhões em 2025, segundo o planejamento estratégico da cooperativa.

Safra recorde A produção brasileira de grãos deste ano deverá superar em 45 milhões de toneladas a de 2022, segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).

Safra recorde 2 Estimativas desta quinta-feira (13) do órgão governamental apontam para uma produção total de grãos de 318 milhões de toneladas, 16,5% a mais do que na safra anterior.

Quem puxa A safra de soja sobe para 155 milhões de toneladas, e a de milho, para 128 milhões. Já a de arroz recua para 10 milhões.

Quem puxa 2 A produção de feijão tem potencial para 3,1 milhões de toneladas, com alta de 2,5% , e a de trigo deve se manter em 10,5 milhões, segundo estimativas da Conab.

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