Descrição de chapéu Obituário Elzira Lemos Moreira (1913 - 2023)

Mortes: Em seus 110 anos, viu a história passar sem perder o bom humor

Nascida no Rio de Janeiro no início do século passado, Elzira Lemos Moreira dançou e tocou pandeiro na sua última festa de aniversário

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São Paulo

No último 25 de janeiro, dona Elzira dançou e tocou pandeiro, estripulias comuns no dia do aniversário, até para ela, que celebrava seus 110 anos.

Elzira Lemos Moreira nasceu em 1913. Naquele ano, o americano Henry Ford inaugurava a primeira linha de montagem de automóveis do mundo. Antenada em tudo o que acontecia, a fluminense de Tinguá, na região de Nova Iguaçu, deve ter visto pela TV (inventada quando ela já tinha 13 anos) que os carros hoje em dia nem precisam mais de motoristas, pois até rodam sozinhos.

Idosa na frente de bolo com velas de 110 anos
Elzira Lemos Moreira (1913 - 2023) - Arquivo pessoal

Dona Elzira testemunhou a evolução das coisas e viu a história passar com bom humor. Mas nem sempre foi assim. Caçula de três irmãos, perdeu os pais em menos de três meses, quando estava perto de completar 18 anos. Teve de se mudar para a casa de um tio.

Lá viveu até se casar, aos 24 anos de idade, com Valdemar, um conhecido da família com quem moraria durante quase meio século, até o marido morrer em 1985.

Na sua vida mais que centenária, a mulher teve oito filhos —três deles já morreram. Uma nasceu nas mãos da própria mãe, porque a parteira demorou para chegar.

Do marido, espírita, herdou caridade e ajuda humanitária. "Meu avô levava moradores de rua doentes para casa e minha avó cuidava deles", diz a neta Lilian Figueiredo Moreira, 47.

Ela se lembra de que sua avó sempre traçava metas e dizia sonhar com a virada de 1999 para 2000. Testemunhou a data e muito mais.

O passar dos anos costumava ver ao vivo. Assistiu presencialmente à queima de fogos de Réveillon na praia de Copacabana até seus 105 ou 106 anos de idade.

No Natal, a dona de casa, que nos últimos 50 anos morou em Cascadura, na zona norte da cidade do Rio de Janeiro, fazia questão de ter castanha à mesa.

Festeira, tomava uma cervejinha de vez em quando e vinho, na hora do almoço. Também fazia um bolo de milho famoso.

Suas comemorações de 90, 100 e 110 anos foram verdadeiros acontecimentos em família —nas duas últimas décadas cheias, aliás, recebeu vídeo e áudio de parabéns gravados por Cid Moreira, pois o ex-apresentador do Jornal Nacional era conhecido de um neto que trabalhou na Rede Globo.

Gostava de futebol, do Vasco e do jogador Edmundo —quando o ex-atacante deu show em campo e conquistou o título brasileiro em 1997, ela nem havia chegado aos 85 anos ainda.

Elzira recebeu uma placa da Prev-Rio como a pensionista mais idosa do sistema de previdência da Prefeitura do Rio de Janeiro.

A longevidade aos poucos, porém, deu sinais de cansaço nos últimos meses. A mulher, que nunca foi de tomar remédio, teve de ser internada com pneumonia.

Elzira Lemos Moreira morreu no último dia 28 de junho, aos 110 anos. De velhice, segundo a família. Ao todo, teve oito filhos, 23 netos 24 bisnetos, 12 trinetos e 1 tataraneto. No velório, os parentes cantaram "A Jardineira", sua marchinha de Carnaval preferida.


coluna.obituario@grupofolha.com.br

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