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É vício? Entenda os diferentes graus de dependência das redes sociais

Mau uso de plataformas tem diferentes fases e é preciso atenção para excessos, dizem especialistas

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São Paulo

O uso excessivo de redes sociais, principalmente em jovens menores de 18 anos, preocupa médicos e entidades que combatem a chamada dependência tecnológica. Especialistas alertam, porém que não é apenas o uso das plataformas por longas horas que define o vício, mas a falta de controle e a dominância sobre outras ações.

Pesquisas procuram identificar quais os sinais e riscos do uso excessivo das redes sociais por jovens
Pesquisas procuram identificar quais os sinais e riscos do uso excessivo das redes sociais por jovens - Catarina Pignato

"Sou médico e uso o WhatsApp o dia inteiro para responder pacientes. Isso quer dizer que eu estou dependente porque eu estou usando demais? Não, porque é algo que faz parte da minha profissão", afirma Rodrigo Menezes Machado, psiquiatra colaborador do Ambulatório de Transtornos do Impulso do Instituto de Psiquiatria da USP (Universidade de São Paulo).

Machado admite que é impossível negar a tecnologia, porém a questão da dependência está relacionada à perda de controle. "É aquela sensação de 'nossa, peguei meu celular e só ia olhar algo muito específico no Instagram. Passei mais de três horas."

Aliada à falta de controle estão os prejuízos em outras esferas da vida, como a acadêmica, a social e a familiar. Por exemplo, a pessoa que prefere ficar nas redes sociais a sair com os amigos, diminui os vínculos sociais, o desempenho acadêmico cai, o trabalho deixa de ter o rendimento que tinha antes e afeta o sono.

Katia Ethiénne dos Santos, professora da PUC Paraná, tem pós-doutorado na área de educação digital e afirma que existe desde 2015 o conceito chamado "onlife". Ele consiste na fronteira entre os universos físico e virtual, de maneira que já não temos mais percepção do que é um e do que é outro. "Dentro desse contexto hiperconectado, é difícil ficarmos longe, manter o equilíbrio. É fundamental que o mesmo cuidado que temos com as outras tecnologias, como foi com a televisão, também exista para as redes sociais, especialmente quando somos pais ou responsáveis de crianças e jovens", afirma.

Pensando na dependência, o Geat (Grupo de Estudos sobre Adições Tecnológicas) criou um repositório de dados onde estão compilados os resultados da pesquisa sobre vício em tecnologia.

A ideia é que a plataforma seja utilizada por pais, responsáveis, educadores e profissionais da saúde para orientar os jovens sobre segurança digital, como identificar padrões de comportamento de vício, quais os tipos de acessos que apresentam maior risco e o que fazer.

A OMS (Organização Mundial da Saúde) já classifica a "gaming disorder" (distúrbios de jogos eletrônicos) como uma condição mental com classificação específica na lista de enfermidades de importância médica (chamada CID).

Alguns sintomas da desordem são o controle total do jogo na vida, como uma prioridade acima até de outras atividades, como dormir, comer e praticar a higiene. O comportamento de jogar contínuo se sobrepõe a todas as outras práticas, mesmo quando há risco de consequências negativas ao indivíduo.

O Instituto Delete, grupo de pesquisa ligado à UFRJ que oferece tratamento para consumo exagerado de tecnologia. Todas as sextas-feiras, o Delete oferece atendimento gratuito aberto ao público no Instituto de Psiquiatria e possui um teste relacionado a vício de telas no site.

O instituto divide os níveis de uso em redes sociais em três níveis, entenda quais são cada um deles:

Usuários conscientes

O usuário consciente, que é quando o virtual não atrapalha o real. Eduardo Guedes, coordenador do Instituto Delete, afirma que é comum que pessoas pensem que desenvolveram dependência às telas porque utilizam durante muitas horas. Porém, não é bem isso.

"As pessoas que tem um comprometimento ou dependência usam muito, mas nem todo mundo que usa muito tem dependência. O usuário consciente pode usar muito, mas o virtual não atrapalha o real."

Usuário abusivo

Nesse caso, o virtual atrapalha a realidade do usuário, mas existe um nível de controle. Guedes exemplifica como situações em que a pessoa de você estar numa mesa de refeição, mas não consegue tirar os olhos do celular ou ainda usa o aparelho enquanto dirige. "Há o controle, mas existe um comprometimento", explica ele.

Neste caso, o instituto sugere orientações, como rodas de conversas e educação continuada para os pais.

Usuário dependente

Neste caso, o virtual atrapalha o real e existe um nível de perda de controle, ou seja, em que tem um transtorno uma dependência de tela. Guedes explica ainda que dependência de tela sempre está associada a um transtorno primário que pode ser ansiedade, depressão, pânico.

Para essa parcela de pacientes, o instituto trata o transtorno primário e também faz um trabalho relacionado ao processo de dessensibilização da tecnologia. "Não pregamos a abstinência, mas a gente orienta o sobre o uso consciente. Ao contrário do álcool, que é uma droga visível, a dependência de tela é uma dependência quase invisível."

No caso do dependente, há níveis também categorizados pelo Instituto Delete. São eles:

Excitação e segurança

  • Nesta etapa, a tecnologia se tornou a única fonte de prazer e segurança do usuário. Por exemplo, quando o videogame se torna o único prazer e é substituído por todas as atividades da vida real e começa a se tornar um problema. Ou, ainda, quando o adolescente acompanha o número de curtidas em um post nas redes sociais e aquilo é o único meio de felicidade.

Relevância

  • Esta categoria está relacionada ao quanto a tecnologia é relevante na vida da pessoa. Por exemplo: a pessoa acorda, já se conecta, vai para o banheiro e leva o celular.

Tolerância:

  • Esta etapa está ligada ao usuário que não consegue tolerar a vida sem tecnologia. O Instituto Delete, por exemplo, já recebeu relatos de crianças que não vão até a casa dos avós porque não tem wi-fi no imóvel.

Abstinência:

  • Quando o usuário, quando não está conectado, passa a sentir irritabilidade, angústia, mau humor, percepção alterada de tempo. Eduardo Guedes afirmam que há pacientes que chegam ao ponto de negligenciar a própria saúde e higiene. Por exemplo, adolescentes que acordam, se conectam, ficam de pijama, não tomam banho, não escovam os dentes e comem do lado do computador.

Conflitos:

  • Aqui, está relacionado aos conflitos na vida real diretos e indiretos devido ao uso da tecnologia, por exemplo, pai que briga com o filho ou ainda perda de rendimento no estudo e trabalho.

Como evitar que uso de redes sociais se torne um vício

  • Restringir o uso em crianças menores de 7 anos para algumas poucas horas

  • Controlar o conteúdo acessado, principalmente por jovens na faixa de 7 a 12 anos

  • Passar mais tempo juntos, praticando atividades que estimulem o físico e também a criatividade das crianças, como jogos e brincadeiras

  • Ter uma rede de apoio que ajuda a ouvir e conversar com a criança sobre valores

  • Ao menor sinal de mudança de comportamento, como falta de sono e de apetite, conversar para entender se ela está sofrendo com vício nas redes sociais e celular

  • Conversar, principalmente com os mais jovens, sobre o que deve ou não ser compartilhado nas redes

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