Mensagens de suspeitos da máfia das creches em SP indicam histórico maior de desvios

Polícia cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a escritório de contabilidade

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São Paulo

A Polícia Civil encontrou mensagens em celulares de suspeitos de integrarem a máfia das creches que indicam temor de descoberta de supostos crimes passados e sugerem desvio de alimentos das unidades. 

A polícia investiga um esquema de desvios nas unidades conveniadas da Prefeitura de São Paulo, por meio de entidades do terceiro setor, escritórios de contabilidade e empresas de fachada. Gestores de mais de uma centena de creches já foram descredenciados pela prefeitura desde o início da operação, que também usou como base reportagens da Folha sobre o assunto. 

Várias etapas da Operação Misantropia, do 10º DP (Distrito Policial), foram realizadas nos últimos dias, com apreensão de dinheiro em espécie, carros e celulares em São Paulo e em Atibaia, no interior paulista. Os policiais cumpriram mandados de busca e apreensão imóveis ligados aos donos do escritório de contabilidade FGM, Jefferson Alves Ferreira e Thiago da Silva Soares. 

A reportagem apurou que, conversando via mensagens de texto, um dos suspeitos afirmou que o mundo cairia em São Paulo, referindo-se à investigação. Ele ainda afirmou que teria de parar com o que chamou de "trampo" e torcer para que apuração não englobasse o passado. 

Na ocasião, havia 28 entidades na lista e os suspeitos haviam obtido informações por meio da Diretoria Regional de Ensino de Guaianases. Posteriormente, a polícia descobriu que ao menos um servidor ajudava o grupo a esconder fraudes contábeis

 

Outra mensagem, da mulher de um deles, aumentou a suspeitas de que haja desvio de comida. Ela envia uma foto de alimentos e uma criança brincando em meio a eles. Depois, afirma que alguém está vindo para pesar os produtos e levar um pouco para a creche. E finaliza: o que sobrar será dividido entre ela e seu interlocutor. 

A polícia vem conversando com diversas pessoas para apurar circunstâncias dessa mensagem, mas a suspeita é que se refira a desvios de uma creche ligada ao grupo na zona leste. 

Durante o cumprimento de mandados na operação, chefiada pela delegada Ana Lucia Souza e reforço da 5ª Delegacia Seccional, os policiais apreenderam R$ 20 mil em espécie, dois carros, dois bugues, duas motos e uma moto aquática. Também serão bloqueados cerca de dez veículos. 

Os policiais encontraram símbolos religiosos e um tridente com citações a autoridades envolvidas na operação. A reportagem apurou que pessoas que possam ser vistas como inimigos da máfia das creches têm recebido ameaças e até coroa de flores fúnebres. 

Antes disso, a polícia já havia cumprido mandados em outros endereços ligados aos sócios do escritório FGM, mas havia encontrado computadores com memória apagada. 

O estopim para as investigações da máfia das creches foi a suspeita de falsificação de guias de recolhimentos sociais de funcionários das creches, com desvio de dinheiro —até agora, a prefeitura já achou R$ 10 milhões em desvios. Depois disso, a polícia passou a apurar uma série de outros crimes.

O escritório FGM Contabilidade é o que aparece com mais frequência entre vários outros investigados pela polícia e pela Controladoria Geral do Município. O site da empresa oferecia "soluções contábeis com qualidade, agilidade e confiabilidade para Associações do Terceiro Setor com parceria com a Prefeitura de São Paulo no âmbito da Secretaria Municipal de Ensino". 

No caso do FGM, a Controladoria constatou que, quando entidades contratavam o escritório, os valores passaram a ser recolhidos "em desacordo com os verificados no referido extrato". 

A polícia ainda suspeita que o FGM e outros escritórios tenham aberto uma série de ONGs e empresas de fachada para atuar no ramo educacional.

A reportagem vem procurando o escritório FGM desde o início da operação, mas não localiza nem obtém resposta dos responsáveis pela empresa ou de seus representantes. Novas tentativas nesta terça (18) e quarta (19) igualmente fracassaram.

Após a eclosão do caso, a gestão municipal adotou uma série de medidas para tentar aumentar o controle sobre as entidades, como exigir das parceiras inscrição no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, título de Utilidade Pública Municipal e, no mínimo, 24 meses de atividade. 

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