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Tacacá, prato típico paraense, atinge pico de buscas na internet; veja receita

Interesse pela iguaria se deve à música 'Voando Pro Pará', da cantora Joelma

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São Paulo

"Eu vou tomar um tacacá". Se você usa as redes sociais todos os dias, talvez tenha visto um vídeo aleatório sendo embalado por esse refrão da música "Voando Pro Pará" da cantora Joelma.

Dados do Google Trends mostram que, por conta do meme, o prato paraense atingiu em outubro um pico de interesse de buscas desde 2004, ano do começo da série histórica da plataforma.

Tacacá servido no restaurante Quintal Paraense, na zona norte de SP
Tacacá servido no restaurante Quintal Paraense, na zona norte de SP - Divulgação

A canção foi lançada em 2016, mas viralizou apenas agora. No Spotify, são 7,13 milhões de reproduções sendo a música mais popular da Joelma por lá. No TikTok, as hashtags #tacacá, #voutomarumtacaca e #tacacajoelma somam 26,2 milhões de visualizações.

De acordo com o TikTok, canções de diferentes épocas e estilos estão ganhando uma nova relevância e conquistando uma audiência mais ampla por conta do sucesso no aplicativo. Além de "Voando Pro Pará", outra canção que se tornou tendência foi a música "Vai, Vai Muuuu", de Rick e Renner, de 2007.

Irís Leite, proprietária do restaurante Quintal Paraense, situado na zona norte de São Paulo, afirma que recebe clientes curiosos que desejam experimentar o prato mais solicitado do cardápio, e muitos deles chegam cantando a música.

Para além do meme, o que é um tacacá?

É um prato típico do Pará e da culinária amazônica, apreciado também em outros estados como Roraima e Amazonas. É considerado uma bebida quente, uma espécie de sopa, para ser consumida mesmo nos dias de muito calor e sem o uso de talheres.

"[O prato] vem com camarão seco por dentro, jambu cozido, pimenta e goma de mandioca. Vem tudo em uma cuia. A gente toma ali no final da tarde ou no início da noite e é uma refeição completa", diz o apresentador e chef paraense Thiago Castanho.

Saiba como preparar o prato paraense

Historicamente, o tacacá era vendido pelas tacacazeiras, que têm um dia dedicado a elas, comemorado em 13 de setembro. Além disso, essas vendedoras são reconhecidas como patrimônio cultural da cidade de Belém.

Mas já não é algo feito só por elas, os saberes envolvidos no preparo do tacacá vêm sendo transmitidos entre gerações. Aldrin de Figueiredo, professor da UFPA (Universidade Federal do Pará) e diretor do Instituto Histórico e Geográfico do Pará, diz que hoje a iguaria também é feita por homens.

Para os paraenses, o tacacá é símbolo de comida de rua e é encontrado em barracas, cada uma delas com seu próprio tempero. "Cada pessoa lá em Belém, por exemplo, seleciona sua barraca do coração", diz Castanho.

Para Leite, o tacacá é como se fosse o cachorro-quente de São Paulo.

A forma como o prato é feito pode mudar de acordo com o lugar. Segundo Castanho, em Santarém (PA), o tacacá é feito com camarão da água doce, enquanto em Belém, o camarão é proveniente da água salgada. Além disso, há lugares que trocam o camarão por caranguejo.

Aqui [em São Paulo] há as barraquinhas de cachorro-quente, mas no Pará tem a de tacacá

Irís Leite,

proprietária do restaurante Quintal Paraense

O sabor também pode ser diferente a depender da região, especialmente por conta do tucupi, um dos ingredientes da receita. "O tacacá de Belém é um pouco mais azedo por conta da fermentação do tucupi, já na Amazônia, você vai encontrar um tucupi mais doce", diz Figueiredo.

Uma das especificidades do prato é a sensação de amortecimento na boca. Isso acontece por conta do jambu que aliado ao sabor da pimenta traz um prato repleto de sensações.

Para Figueiredo, essas sensações proporcionam um calor refrescante, sendo algo citado até mesmo na literatura sobre o prato. "Ali, na rua, sob a sombra de uma árvore, acaba se tornando um campo de experiências sensoriais."

Por esse motivo, Leite recomenda que ao tomar o tacacá pela primeira vez precisa ir de mente aberta. "Você vai amar ou vai odiar porque não tem meio-termo. É uma coisa diferente".

Receita de tacacá

Porções: 10

Ingredientes

  • 500 g de camarão seco sem cabeça, com casca e com rabo
  • 300 g de folhas de jambu
  • 500 g de goma de mandioca
  • 2 litro de tucupi
  • 2 colheres (sopa) de chicória-do-pará (coentro do sertão) rasgadas com as mãos

  • 2 dentes de alho amassados

  • 2 colheres (sopa) de manjericão rasgado com as mãos

  • 1 colher (sopa) de pimenta-de-cheiro picada

  • 2 pimentas cumari-do-pará sem sementes, bem picadas

  • Sal a gosto

Preparo

  • Deixe o camarão de molho em bastante água fria por quatro horas. Escorra
  • Cozinhe em uma panela com bastante água fervente por três minutos. Retire da água e reserve
  • Use a mesma água do camarão para escaldas as folhas de jambu por dois minutos. Retire as folhas da água quente e mergulhe em uma bacia com água e gelo. Escorra e reserve
  • Em uma tigela, misture a goma de mandioca com 300 ml de água fria
  • Aqueça 400 ml de água em uma panela até ferver. Aos poucos, junte a mistura de goma e água, mexendo sempre para não formar grumos. No início, você pode usar um batedor de arame, mas, depois que engrossar, é melhor usar uma colher de pau. Cozinhe por cinco minutos, até a mistura ficar transparente e bem espessa
  • Em outra panela, coloque o tucupi, a chicória-do-pará, o alho, o manjericão, a pimenta-de-cheiro e a cumari-do-pará. Tempere com sal a gosto e cozinhe por cinco minutos
  • Em uma cuia, coloque uma colherada da mistura de gome, e, em seguida, uma concha de tucupi. Disponha alguns camarões e um pouco de jambu por cima e sirva quente.

Receita do chef Thiago Castanho publicada no livro de sua autoria, "Cozinha de Origem - Pratos Brasileiros Tradicionais Revisitados" (Publifolha, 2014)

Joelma publicou um vídeo no TikTok ensinando a fazer um tacacá e escreveu que é feito do "jeitinho" que ela costuma preparar.

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