Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Bomba de diesel no governo de 2019

Subsídio acaba no fim do ano, há pressão de alta nos preços e problema continua

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O governo banca parte do preço do diesel desde junho. A concessão foi parte do acordo que deu fim ao caminhonaço de maio. O subsídio acaba, no mais tardar, em 31 de dezembro. No dia seguinte, o novo presidente toma posse.

O que vai fazer a respeito? Vai negociar uma solução ainda com este governo e Congresso? Vai dar cabo do subsídio? Haverá então novo tumulto nacional nas estradas? Note-se que o subsídio não é o único problema criado pelo acordo caminhoneiro de Michel Temer.

Não há recursos para bancar o subsídio em 2019, o desconto de R$ 0,30 por litro (outros R$ 0,16 da redução acordada do preço do diesel vêm do corte de impostos). É muito dinheiro.

Neste ano, serão R$ 9,5 bilhões apenas para pagar o desconto de R$ 0,30. Para manter tal subsídio no ano que vem inteiro, seriam necessários R$ 18,5 bilhões. Observe-se que toda a despesa federal com obras, investimentos do PAC, não deve passar muito de R$ 20 bilhões em 2019.

Não haverá dinheiro, a não ser que o governo faça mais dívida. Não faz sentido, até porque o governo já corta o essencial, como na despesa com obras, que cairá a menos da metade do gasto médio entre 2011 e 2016. O país se arrisca a ver desgraças como a daquela ponte que caiu em Gênova, na Itália.

O preço médio do diesel nos postos baixou. É R$ 0,41 menor do que na semana da greve, mas apenas R$ 0,10 mais barato do que no fim de abril, quando se organizava o caminhonaço.

O problema é maior do que essa aritmética. A alta do dólar encarece o diesel e combustíveis em geral. Além do mais, importadoras e distribuidoras estão em conflito com a Agência Nacional do Petróleo. Não concordam com o novo preço tabelado (com o qual têm de se comprometer, a fim de receber o subsídio), a ser definido até amanhã.

Ao preço estipulado até agora, as empresas dizem que não importariam ou venderiam diesel. Deixariam ainda mais mercado para a Petrobras, que não vai aceitar perdas. Se o governo tentar intervir na empresa, ainda convalescente, mais problema, da petroleira ao mercado financeiro.

O acordo caminhoneiro estabeleceu também o preço mínimo do frete do caminhão. De início, o tabelamento criou desordem no transporte de produtos e matérias-primas agropecuárias. A seguir, foi parar na Justiça, porque associações nacionais de empresas de transporte, da indústria e da agropecuária contestaram a constitucionalidade da medida. O caso está em fase de audiências no Supremo.

Qualquer que seja a decisão do STF, haverá problemas. Depois do tabelamento e do aumento de custos, empresas começaram a constituir sua própria frota de caminhões (caso de produtores e comerciantes de carne e grãos). Ou seja, pode ser que caminhoneiros tenham ainda menos serviço. Seria novo incentivo ao protesto.

Energia será, em geral, um dos dramas do próximo presidente.

O setor elétrico está em desordem. Caso não consiga privatizar seis distribuidoras estaduais de eletricidade falidas, o governo vai liquidá-las em breve (duas já estão marcadas para morrer). Há custos explosivos no bagunçado setor de geração de eletricidade, os quais ninguém quer pagar e vão acabar na conta de luz.

A inflação média foi de 7,3% desde julho de 2016. A da eletricidade doméstica, foi de 21,5%, próxima da alta do preço médio da gasolina nas bombas (25%) e do botijão de gás (26%) —o diesel subiu 11,5% nesse período.

É uma bomba energética.

vinicius.torres@grupofolha.com.br

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