Descrição de chapéu ataque a escola

Mentor intelectual de ataque a escola de Cambé foi investigado por terrorismo, diz delegado

Jovem teria planejado ataques em Pernambuco; ele também respondeu por armazenar material de 'pornografia infantil'

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Londrina (PR) e Curitiba

Apontado pela Polícia Civil do Paraná como mentor intelectual do ataque a uma escola de Cambé (PR) no dia 19 de junho, o jovem de 18 anos que vive em Gravatá (PE) foi investigado por terrorismo no ano passado, quando era menor de idade, de acordo com o delegado-chefe da Polícia Civil em Londrina (PR), Fernando Amarantino Ribeiro.

Em outubro de 2022, então com 17 de anos de idade, ele foi investigado por suspeita de terrorismo, por planejar ataques a escolas em Pernambuco. "Ele respondeu a um procedimento, e o caso foi encaminhado à Vara da Infância e Juventude", disse Ribeiro.

Ex-aluno matou dois adolescentes em ataque a tiros no Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé (PR) - Silvano Brito - 19.jun.23/Tarobá News

De acordo com o delegado, os ataques em Pernambuco só não foram concretizados porque a investigação policial os teria descoberto a tempo.

À época, durante as buscas na casa do jovem, a Polícia Civil também localizou imagens de 'pornografia infantil' nos eletrônicos apreendidos com o estudante, que trabalhava com o pai em um pequeno comércio na cidade do interior pernambucano.

Agora ele é suspeito de ser o mentor intelectual do ataque ao Colégio Estadual Professora Helena Kolody, em Cambé.

Procurado, o advogado Wilson Barros de Araújo Júnior, responsável pela defesa do rapaz de 18 anos, se manifestou através de uma nota, na qual pondera que ainda não teve acesso ao relatório final do inquérito policial sobre o caso de Cambé, concluído nesta quarta (28). Ele antecipa, contudo, que não vê seu cliente como "mentor intelectual" do ataque à escola.

"Salvo melhor juízo, o acusado jamais poderia ter sido enquadrado como autor intelectual dos fatos. Importante ressaltar que o acusado tem hoje 18 anos e aproximadamente 2 meses, e que, segundo informações, o único autor do fato teria mais de 21 anos e que programava a prática do ato criminoso há mais de 4 anos", diz trecho da nota da defesa.

Ele está preso desde o dia 21 e foi indiciado nesta quarta (28) por homicídio qualificado. Dois adolescentes foram mortos no ataque, executado por um ex-aluno da escola, de 21 anos. Ele entrou sozinho no colégio e disparou ao menos 16 vezes contra os estudantes.

Preso em flagrante, o ex-aluno depois foi encontrado morto na cela, na Casa de Custódia de Londrina - a suspeita é de suicídio, mas a investigação ainda não foi concluída.

O caso gerou cinco prisões no total - além do atirador e do jovem de 18 anos, outros três homens foram detidos, de 21, 35 e 39 anos.

O rapaz de 21 anos também foi indiciado nesta quarta por homicídio qualificado. Ele é suspeito de dar suporte ao atirador. Os outros dois homens mais velhos não teriam relação direta com os crimes - eles ainda estão sendo investigados por venda ilegal de arma de fogo e munições.

O atirador paranaense e o jovem de Pernambuco teriam se conhecido em 2021 por meio das redes sociais e estariam planejando o ataque desde então.

Ainda de acordo com a Polícia Civil, o jovem teria cogitado realizar em Pernambuco um ataque paralelo ao de Cambé, no mesmo dia.

"O que chama a atenção é que a complexidade desta investigação vem muito por causa do conhecimento técnico desses jovens. Eles trocam de nomes e apelidos como a gente troca de roupa, é um jogo de gato e rato. Têm conhecimento para acessar um computador de Pernambuco com o IP em Santa Catarina", disse Ribeiro.

O conteúdo que circula na plataforma Discord também virou alvo da investigação. Segundo o delegado, o aplicativo foi usado pela "célula" na preparação do ataque.

"Pessoas criam comunidades [nas plataformas] e ali conversam e compartilham crueldades. Esse jovem de Pernambuco era detentor de um desses grupos, e à medida que a pessoa pratica maldade, recebe bônus monetário em dinheiro ou ganho hierárquico dentro do grupo. Se ela mata um animal, induz uma pessoa a automutilação, mata outra pessoa ou faz um ato como esse em Cambé, passa a ser administradora do grupo ou ganha dinheiro", disse Ribeiro.

Questionado sobre os valores pagos pelos atos de crueldade, o delegado respondeu que a investigação ainda precisa se aprofundar e que os pagamentos eram realizados por contas bancárias de terceiros. "Estamos na fase de identificação dessas contas."

Procurado, o Discord disse que "não comenta casos específicos", como o de Cambé. Mas acrescenta que "está comprometido em cooperar com as agências de aplicação da lei no Brasil enquanto trabalhamos em direção ao objetivo comum de prevenir danos".

"Enquanto continuamos a investir pesadamente em equipe especializada e tecnologia para detectar proativamente comportamentos prejudiciais, também contamos com moderadores e usuários do Discord para registrar denúncias, que revisamos e investigamos de forma escalonada", diz.

Além de prender o jovem de 18 anos, na semana passada a polícia cumpriu mandados de busca e apreensão na casa dele em Gravatá.

"O material está apreendido na Polícia Civil de Pernambuco e será trazido de lá por um policial nosso, para que possamos aprofundar ainda mais a investigação [sobre a rede de crimes], não em relação ao fato de Cambé, que está solucionado", afirmou o delegado-chefe.

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