Salgadinho e refrigerante são tão ruins quanto cigarro, diz documentário

'Big Food' expõe malefícios dos ultraprocessados e a influência da indústria nas políticas públicas

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São Paulo

Consumir alimentos ultraprocessados é tão nocivo quanto fumar. Eis uma declaração de impacto, que aparece logo no começo do documentário "Big Food".

O filme, de apenas 22 minutos e 47 segundos, expõe o inegável poder das corporações transnacionais que produzem comida industrial, barata e de baixa qualidade nutricional. Pior: infiltram-se no debate político para influenciar diretrizes públicas de alimentação.

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Salgadinhos, refrigerante e balas são debatidos em 'Big Food' - Alessandro Shinoda/Folhapress

"Big Food: o Poder das Indústrias de Ultraprocessados" é uma produção do Coletivo Bodoque e do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), lançado em novembro para exibição gratuita sob agendamento. Constrói sua trama a partir de depoimentos de acadêmicos do Brasil e do Reino Unido, além de membros do próprio instituto.

Teresa Liporace, ex-diretora executiva do Idec, é quem compara a indústria alimentícia à do tabaco. Várias doenças crônicas, de diabetes a certos tipos de câncer, têm sido associadas ao consumo de ultraprocessados.

É chato, porém necessário, abrir parênteses para explicar esse conceito.

O "Guia Alimentar para a População Brasileira", elaborado por pesquisadores da USP para o Ministério da Saúde, divide os alimentos em quatro categorias: in natura (ou minimamente processados), ingredientes culinários, processados e ultraprocessados.

O filme usa quatro estados do milho para ilustrar a divisão: milho na espiga (in natura), óleo de milho (ingrediente culinário, assim como outras gorduras, sal e açúcar), milho enlatado (processado) e salgadinho de milho (ultraprocessado).

Ultraprocessados têm alto teor de açúcar, sódio e/ou gorduras, além de aditivos químicos alheios à cultura culinária tradicional. Cereais matinais, biscoitos recheados, salgadinhos, doces, pratos congelados e refrigerantes, entre outros artigos.

Ok, sabemos que essas comidas não prestam. Mas... tão nocivas quanto o cigarro? Parece exagero comparar fumaça com alimento ruim.

Em entrevista por telefone, Ana Paula Bortoletto, consultora técnica do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor), colocou a comparação em perspectiva: "Os danos são equivalentes, se levarmos em consideração o tamanho da população impactada".

Cada vez menos gente fuma. Todo mundo come. E quase todo mundo come mal de vez em quando. Justo, mas é uma ponderação que ficou de fora do filme.

Compactado em menos de meia hora, "Big Food" deixa de desenvolver argumentos e de explorar os temas que aborda.

Seus melhores momentos são imagens de arquivo que explicitam a promiscuidade do poder público com a indústria alimentícia –numa delas, o governador paulista João Doria comparece à inauguração de uma fábrica da Mars e diz que seus chocolates são "deliciosos".

Na maior parte de sua curta duração, porém, "Big Food" dispara frases e cifras de impacto. São apenas dez companhias que abastecem os supermercados do mundo todo. Só no Brasil, a indústria de alimentos fatura R$ 700 bilhões anuais. Desse jeito, vapt-vupt, e pula para a próxima paulada.

Fosse mais longo, talvez "Big Food" pudesse ser mais sóbrio, menos panfletário, menos Michael Moore. E, assim, expor em detalhe alguns fatos terríveis que podem até parecer teoria conspiratória.

Big Food: O Poder das Indústrias de Ultraprocessados

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