Mortes: Italiano e no estilo ‘no stress’, foi o rei da rua Barão de Tatuí

Mario Melilli tinha um jeito inspirador de lidar com a vida

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São Paulo

A rua Barão de Tatuí, na Santa Cecília, região central paulistana, perdeu seu personagem mais ilustre. Mario Melilli morreu no dia 23 de janeiro, aos 73 anos, por complicações de Covid-19, pneumonia e problemas cardíacos.

Natural de Faeto, na Itália, veio ao Brasil aos nove anos com a mãe e os irmãos para encontrar com o pai. Na época, a família se instalou na pensão da dona Ana e passou a administrar a própria fábrica de macarrão, ambas na rua Barão de Tatuí.

O macarrão era famoso e vendido para a cidade inteira. Mario trabalhava na fábrica, mas não deixou de se aperfeiçoar. Estudou na Escola Técnica Paulista de Agrimensura.

Mario Melilli (1948-2022)
Mario Melilli (1948-2022) - Gabriel Cabral - 10.ago.18/Folhapress

O endereço guarda as lembranças e boa parte da história de vida dos Melilli.

"Meu pai colecionava fotos e histórias. Seu jeito acolhedor, cativante, o jeito de falar, a simplicidade e o desejo de querer ajudar o próximo o tornou um personagem carinhoso. Ele dava vida ao lugar", diz a fisioterapeuta Gláucia Melilli, 41, sua filha.

Mario gostava de passear pela rua, ver os amigos e de uma boa prosa. Segundo Gláucia, ele sabia o nome de todos que cumprimentava e conversava. Diariamente, dava R$ 2 aos moradores em situação de rua, prática que incorporava o espírito de ajuda e acolhimento.

O café da manhã era especial: um copo de vinho e um pedaço de queijo. Nas demais refeições, trocava facilmente o arroz com feijão pelo macarrão. "Feijão para ele só com macarrão. E olhe lá!", diz a filha.

Mario nunca saiu da Barão de Tatuí. Foi dono de fábrica de pão, padaria, rotisseria, bar, restaurantes e prédios, de acordo com Gláucia.

Em meados de 2007, o restaurante Massas Caseiras Donat’s chegou a ser reestruturado no quadro Negócio Fechado, do Caldeirão do Huck (Globo), antes de mudar de nome e sair do totalmente do comando da família.

Avô fanático pelo Palmeiras, Mario gostava de levar os netos ao estádio desde pequenos. Aos filhos, ensinou a língua italiana, o amor à família e a importância de alguns prazeres da vida como cultivar amizades, tomar um bom vinho e escutar música de qualidade.

Italiano de sangue quente, mas que aprendeu e se permitiu viver com calma e um dia de cada vez. Pronunciava "no stress" e "take easy" com frequência.

Para João Varella, proprietário da Sala Tatuí (livraria), de uma editora e banca de livros na rua Barão de Tatuí, é estranho olhar a rua e não ver o Mario. Os dois conversavam diariamente.

"O bom dia dele já era a senha para iniciar uma conversa. Sempre muito positivo e aprazível o seu jeito de lidar com as coisas. Ele inspirava as pessoas com esse jeito legal, simples e claro de lidar com a vida. Deixa muitas lições sobre o trato humano", relata João.

Divorciado, Mario deixa a namorada, quatro filhos e seis netos.

​​coluna.obituario@grupofolha.com.br

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