Promotoria quer afastamento de vereador de SP acusado de adulterar documento

Promotor diz que Police Neto mudou requerimento de viagem e gerou custo indevido de R$ 17 mil; ele nega

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São Paulo

O Ministério Público pediu à Justiça o afastamento e perda de direitos políticos do vereador e ex-presidente da Câmara Municipal de São Paulo José Police Neto (PSD), sob a acusação de adulterar requerimento que resultou em gasto indevido de verba pública para uma viagem internacional.

No final da tarde desta segunda-feira (29), a Justiça concedeu pedido de liminar do Ministério Público para bloqueio de até R$ 71 mil das contas do vereador. 

A ação de improbidade administrativa foi proposta pelo promotor Silvio Marques após representação do vereador Milton Leite (DEM), ex-presidente da Câmara e adversário político de Police. O vereador, que presidiu a Câmara entre 2011 e 2012, se diz vítima de uma armação e afirma que a ação ignora testemunhas que dariam depoimento neste sentido. 

Police viajou a Kuala Lumpur, na Malásia, para participar do evento de urbanismo da ONU, o World Forum – Cities 2030, entre os dias 5 a 13 de fevereiro de 2018, com gasto de cerca de R$ 17 mil. 

Ele é acusado de ter inserido de maneira manuscrita em requerimento lido na Câmara a expressão "com ônus à municipalidade". 

O caso de Police foi arquivado pela Corregedoria da Câmara, apesar do relatório do vereador Fernando Holiday (DEM) em favor da abertura do processo. 

Vereador Police Neto durante seminário de segurança no trânsito
Vereador Police Neto durante seminário de segurança no trânsito - Reinaldo Canato / Folhapress

"As testemunhas ouvidas durante a investigação confirmaram cabalmente que o demandado cometeu uma irregularidade ou fraude, consistente na inserção indevida da citada expressão manuscrita, para que as despesas da viagem fossem pagas pela Câmara Municipal", afirma o promotor. 

Entre as testemunhas citadas pelo promotor, estão vereadores como Caio Miranda (PSB). 

De acordo com o promotor,  o requerimento original foi aprovado em plenário pela maioria dos vereadores, sem ônus à municipalidade. "Com a inserção indevida da referida expressão no requerimento, em desacordo com o próprio pedido e decisão dos vereadores, foram aprovados pela Mesa Diretora da Casa, em 18/1/2018, os pagamentos de diárias de R$ 12.028,90 e de passagens áreas de ida e volta a Kuala Lumpur que totalizaram R$ 5.730,83, por intermédio da empresa FACTO TURISMO EIRELI – ME", diz a ação.

Marques também pede liminar para decretar a indisponibilidade de bens de Police até o limite de R$ 71 mil. 

OUTRO LADO

O vereador acusado confirmou que inseriu a expressão "com ônus da municipalidade". No entanto, afirmou que a aprovação em plenária foi apenas simbólica e que o pagamento das despesas seria autorizado ou não, posteriormente, pela Mesa Diretora. 

Police Neto afirmou que teria sido orientado pelo secretário-geral da Câmara, Breno Gandelman, a fazer a inscrição posterior citando o ônus para a cidade. Na ação, o vereador afirmou que “possivelmente a representação decorre do fato de ter implementado na sua gestão como presidente da Câmara Municipal (2011/12) do teto constitucional de vencimentos de todos os funcionários, bem como pelo fato de ter dado publicidade a todas as remunerações”. Um dos prejudicados seria Breno Gandelman, que recebe cerca de R$ 56 mil mensais, segundo a ação.

Gandelman negou ter chamado o vereador e afirmou que a aprovação do requerimento de Police foi sem custo para a cidade.

O vereador Police Neto questiona o promotor por não ter ouvido testemunhas apresentadas por ele. "Me causa estranheza a iniciativa do promotor de justiça, uma vez que apresentei testemunhas que poderiam esclarecer todos os questionamentos. Solicitei formalmente que fossem ouvidas tais testemunhas, mas surpreendentemente, a ação foi distribuída sem que essas testemunhas prestassem seus depoimentos"m afirmou.

Ele afirmou estar tranquilo e que confia na Justiça. "Viajei a trabalho, enviando notícias diariamente para a TV Câmara. A Corregedoria, inclusive, após minuciosa análise de toda documentação, concluiu pela completa regularidade da representação oficial, propondo o arquivamento do processo", diz Police. 

Questionado, o promotor Silvio Marques afirmou, em nota, que "a prova era basicamente documental". "O vereador confessou que inseriu no requerimento expressão pela qual obteve o pagamento de despesas não aprovadas pelo plenário da Câmara Municipal. Ademais, dois vereadores e uma funcionário confirmaram a fraude".

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