Vazamento faz Alckmin adiar outra vez inauguração de 'rodoanel da água'
Vazamentos adiaram a inauguração da principal obra do governo Geraldo Alckmin (PSDB) para evitar a adoção de um rodízio de água na Grande SP, que deveria ter sido entregue na manhã desta quarta.
A obra é uma interligação que levará água do cheio reservatório do Rio Grande (braço da represa Billings) ao crítico Alto Tietê, manancial no extremo leste da região metropolitana.
O local estava preparado para receber o governador nesta manhã, que iria apertar o botão de acionamento das bombas na cerimônia de inauguração. Mas o evento foi cancelado.
O presidente da Sabesp (estatal paulista da água), Jerson Kelman, afirmou que o atraso é irrelevante, mas não especificou em quanto tempo a interligação ficará pronta. "A obra está praticamente completa. É questão de horas ou dias para entregar", disse.
Essa interligação, por meio de 9 km de adutoras, levará 4.000 litros de água por segundo de um manancial para outro. Inicialmente, metade da água bombeada será usada para encher represas do Alto Tietê –sistema atualmente com 15% de sua capacidade.
A outra metade da água bombeada será empurrada por meio da rede de abastecimento para residências das zonas norte e leste da capital.
Essas áreas eram originalmente atendidas pelo Cantareira, o maior sistema da Grande SP e em situação mais crítica (12,6%, contando já com duas cotas de volume morto, que é a porção de água no fundo das represas).
Com a finalização dessa obra, inicialmente prometida para maio por Alckmin, a Grande SP ganhará uma espécie de "rodoanel da água" e deixará a área do Cantareira menos vulnerável –o sistema que atendia 9 milhões de pessoas antes da crise hoje atende cerca de 5 milhões.
VAZAMENTOS
Os vazamentos aconteceram na madrugada desta quarta, em uma área alagada do município de Rio Grande da Serra. Em nota, a Sabesp informou que mergulhadores estão no local tentando solucionar o problema nas adutoras. "Tão logo os ajustes sejam feitos, a obra entrará em operação", disse a empresa.
Na terça-feira (29), outros três vazamentos, resolvidos no mesmo dia, já preocupavam os engenheiros da empresa. O primeiro ocorreu em uma área alagada do percurso dos tubos. No fim da tarde, operários esperavam o envio de uma válvula que poderia resolver o problema.
O segundo vazamento foi em frente à casa de Maria Lúcia Scarpanti, 58. Uma válvula acoplada aos tubos rompeu com a pressão da água. "Eu ouvi o estrondo que até tremeu a janela. E achei que fosse a tubulação da Petrobras estourando", diz, em referência aos dutos de gás da estatal enterrados no caminho dessas novas adutoras.
O terceiro aconteceu já próximo ao local do desemboque da água em um córrego no município de Ribeirão Pires. Operários passaram a tarde apertando parte das conexões.
Para os engenheiros da companhia que vistoriaram o local, esses tipos de vazamentos são comuns quando se enche pela primeira vez uma adutora com água. "A adutora está íntegra, os problemas foram pontuais e vamos reparar o quanto antes", disse Guilherme Paixão, que esteve à frente da obra.
Fabrício Lobel/Folhapress | ||
Mergulhadores tentam resolver vazamento em obra que vai levar água ao Alto Tietê |
Sob o ponto de vista da engenharia, a obra é arrojada: usa bombas gigantes para retirar água de uma represa, tem um conjunto de adutoras que faz um sobe e desce em morros antes de desembocar em um córrego de outro manancial e contou até com mergulhadores para ajudar no trabalho de ligação dos dutos.
Já do ponto de vista da execução, houve atrasos e autorizações ambientais a jato. Os operários que estão à frente da obra desde março, por exemplo, sempre tiveram que correr contra o tempo.
Em janeiro, quando o governador fez a promessa de entregá-la em maio, a Sabesp não tinha licenciamento, equipamentos nem contratos.
O licenciamento ambiental é um dos questionamentos do Ministério Público à interligação, já que a Sabesp teve apenas que entregar um estudo de impacto ambiental simplificado para obter a autorização de outros órgãos do próprio governo do Estado.
Além disso, antes de realizado, o projeto deveria passar pela consulta a entidades ambientais públicas, como comitê de bacias e conselho estadual do meio ambiente, o que até agora não ocorreu.
Beneficiado com a obra, o Alto Tietê é o sistema que mais sofreu no período sem chuvas deste ano. Do início de maio até agora, perdeu 44,2 bilhões de litros de água, contra 27,9 bilhões do Cantareira.
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