Vinicius Torres Freire

Jornalista, foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela Universidade Harvard (EUA).

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Vinicius Torres Freire
Descrição de chapéu petrobras Governo Lula

O rolo bananeiro na Petrobras e o que governo e empresa precisam explicar

Após muita fofoca e politiquice, ainda falta contar o básico da decisão da empresa

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O vexame da Petrobras amainou. O que aconteceu, ainda não se sabe, apesar de quatro dias de fofoca rasteira, vazamento talvez criminoso de rumores que influenciam preços, plantação de notícias e guerra de facções no governo a respeito do motivo de a empresa não ter pago dividendos extraordinários.

Ou melhor, do motivo de a maioria governista do Conselho de Administração ter votado contra tal distribuição adicional de lucros.

De novidades relevantes, até agora, tem-se que Fernando Haddad, o ministro da Fazenda, foi chamado ou interveio para racionalizar o sururu, outra vez, e ganhou uma cadeira no Conselho da companhia; que a empresa vai reapresentar contas que baseiem a decisão de pagar ou não os tais dividendos extras.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião com Jean Paul Prates, Alexandre Silveira e Fernando Haddad no Planalto - Ricardo Stuckert - 11.mar.2023/Presidência da República

Não pagar pode ser até uma decisão razoável. A perspectiva, até sexta-feira passada, era que algum extra seria pago, hipótese baseada em apresentação que a direção da Petrobras no final de janeiro, em Nova York, para investidores. Mais sobre isso mais adiante.

O vexame foi bananeiro por motivos fundamentais, afora fofoca e vazamentos. Em pânico no final da semana, por causa do derretimento das ações, o governo fez reunião de cúpula na segunda-feira (11) para discutir o assunto.

Quer dizer que a maioria governista do Conselho não sabia o que havia feito? Não sabia que haveria o tombaço? Não conversou com o governo, ao menos para fornecer "background político", explicar as consequências e estar pronta para apresentar os motivos da decisão?

O preço das ações não caiu por causa de "temores dos investidores" (ou não apenas por causa disso). Caiu porque parte grande dos acionistas descontou do preço o dinheiro que saiu da mesa (dividendos extras previsíveis); em parte, talvez, caiu porque ficou ainda mais fácil imaginar que talvez o governo meta a mão na empresa (vide o histórico da Petrobras, as tentativas de "dedazo" na Vale, o desejo de voltar a mandar na Eletrobras etc.).

No encontro com investidores em Nova York, no final de janeiro ("Deep Dive", mergulho profundo), a direção da empresa fez detalhada apresentação da situação da empresa e da regulação brasileira. Não estava falando com desinformados e trouxas.

O que se disse por lá "fez preço". Não foi uma promessa vulgar de dar um dinheirão extra para acionistas. Apresentou um argumento, goste-se ou não.

Para simplificar muito, se disse que o pagamento de dividendos depende de uma perspectiva de médio prazo, uns 24 meses, conservadora, sobre o que será do fluxo de caixa, do nível ótimo do caixa, do nível de dívida e da necessidade de executar o plano quinquenal de investimentos. Disse que governo ("controlador") e acionistas minoritários estavam de acordo com a estratégia de pagar o máximo possível de dividendos, dadas aquelas condições.

Mais, se disse que a perspectiva para os próximos 24 meses estava nos conformes. Isto é, estimava-se que os investimentos de 2024-2028 seriam financiados com fluxo de caixa operacional; que a empresa não precisaria se endividar relativamente mais para executá-lo, que a dívida ficaria em torno de US$ 60 bilhões.

Quem coloca dinheiro na Petrobras fez contas já no início de fevereiro, baseando-se no que ouviu e em estimativas próprias de resultado do quarto trimestre, que seriam divulgadas dali a um mês.

Muita gente graúda chegou à conclusão de que a empresa pagaria cerca de R$ 20 bilhões extras, número próximo do sugerido pela direção da empresa, vetado pelos integrantes governistas do Conselho.

O que o Conselho viu que a direção não viu para justificar o veto ao dividendo extra? Ou o que ouviu? De quem? Por quê?

Esse é o rolo. Essa é a explicação séria que a empresa tem de dar.

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