Sem inscrição, bloco Tarado Ni Você está fora do Carnaval de rua de SP

Organizadores afirmam ter perdido prazo de cadastro da prefeitura e cogitam mobilizar foliões com abaixo-assinado

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São Paulo

Um dos maiores blocos do Carnaval de rua de São Paulo, o Tarado Ni Você está fora da programação de desfiles de 2023 e não irá ocupar as ruas do centro, em especial a esquina das avenidas Ipiranga e São João, na manhã de sábado do feriado, como ocorreu durante anos.

De acordo com Rodrigo Guima, um dos líderes, houve uma falha e o bloco não fez a inscrição no cadastro da prefeitura, encerrado em novembro do ano passado. "Assumimos o erro, mas o bloco é maior do que isso", diz ele.

Há dez anos como um dos destaques da programação oficial na capital paulista, o Tarado Ni Você, que homenageia o cantor Caetano Veloso, tinha a previsão de atrair 150 mil foliões neste ano. No último desfile, em 2020, cerca de 100 mil acompanharam o bloco, segundo os organizadores.

Vista aérea do desfile do bloco Tarado Ni Você, no centro de SP
Bloco Tarado Ni Você toma a praça Ramos de Azevedo, no centro de São Paulo, em seu último desfile de Carnaval, em 2020 - Eduardo Knapp - 22.fev.2020/Folhapress

"Nós não temos essa quantidade de seguidores nas redes sociais para avisar sobre o cancelamento. As pessoas iriam para a esquina da Ipiranga com a São João de qualquer jeito", diz Guima.

Ele conta que o bloco se deu conta do erro no fim do ano passado, quando procurou a secretária de Cultura, Aline Torres, mas não houve negociação. "Ela disse que não poderia privilegiar um bloco em detrimento dos demais", diz Guima.

O erro foi explicado por uma mudança na dinâmica de inscrições que, antes, eram feitas diretamente nas subprefeituras. Agora, a organização é feita pela Secretaria de Cultura.

Diante da negativa da administração municipal em considerar a inscrição tardia, o Tarado Ni Você cogita mobilizar os foliões com um abaixo-assinado, em uma tentativa de reverter a decisão. Há também a possibilidade de se juntar a outro bloco cadastrado para garantir o desfile.

Guima afirma, ainda, que os dois anos de pandemia sem desfiles de blocos prejudicaram a dinâmica do Carnaval de rua na cidade. Organizadores de outros blocos também reclamam de falta de articulação e transparência por parte da Secretaria de Cultura em relação à organização dos desfiles.

Em nota, a secretaria de Cultura afirmou que "o bloco submeteu sua inscrição após o período de cadastro". "Todos os pedidos com inscrição tardia foram negados para manter o princípio de isonomia", disse a pasta.

Nesta quarta-feira (1º), oito entidades que reúnem as agremiações emitiram uma nota pública criticando o que chamam de "cenário de abandono" da gestão Ricardo Nunes (MDB) em relação ao Carnaval de rua. De acordo com o coletivo, há "falta de planejamento, ausência de transparência e diálogo mal feito".

"Até agora não tivemos acesso a informações sobre questões fundamentais para a garantia de desfiles tranquilos", diz trecho da nota.

Em relação à nota dos blocos, a secretaria de Cultura informou que "todos os blocos tiveram tratativas individuais sobre trajetos, horários e datas com a comissão representativa. Já as reuniões dos blocos com suas respectivas subprefeituras são realizadas diariamente desde as últimas semanas de janeiro".

Os trajetos e horários foram divulgados no último dia 21 no Diário Oficial e "a lista ainda pode sofrer alterações de última hora, devido a cancelamentos, mudanças de horários e de trajetos", segundo a administração municipal.

De acordo com a prefeitura, 670 blocos se inscreveram para participar da programação. A relação oficial dos itinerários e as datas dos desfiles, contudo, ainda não foram publicadas.

A gestão municipal conseguiu patrocínio de R$ 25,6 milhões para organizar os desfiles na rua. A empresa que venceu a licitação, do ramo de cervejarias, poderá divulgar até dez marcas nos locais por onde os foliões irão passar.

A falta de patrocínio foi a explicação dada pela prefeitura no ano passado para não ter permitido os desfiles dos blocos, que ocuparam as ruas à revelia no feriado de Tiradentes, em abril, mesma data em que as escolas de samba desfilaram no Anhembi.

A programação oficial de Carnaval havia sido cancelada no início de 2022 devido ao aumento dos casos de Covid. Por causa da insegurança sanitária, não houve tempo hábil para a captação de recursos entre a iniciativa privada, segundo a prefeitura.

Houve uma tentativa para organizar um Carnaval de rua fora de época em julho, como contrapartida às agremiações que acataram o pedido para não organizar desfiles sem autorização, mas, novamente, houve falta de patrocínio. Como alternativa, os blocos que costumam atrair multidões organizaram festas fechadas.

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