Saquê: entenda quais são os diferentes tipos e as regras de etiqueta da bebida

Dados do governo japonês apontam que, desde 2020, a importação do produto subiu 20% ao ano no Brasil

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Bruno Calixto
Rio de Janeiro

Seimaibuai. Essa talvez seja a palavra mais importante no complexo universo do saquê. Ela se refere ao índice de aproveitamento do arroz, o passo crucial para a produção dessa bebida alcoólica. Um grão mais polido resulta em sabores mais elegantes, de melhor qualidade. Esse e outros assuntos têm entrado nas rodas de conversa em torno da bebida fermentada japonesa, que vem ganhando mais força e adeptos no país.

O interesse por saquê aumenta na mesma medida em que crescem o número de importadoras, a oferta de rótulos e a qualidade. Dados do governo japonês apontam que, de 2020 para cá, a importação de saquê no Brasil vem subindo cerca de 20% ao ano, podendo ultrapassar 250 mil litros até o fim de 2023.

Desde 2020, a importação da bebida subiu 20% ao ano no Brasil, segundo o governo japonês
Desde 2020, a importação da bebida subiu 20% ao ano no Brasil, segundo o governo japonês - Divulgação

Para o restaurateur e especialista Eduardo Preciado, do restaurante carioca Minimok, a qualidade do que tem chegado às prateleiras é o que mais chama atenção. "O cuidado por parte de alguns importadores, com utilização de contêineres refrigerados em todo o percurso, seleção de rótulos de pequenos produtores no Japão, ajudou bastante", afirma.

A sommelière Yasmin Yonashiro, dos paulistanos Jojo Ramen, Goya e Makoto, vê mudanças também no comportamento dos clientes, que hoje pedem mais saquê japonês e se interessam mais em entender o que estão tomando. Em 2014, diz, as pessoas tendiam a pedir produtos mais secos ou mais comuns.

A tecnologia também deu uma mão. Hoje é possível se sentar ao balcão e provar saquês de diferentes categorias (e valores) em taça, sem precisar consumir toda a garrafa. Isso porque lugares como o sushibar carioca Haru, passaram a investir em máquinas Enomatic, antes usadas só em vinhos: com sistema de preservação à base de nitrogênio, elas permitem que um produto premium possa ser degustado como se a garrafa tivesse acabado de ser aberta.

"Foi a forma de incentivar o interesse por garrafas mais caras", diz o proprietário Menandro Rodrigues.

Dos 30 rótulos que se revezam na engenhoca no Haru, o destaque vai para o Dassai 23 (cuja garrafa sai por R$ 1.368), o mesmo que o então primeiro-ministro japonês Shinzo Abe serviu ao ex-presidente americano Barack Obama.

Como as importações estão aumentando, as lojas de varejo se proliferaram e mais fábricas de saquê estão de olho no Brasil. Hoje já são 13 em território nacional, todas em São Paulo. Paradoxalmente, à medida que a popularidade do saquê aumenta em outros lugares, ela diminui no Japão. A população está envelhecendo, as pessoas estão bebendo menos em geral.

O brasileiro está aprendendo a tomar saquê, e o governo japonês tem incentivado muita a difusão no Brasil do washoku, que é como é conhecida a culinária tradicional do país asiático, por meio de cursos e eventos disponíveis principalmente em São Paulo (na Japan House, por exemplo), mas também no Rio de Janeiro.

De acordo com a empresa de consultoria JTB Tourism Research and Consulting, que rastreia o turismo no Japão, uma outra razão para o aumento do consumo de saquê no país, tem a ver com o número de brasileiros visitando o Japão, na casa dos 70 mil em parâmetros pré-Covid. Muitos desses viajantes voltam para casa com maior interesse em cultura, comida e saquê japoneses.

Com tamanha procura, vale falar ainda sobre o que caracteriza um saquê de qualidade.

Em sua base, a bebida milenar leva arroz, água, fermento e koji, um molde de arroz também usado para fazer molho de soja, que quebra os amidos do arroz em açúcares fermentáveis, assim como se faz com o malte na produção de cerveja.

Flocos de ouro, designações, tipo de arroz e até a água utilizada para fermentar são fatores que podem levar o preço da garrafa a passar de R$ 20 mil.

Na base da pirâmide dos saquês considerados premium estão os junmai e os honjozo, as duas grandes categorias —o que os diferencia é a adição de álcool nesses últimos. Um daiginjo é um saquê superpremium —os da marca Hokusetsu, uma das mais tradicionais do Japão, usam 30% do grão do yamadanishiki, tido como o melhor arroz do mundo, para o preparo. Aqui, ele é coado em sacos com uma técnica chamada shizuku e armazenado em garrafas de titânio.

De tão versátil, o consumo do saquê vai bem não só com sushi. "A harmonização segue aqueles preceitos de paridade de sabores ou contraste. Ele é bem mais condescendente que o vinho, ou seja, é mais difícil de errar com ele. Tanto é que no Japão nem se fala em harmonização", afirma Preciado, do Minimok.

Mas não é recomendável ser displicente na combinação.

"Um daiginjo muito leve e elegante pode ‘morrer’ com um prato de sabores muito intensos, por exemplo. O ‘junmai daiginjo’ é superdelicado e morreria se combinado com wagyu [raça de gado japonês com alto teor de gordura]", afirma Tsuyoshi Murakami, do restaurante Murakami.

Manual de etiqueta do saquê

  • Fuja de sal ou flor de sal na borda do copo
  • Copo de madeira, daqueles quadrados, também não valem —no Japão, eles são usados em cerimônias fúnebres; o saquê deve ser tomado em copinhos de cerâmica, vidro fino ou taça de cristal
  • Na hora de servir, segure a garrafa com as duas mãos e, se for receber a bebida, faça o mesmo, com as duas mãos no copo
  • Não é educado tomar o saquê de um só gole nem servir a si próprio
  • A bebida tem de vir do Japão de navio refrigerada para manter o frescor
  • Depois de aberta a garrafa, a vida útil da bebida é de 30 dias
  • Saquê aquecido funciona e é ideal para harmonizar com comidas gordurosas

Vocabulário

  • Daiginjo: categoria superpremium de saquê, caracterizada por ser mais leve e delicada
  • Junmai: sem adição de álcool destilado, ele deixa a bebida com mais corpo e cremosidade (um teste para ver a sua qualidade consiste em girar a taça e ver a formação de lágrimas)
  • Honjozo: refrescante, tem aroma discreto e 10% de adição de álcool destilado
  • Nigorizake: bebida não filtrada de textura leitosa, tem sabor doce e intenso
  • Namazake: o mais fresco de todos, não é pasteurizado e portanto precisa ser mantido em constante refrigeração
  • Seimaibuai: índice de aproveitamento do arroz na bebida; quanto maior, melhor a sua qualidade
Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado, a média anual de turistas brasileiros no Japão é de cerca de 70 mil pessoas, e não 2,2 milhões . O nome da marca Hokusetsu foi grafado incorretamente como Hokusets. O texto foi corrigido
 

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