Descrição de chapéu Cracolândia drogas

Prefeitura de SP inicia remoção de barracas de pessoas em situação de rua

Medida acontece após Justiça derrubar liminar que impedia retirada; Nunes afirma que não aceitará montagem das estruturas durante o dia

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São Paulo

A Prefeitura de São Paulo iniciou na manhã desta segunda (3) a remoção de barracas de pessoas em situação de rua de calçadas e vias de diversas regiões da cidade.

A medida foi tomada após o Tribunal de Justiça de São Paulo derrubar liminar que proibia a retirada das barracas, que havia sido obtida por Guilherme Boulos (PSOL-SP). O deputado federal diz que vai recorrer.

A operação começou pela região da cracolândia, e o ponto escolhido foi a esquina da rua dos Gusmões com a rua Conselheiro Nébias, no centro da capital. Com o início da limpeza, o fluxo —como é chamada a aglomeração de dependentes químicos— se concentrou a poucos metros de distância dali, na esquina das ruas Guaianases e Vitória.

Agentes da GCM e da Prefeitura de SP trabalham na retirada de barracas das ruas dos Gusmões e Conselheiro Nébias, no centro, nesta segunda (3) - Danilo Verpa/Folhapress

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) afirmou que não aceitará que barracas de moradores de rua continuem montadas durante o dia na capital. "Não vou deixar barraca na cidade. A cidade precisa ter organização e ordem", declarou.

Segundo Nunes, as barracas afetam a livre circulação de outros cidadãos. Além disso, a montagem em excesso dos equipamentos causa desorganização na cidade.

Segundo o inspetor Matias, da Divisão de Operações Especiais da Guarda Civil, até as 11h30 a operação havia removido 18 barracas.

"As barracas não são para proteger as pessoas, são para vender drogas. São as lojinhas deles. A ação ocorre em outros locais, mas a gente vai se concentrar onde tem um fluxo maior. Geralmente se concentram de 500 a 1.000 usuários aqui", explicou o inspetor sobre o caso da cracolândia. A prefeitura planeja realizar essa ação em todo o todo o município, de forma integrada a outros serviços de zeladoria.

A retirada deve ser feita após uma oferta de acolhimento em centros que a prefeitura disponibiliza para moradores de rua. Caso a pessoa não aceite ir a algum dos locais ofertados pela gestão municipal, a barraca pode mesmo assim ser retirada.

Ela é colocada em um recipiente, que é lacrado e direcionado para a prefeitura. O proprietário recebe uma parte do lacre para que ele consiga retirar a barraca posteriormente.

Caso a prefeitura não localize o dono de uma barraca, os agentes públicos ainda podem apreender o equipamento. "Se a pessoa deixou uma barraca no local e não estava, aí é mais grave ainda", disse Nunes.

A medida só é válida para os períodos da manhã —à noite, as barracas podem continuar montadas nas ruas. "Se quiser montar de noite, não tem problema. Mas é preciso que as pessoas compreendam que durante o dia não é razoável que fiquem barracas no meio da rua", continuou o prefeito.

Nunes diz que uma das justificativas para a retirada de barracas é a oferta de espaços da prefeitura para moradores de rua viverem. "Uma vez que a gente tem as condições de ofertar acolhimento, pode pedir para pessoas educadamente desmontar a barraca visando que mantenha a ordem na cidade. Se a pessoa insistir em não desmontar, a prefeitura vai ter que agir."

Segundo o prefeito, existem vagas ociosas nos centros de acolhimento. Nunes também afirma que se os locais forem totalmente preenchidos, a gestão tomará medidas para ampliá-los de modo emergencial.

Mas os albergues têm vários problemas estruturais. Conforme a Folha já mostrou, alguns desses locais não têm chuveiro e contam com vasos sanitários entupidos, corrimão quebrado e infestação de percevejos.

Operação na cracolândia

De acordo com o inspetor Matias, Guarda Civil , o objetivo da ação é reorganizar o espaço público.

"Isso aqui é mais uma reorganização do espaço público para tirar o lixo, a sujeira. Quando faz a operação, vêm os caminhões de limpeza, de lavagem. Aqui já fechou banco, lojas, e os comerciantes que pagam impostos ficam à mercê disso e não aguentam mais", afirmou.

Questionado sobre a possibilidade de que barracas voltem a ser montadas no local, ele afirmou que não pode garantir que não o espaço não será ocupado novamente.

"É difícil. A solução eu não tenho. Só a internação compulsória porque esse pessoal não tem mais discernimento, está à mercê do traficante", concluiu.

Uma mulher de 81 anos, moradora da região há 50 anos, acompanhava a operação. Ela, que não quis se identificar, disse que nunca viu a cidade tão abandonada e contou que convive com o medo de ser assaltada. Disse, ainda, que apoia ação da prefeitura desde que seja duradoura.

Caminhão recolhe sujeira em área da cracolândia - Danilo Verpa/Folhapress

O comerciante Luis Felipe dos Santos, 22, trabalha há cinco anos em uma loja de motopeças na rua Conselheiro Nébias. Ele disse aguardar uma solução definitiva para a questão da cracolândia.

"Eles tiram os usuários, fazem limpeza, mas depois de cinco minutos volta a mesma coisa", lamentou. "Eles ficam todos em frente à loja. O banco fechou, três lojas fecharam e o estacionamento está para fechar. Nós já estamos querendo sair daqui. O comércio aqui está totalmente desvalorizado, afetou muita gente. Não tem mais condições."

Neste domingo (2), dependentes químicos atearam fogo a sacos de lixo nas ruas do centro. Segundo a Polícia Militar, os incêndios foram provocados em reação a uma abordagem no local horas antes.

"Ontem teve confronto, a gente fica com medo porque nunca sabe quando eles vão entrar na loja. Na região vive tendo assalto, eles não respeitam nem a polícia", continuou Santos.

Outra comerciante, que também não se identificou, disse encarar a operação de remoção das barracas como "palhaçada". Para ela, a prefeitura está apenas lavando "o quarto e a sala" dos usuários, que na sequência voltam a ocupar o espaço.

O trabalho foi acompanhado por agentes de saúde, que tentavam abordar os dependentes químicos para oferecer tratamento.

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