Licitação pendente de ônibus é desafio bilionário de Doria no início da gestão
Os desafios da futura gestão João Doria (PSDB) na área de transporte público vão muito além da definição da tarifa. Uma das questões mais urgentes que o prefeito eleito terá de resolver é a licitação do sistema municipal de ônibus, um assunto bilionário pendente desde 2013.
Em junho daquele ano, os intensos protestos contra o reajuste da tarifa e a qualidade dos serviços fizeram com que a administração Fernando Haddad (PT) suspendesse o procedimento e contratasse uma auditoria para verificar os pontos que poderiam ser aprimorados antes de concretizar a nova contratação –os serviços, desde então, são mantidos graças a acordos emergenciais.
Já contemplando alterações, um edital de licitação foi divulgado no fim do ano passado, mas o Tribunal de Contas do Município fez questionamentos e apontou falhas no documento, suspendendo o processo por nove meses, até julho deste ano –às vésperas da campanha eleitoral.
Devido a esse momento de incerteza, tanto para as empresas prestadoras do serviço quanto de Haddad, que não sabia se continuaria no poder, o certame não foi adiante.
Nos atuais moldes, a licitação seria a maior concorrência pública do setor no mundo, com valor superior a R$ 8 bilhões por ano de contrato –R$ 167 bilhões pelo prazo de 20 anos e que poderia ser renovado por igual período.
Para o especialista em transportes Flamínio Fichmann, no entanto, os planos anunciados por Doria para o transporte público podem ser incompatíveis com os termos dessa concorrência.
O prefeito eleito promete implementar um sistema de BRTs (transporte rápido de ônibus, na sigla em inglês) em parceria com a iniciativa privada, começando pelos corredores já dedicados aos coletivos na cidade para em seguida expandir a malha.
"Para fazer corredores em PPP ou em concessão é preciso ter receita, tem que ser pensado em conjunto a operação dos ônibus e a construção. Não daria só para licitar uma parte, como está hoje. A licitação precisaria vir acompanhada de um plano de estruturação, mostrando onde é mais necessário construir e quais empreendimentos ficam de pé", avalia Fichmann.
Atualmente, a cidade tem cerca de 130 km de corredores de ônibus, quantidade ainda insuficiente para atender com qualidade e velocidade aos mais de 9 milhões de usuários que passam diariamente pelo sistema.
Durante a campanha, Doria prometeu reduzir os tempos das viagens (os BRTs têm a compra de passagem na calçada para acelerar embarque), utilizar ônibus biarticulados e ainda diminuir a distância entre os veículos.
Duas dessas ideias do tucano já estavam contempladas pelo edital de licitação, que previa o aumento do número de coletivos articulados e exigia que as empresas que assumissem a operação dos serviços construíssem um moderno centro de controle.
Com essa central, seria possível monitorar todo o sistema em tempo real, o que permitiria destinar mais veículos para linhas que enfrentassem problemas de superlotação, por exemplo.
A Folha enviou questionamentos a equipe de transição de Doria sobre os planos da gestão para a licitação, mas não obteve resposta.
QUALIDADE
Para Horácio Figueira, mestre em transporte pela USP, em vez de recorrer ao governo federal para ajudá-lo a congelar a tarifa do ônibus em R$ 3,80, como prometeu durante a campanha, Doria poderia usar o apoio de Brasília para investir em qualidade.
"Uma boa proposta de um gestor seria dizer que, em vez de aumentar o subsídio em mais de R$ 1 bilhão para não reajustar a tarifa, a cidade investiria esse dinheiro, com verbas federais ou empréstimo do BNDES, para terminar três corredores ou BRTs nos próximos dois anos."
O especialista sugere inclusive três áreas prioritárias: a Radial Leste e as avenidas Aricanduva e 23 de Maio. "A oferta de infraestrutura está problemática, seria hipocrisia congelar a tarifa sem enfrentar essa questão", afirma.
Congelar a tarifa, na visão de Figueira, traria outro problema adicional: uma overdose de demanda aos ônibus, pois muita gente deixaria de usar o metrô e o trem para economizar. "Há várias linhas de ônibus paralelas à linha 3-vermelha e aos trens que vão para a zona leste, por exemplo. Isso não seria bom para a cidade", argumenta.
Na última sexta-feira (18), reportagem da Folha revelou que a equipe de Doria já estuda um recuo na promessa de congelamento da tarifa em 2017. Uma opção na mesa considera aumentar a passagem para um valor intermediário entre os atuais R$ 3,80 e os R$ 4,40 projetados pelo time de Doria na transição.
O custo adicional para congelar a tarifa chegaria a R$ 1,25 bilhão –valor suficiente para construir 30 km de corredores exclusivos para ônibus.
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