Sanduíche bauru é declarado patrimônio cultural do estado de São Paulo

Receita foi inventada no Ponto Chic, endereço em São Paulo que completa 97 anos

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São Paulo

​​​​​​O sanduíche bauru foi declarado Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado de São Paulo segundo a lei 16.914/2018,  de iniciativa de Celso Nascimento (PSC), sancionada no fim do ano passado pelo ex-governador Márcio França. 

Sanduíche bauru do Ponto Chic, no Largo do Paissandu
Sanduíche bauru do Ponto Chic, no Largo do Paissandu - Robson Ventura/Folhapress

O deputado estadual é natural de Bauru, cidade que ajudou a imortalizar a receita original, nascida no Ponto Chic, em 1922.

“É interessante reconhecer a gastronomia como um valor cultural do estado. Quando a gente pensa em quais são as nossas tradições à mesa, às vezes é difícil elencar”, diz Rodrigo Alves, proprietário do Ponto Chic, que vai completar 97 anos. 

"A lei também é importante para se pensar nas técnicas que foram perdidas. Na forma de preparar, o rosbife é assado e, o queijo, derretido em banho-maria. Nada vai na chapa e isso não foi uma invenção do Ponto Chic. Era como se fazia na época”, diz. 

A casa foi comprada do fundador por seu avô há 40 anos ​e continua tendo o bauru como carro-chefe: ano passado foram vendidos 130 mil baurus nas três unidades —incluindo a do Paissandu, onde foi inventado.

Alves diz ter começado a coletar depoimentos de ex-funcionários e frequentadores com a intenção de lançar um documentário no centenário do estabelecimento. “Quem sabe não conseguimos exibir em um cinema antigo da cidade?”, diz.

ORIGINAL COM ROSBIFE 

O preparo da versão inicial é bem diferente da popularizada na maioria dos balcões de lanchonetes da cidade de São Paulo —onde quem pedir bauru leva um lanche com presunto, queijo e tomate.

Já o original leva tiras finas de rosbife, pepino em conserva, tomate e uma mistura de três queijos —tudo isso é acomodado em um pão francês sem miolo. 

A combinação nasceu à pedido do radialista e estudante de direito Casemiro Pinto Neto, que frequentava o Ponto Chic no largo do Paissandu. 

Casemiro, entretanto, apenas sugeriu a junção de itens já servidos pela casa —inclusive a famosa mistura de três queijos. O único item que veio depois foram as rodelas de pepino, a pedido de outros clientes.

Rapidamente, a clientela começou a pedir o lanche do “Bauru”, o apelido de Casemiro, que nasceu na cidade do interior paulista.

O dono do local e presidente do Palestra Itália, Odílio Ceccini, oficializou a receita no cardápio na década de 1930 —quando ficou famosa entre jogares, personalidades e políticos.

Além do Ponto Chic, também é conhecida a receita do Skinão, na cidade de Bauru, lanchonete que prepara o “bauru original” com rosbife artesanal, tomate, picles e queijo derretido.

Mas o sanduíche, que se alastrou pelo Brasil, tem inúmeras variações.

“Cada região acabou tendo sua versão. No sul tem quem coloque churrasquinho, no Rio de Janeiro, já vi alface. Mas, seja como for, no Brasil inteiro você consegue encontrar o bauru”, diz.

Para Alves, uma razão que explica a mudança na receita foi a chegada de embutidos industrializados a mercados de todo o país. 

“O processo de fazer rosbife é mais complexo e caro do que usar um presunto”, diz.
 

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