Vereador pede abertura de CPI para investigar empresas de ônibus em SP

Solicitação é feita após polícia revelar suspeita de envolvimento do PCC no setor

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São Paulo

O vereador Delegado Palumbo (MDB) protocolou nesta sexta-feira (10) requerimento para criar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), na Câmara Municipal de São Paulo, com o objetivo de investigar empresas que atuam no transporte coletivo da capital.

Para isso, são necessárias 19 assinaturas de um total de 55 vereadores. Entre eles, o vereador Senival Moura, líder do PT na Casa, e que, de acordo com a Polícia Civil, é um dos suspeitos pela morte de Adauto Soares Jorge, ex-presidente de uma cooperativa de transportes.

Palumbo acredita que atingirá o número mínimo de assinaturas até o começo da próxima semana.

Vereador Senivl Moura (PT) é investigado por suspeita de envolvimento com o PCC - Gute Garbelotto - 26.out.2019/CMSP

Em seu requerimento, o vereador lista sete itens a serem averiguados: (1) identificar eventuais irregularidades; (2) apurar as medições e pagamento; (3) a qualidade dos serviços; (4) pessoas físicas e/ou jurídicas envolvidas com empresas que agem ilicitamente; (5) o quadro societário das empresas e se há conflito de interesses com a administração pública; (6) o programa de compliance; (7) mecanismos destas empresas para combater a corrupção.

Como justificativa para a abertura da CPI, Palumbo afirma que mandados de busca e apreensão foram "cumpridos, sendo que um deles ocorreu na casa e escritório de um vereador desta Casa Legislativa".

Para ele, a suspeita sobre o envolvimento de Moura fere a imagem da classe política e da Câmara.

"Claro que tudo precisa ser provado, mas é muito ruim", diz Palumbo. "Os delegados que conduzem as investigações são pessoas sérias e comprometidas."

Também nesta sexta-feira (10), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), pediu que representantes do governo se reunissem com o delegado Fábio Pinheiro, que conduz a investigação. "Para saber se tem algo que envolve a prefeitura", afirmou Nunes à reportagem.

Participaram da conversa os secretários municipais de Mobilidade e Trânsito (Ricardo Teixeira) e Governo (Rubens Rizek), o controlador-geral Daniel Falcão e a procuradora-geral Marina Magro Beringhs Martinez. Até o momento, a Folha não soube qual o desfecho deste encontro.

Na quinta (9), a Polícia Civil deflagrou uma operação que apura a participação do crime organizado no transporte urbano da capital. A direção da empresa Transunião, que atua na zona leste, e o vereador Moura estão entre os investigados.

Segundo a Polícia, integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) detêm de 30% a 40% da frota da Transunião.

A empresa recebe atualmente da Prefeitura de São Paulo cerca de R$ 100 milhões por ano —o total do contrato de concessão, válido por 20 anos, é de cerca de R$ 2 bilhões.

Moura é um dos fundadores da Transunião e, de acordo com a Polícia, é dono de pelo menos 13 ônibus que prestam o serviço.

A investigação aponta ainda que Adauto Soares Jorge, então presidente da Transunião ao ser assassinado em março de 2020, era uma espécie de testa de ferro do vereador.

O petista teria colocado Adauto no comando da empresa, e ambos não repassaram parte dos lucros à facção criminosa.

Quando o PCC descobriu isso, ordenou a morte de ambos, disse o diretor do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), Fábio Pinheiro, unidade responsável pela investigação.

Em outra operação policial, o delegado do Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico) Fernando Santiago, responsável pela investigação, identificou que 18 criminosos do PCC têm participação na empresa UPBus Qualidade em Transporte.

Esta opera 13 linhas na zona oeste e tem contrato de concessão com a Prefeitura de São Paulo por 15 anos.

Para o vereador Palumbo, a ligação entre empresas de ônibus e o crime organizado não é mais surpresa. Como exemplo, ele cita episódios nos quais facções atearam fogo em ônibus, mas tem poupado micro-ônibus e vans.

"Com a atuação do Deic isso veio à tona. São empresas que recebem subsídios bilionários e prestam péssimos serviços", diz o vereador.

Procurada pela Folha, a assessoria de Moura não se manifestou nesta sexta sobre a intenção de uma CPI.

Em nota nesta quinta, o petista disse que "foi surpreendido por uma operação policial em minha casa, mas quero aqui reafirmar que eu não tenho nenhum envolvimento com as ações que estão sendo noticiadas".


Nota do vereador Senival Moura, publicada na quinta (9)

"Eu, vereador Senival Moura, venho me manifestar através desta nota pública sobre os acontecimentos noticiados em todos os meios de comunicação hoje.

Antes de comentar sobre os fatos ocorridos no dia de hoje quero reafirmar a minha história de atuação, liderança e organização do transporte alternativo na cidade de São Paulo, da qual tenho muito orgulho disso.

Sobre o Adauto Jorge Soares, sinto até hoje essa perda, principalmente pela forma cruel e violenta que foi.

Adauto junto comigo e vários outros companheiros lutamos pela regulamentação do transporte coletivo na cidade de São Paulo. Entre o início da operação clandestina e a transformação em empresas passaram-se 30 anos.

Portanto, Adauto era um companheiro de luta, trabalhador e meu amigo.

Vale ressaltar que no momento da morte do Adauto, nem eu e nem ele tínhamos mais qualquer vínculo com a empresa Transunião S/A.

Essa manhã fui surpreendido por uma operação policial em minha casa, mas quero aqui reafirmar que eu não tenho nenhum envolvimento com as ações que estão sendo noticiadas. Entretanto eu estou à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos, eu que sou formado em direito confio plenamente na Justiça e sou um defensor do Estado democrático de Direito.

Por fim, passarei por esse momento com a mesma serenidade, tranquilidade e consciência tranquila que sempre nortearam a minha vida."

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