Descrição de chapéu Alalaô chuva

Tempo ruim esvazia blocos no pré-Carnaval de São Paulo

Retorno da festa às ruas da cidade foi marcado por furtos de celulares

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São Paulo

Chuva forte, blocos que não apareceram e relatos de furtos de celulares. A largada do pré-Carnaval de São Paulo não aconteceu como esperavam os foliões que desde 2020 esperavam a volta da festa nas ruas da cidade, interrompida nas duas últimas edições pela pandemia de Covid-19.

Ensopados e com fantasias e maquiagem desmilinguidas, os poucos foliões que não se deixaram intimidar pelo céu carregado celebraram o retorno de alguns dos principais cortejos do país à capital paulista.

Bloco Bicho Maluco Beleza, com Alceu Valença e convidados, animou público, apesar da chuva forte na região do Ibirapuera
Bloco Bicho Maluco Beleza, com Alceu Valença e convidados, animou público, apesar da chuva forte na região do Ibirapuera - Adriano Vizoni/Folhapress

Em um dos pontos altos do dia, Alceu Valença se apresentou na região do Ibirapuera e mostrou que com ele não tem tempo ruim. Agregou tribos, unificou diferenças e mostrou, mais uma vez, que Carnaval dos bons é aquele que arrasta multidões animadas.

Essa foi uma das poucas apresentações que permaneceu lotada, apesar do aguaceiro. A expectativa de público, que era de 450 mil pessoas, parecia não ter chegado a tanto numa olhada panorâmica do alto do caminhão de som.

"Vim em todas as outras apresentações anteriores. Estava com saudade tanto do Alceu quanto do Carnaval", conta Luiza Barros, 26, estudante, moradora de Moema (zona sul de SP).

Na zona oeste de São Paulo, o bloco Sargento Pimenta levou à avenida Brigadeiro Faria Lima repertório dos Beatles, mas o temporal obrigou foliões a se abrigarem onde puderam. Sob árvores, carros de lanches ou guarda-sóis dos vendedores de bebidas. "Existe uma dança para afastar chuva?", perguntou o empresário Pedro Prado, 41.

As pessoas voltaram a cantar, dançar quando subiu ao palco a cantora Ana Cañas, que prosseguiu cantando Beatles.

Apesar da estrondosa adesão à trilha sonora, foram os furtos de celular o maior hit do bloco.

A maioria dos relatos é de celulares desaparecendo dos bolsos de calças e bermudas, mas também há reclamações de pochetes abertas.

Questionada a respeito dos furtos, a PM afirmou que foi acionada para duas ocorrências em um bloco na avenida Faria Lima na tarde deste sábado.

A corporação ainda afirmou que, posteriormente, prendeu um suspeito de furtar celulares na rua Henrique Schaumann, nas proximidades do bloco. Cinco aparelhos foram localizados com o detido.

Um dos casos de crimes ouvidos pela reportagem foi da funcionária pública Carla Gomes, 36. Ela diz que, durante tumulto para se proteger da chuva, foi segurada por dois homens que teriam levado seu aparelho celular e cartão de crédito.

Ao menos dez queixas foram feitas à reportagem, como a de Laura Dantas, 23, que aguardava na quilométrica fila do banheiro químico. "Pegaram do meu bolso. E com tanta polícia aqui é ainda mais revoltante", disse Laura. Três viaturas da polícia e mais de 20 agentes guardavam o local.

No centro, três homens foram presos na praça do Patriarca. PMs flagraram o momento em que eles praticaram um furto.

A Secretaria da Segurança Pública reiterou a importância de realizar o boletim de ocorrência para realizar o mapeamento dos locais onde crimes aconteceram.

Cidade tem cortejos de blocos esvaziados

A chuva forte que começou pouco depois no início da tarde atrapalhou foliões em diversos momentos do dia e em praticamente todas as regiões da cidade que recebem desfiles de blocos.

No final da manhã, o cantor paraibano Chico César abriu os festejos do pré-Carnaval paulistano no Ibirapuera sob uma garoa que logo virou chuva.

"Não acredito que bem hoje me vem essa chuva chata. Pelo amor de Deus, deixar para chover de madrugada ", reclamou a estudante Pamela Souza, 19, que veio do Jabaquara, para ver o bloco Estado de Folia de Chico César, pela primeira vez puxando um trio próprio em São Paulo. "Só de maquiagem, gastei R$ 50", conta.

O público muito aquém do esperado no Bloco da Favorita, em Santo Amaro, na zona sul de São Paulo, frustrou ambulantes.

"Está muito decepcionante. Por enquanto, não vendemos praticamente nada", disse André Luís de Oliveira, 50, que veio da Praia Grande, no litoral sul de São Paulo, para conseguir um dinheiro extra vendendo cerveja e refrigerante.

Na avenida Luis Dumont Villares, na zona norte, nem a atração compareceu. O bloco esperado para o início da tarde não havia aparecido até perto das 16h. Apenas policiais militares e comerciantes ambulantes estavam no local.

Ambulantes esperam clientes durante desfile de blocos esvaziado pela chuva no Ibirapuera, em São Paulo
Ambulantes esperam clientes durante desfile de blocos esvaziado pela chuva no Ibirapuera, em São Paulo - Adriano Vizoni/Folhapress

Dia de prejuízo para vendedores como Igor Santana da Silva, 42, que trocou o trabalho como motorista de aplicativo neste pré-Carnaval para tentar uma renda extra com a venda de bebidas.

Ele chegou à avenida por volta das 13h e, até as 16h, havia vendido R$ 200. O valor não paga o investimento de R$ 300 na mercadoria. Para pagar o ajudante e obter lucro, a expectativa era faturar R$ 500. "Tenho esperanças de que essa chuva vá embora."

Também comerciante no local, a costureira Jéssica Rodrigues, 32, desistiu de esperar a chuva passar.
Na avenida desde às 9h, abandonou o Carnaval por volta de 16h. Ela gastou R$ 700 em bebidas. Vendeu R$ 200.

Comerciantes reclamam de bloqueio a clientes

Comerciantes da Vila Madalena, na zona oeste, afirmaram que os blocos de Carnaval que circularam no bairro neste sábado prejudicaram o movimento dos seus estabelecimentos. Com várias ruas interditadas por causa dos desfiles, só era possível chegar a alguns dos estabelecimentos andando a pé.

Além da dificuldade de acesso, os comerciantes dizem também que o público dos blocos é diferente do que costuma frequentar os bares do local.

"De sábado, nós temos feijoada no almoço e recebemos muitas famílias com filhos. E esse público já não vem porque sabe que os blocos de Carnaval circulam na região", diz Nina Pires, dona do Quitandinha, na esquina das ruas Aspicuelta e Fidalga.

A alguns metros dali, o gerente do bar Salve Jorge, Francisco Santos Souza, também lamentava o número escasso de clientes. "Neste horário (por volta das 17h30), nós estaríamos lotados em um sábado sem o pré-Carnaval", diz ele.

"Os nossos clientes costumam vir de carro, mas hoje os estacionamentos próximos fecharam por causa dos blocos e Uber não consegue chegar até aqui", afirma.

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