Datafolha: 1 de cada 4 acha que responsabilidade por tragédia no litoral de SP é de prefeituras

Só 2% dos entrevistados afirmam que natureza ou chuva seriam as principais culpadas pelo desastre

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São Paulo

Uma de cada quatro moradores do estado de São Paulo considera que as prefeituras são as principais responsáveis pelo desastre que causou 65 mortes no litoral norte durante o feriado de Carnaval.

O governo estadual e os próprios moradores —com 15% cada um— aparecem na sequência. Apenas 2% dos entrevistados apontam a natureza ou a chuva como principais culpadas pela tragédia.

Os dados são de pesquisa Datafolha, que ouviu 1.806 pessoas de 16 anos ou mais, em 65 municípios paulistas. As entrevistas foram feitas presencialmente entre os dias 3 e 5 de abril. A margem de erro é de 2 pontos percentuais.

O litoral norte de São Paulo recebeu um alto volume de chuvas no final de fevereiro que causaram deslizamentos e inundações, deixando dezenas de mortos e centenas de desabrigados. A cidade mais atingida foi São Sebastião, em especial os bairros da Barra do Sahy, Camburi, Barra do Una e Juquehy.

A pesquisa mostra que a inclinação política dos entrevistados influencia as respostas. Entre eleitores do PL, partido de Jair Bolsonaro (PL), sobe para 34% o percentual dos que culpam as prefeituras e para 24% dos que acreditam que a maior responsabilidade é dos próprios moradores. Neste grupo também cai para 8% o índice de quem responsabiliza o governo estadual —o governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é aliado do ex-presidente.

As respostas de eleitores do PT, de outras legendas ou daqueles que não têm um partido de preferência variaram próximas da margem de erro, em até três pontos percentuais, na comparação com os números gerais.

Equipes da prefeitura e moradores limpam lama de casas e vias da Vila Sahy, na praia da Barra do Sahy, em São Sebastião
Lama derrubou casas e tomou as ruas por dias na Vila Sahy, na praia da Barra do Sahy, em São Sebastião - Adriano Vizoni - 1.mar.2023/Folhapress

Os resultados também variaram de acordo com os votos declarados no segundo turno das eleições de 2022. Entre quem votou em Bolsonaro, 27% atribuem a maior parte da responsabilidade às prefeituras, 19% aos próprios moradores e 13% ao governo estadual.

Para quem votou em Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os índices foram de 26%, 11% e 18%, respectivamente. Já entre os que anularam ou votaram em branco para presidente, os percentuais ficaram em 22% (prefeituras), 11% (os próprios moradores) e 18% (governo estadual).

Entre os eleitores de Fernando Haddad (PT), que perdeu a disputa em São Paulo para Tarcísio, a parcela dos que culpam o governo estadual sobe para (21%). Também neste grupo, grande parte das pessoas (24%) diz que as principais responsáveis são as prefeituras, e cai para 11% o percentual dos que culpam os próprios moradores.

Segundo quem votou em Tarcísio, os principais responsáveis são: as prefeituras (28%), os próprios moradores (18%) e o governo estadual (12%).

O índice dos que responsabilizam as prefeituras também é mais alto entre aqueles que têm ensino superior, chegando a 31%; fica em 22% entre quem estudou até o ensino fundamental e médio.

A mesma pesquisa do Datafolha mostrou que nove entre dez brasileiros acham que vão sofrer impactos das mudanças climáticas na vida pessoal.

Além disso, dois terços da população dizem acreditar que a vida será muito prejudicada por eventos climáticos extremos nos próximos cinco anos e 95% das pessoas acham que a parcela mais pobre sofrerá mais com esses efeitos.

A tragédia em São Sebastião deixou 65 mortos, sendo que um foi encontrado em Ubatuba e 64 no Sahy, principalmente na Vila Sahy, porção mais pobre do bairro.

Mesmo antes do desastre, a região já era considerada especialmente vulnerável: nos últimos dez anos, a prefeitura de São Sebastião (SP) recebeu pelo menos quatro alertas de diferentes instituições sobre o risco iminente de deslizamentos.

Entre eles, um parecer técnico do Ministério Público de São Paulo de 2020 concluiu que a manutenção da área como estava era "uma verdadeira tragédia anunciada".

Também foram feitos estudos detalhados pela Unicamp, em 2013, e pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas, em 2018, além de uma proposta do ano passado da Universidade Mackenzie e da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do estado, que recomendava o deslocamento das famílias para um terreno próximo, com financiamento do governo de São Paulo.

À época do desastre, a prefeitura de São Sebastião respondeu sobre estes alertas que gestões anteriores não cumpriram acordos relativos à regularização fundiária e que "o atual governo adotou medidas concretas para minimizar os riscos à população".

"O que estava ao alcance da Prefeitura de São Sebastião neste período foi feito, não apenas quanto à prevenção, mas, sobretudo, para conter os avanços dos erros do passado", diz o órgão, em nota.

Na sequência da tragédia, o governo de São Paulo anunciou que os desabrigados e desalojados pelas chuvas seriam acomodados em hotéis e pousadas da região e, depois, transferidos para conjuntos habitacionais de moradias populares.

Reportagens da Folha mostraram que, desde os anos 1990, a população dobrou e a ocupação quadruplicou no litoral paulista. O fenômeno foi impulsionado pela construção de casas de veraneio e condomínios de alto padrão entre a faixa litorânea e a estrada, que atraiu mão de obra para as edificações e para o turismo.

Uma consequência dessa explosão habitacional foi o aumento das construções em áreas com elevado risco de deslizamento, junto à Serra do Mar.

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