Um ano após reabertura, Museu do Ipiranga aquece entorno e atrai gangue da bicicleta

Ambulantes veem aumento nas vendas; Gestão Tarcísio afirma que vai intensificar policiamento na região

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São Paulo

Há 22 anos trabalhando como ambulante de água de coco em uma das entradas do parque da Independência (na zona sul de São Paulo), Wilson Dantas, 53, o Popó, é categórico em dizer que nunca vendeu tanto seus produtos quanto neste ano.

O aumento das vendas aconteceu depois da reabertura do Museu do Ipiranga, que aconteceu em 6 de setembro do ano passado.

Antes, segundo ele, o local abrigava apenas a exposições de carros antigos. "No começo da tarde, todos iam embora e eu não vendia mais nada", diz ele, diante da barraca equipada com uma caixa de som que só toca rock. De uma média de 100 cocos em um dia movimentado, Popó conta que passou a vender 400 unidades no fim de semana.

Wilson Dantas, o Popó, viu a venda de água de coco dobrar em um ano após a reabertura do Museu do Ipiranga - Rubens Cavallari/Folhapress

Em um ano, o museu atraiu 630 mil visitantes, em maior parte, no mês de julho, o mais concorrido por causa das férias escolares.

O sucesso de público neste primeiro ano de funcionamento do Museu do Ipiranga se refletiu em aumento da visitação no Museu de Zoologia, vizinho da imponente atração histórica. As duas instituições são vinculadas à Universidade de São Paulo (USP).

Entre janeiro e agosto deste ano, o acervo de história natural recebeu praticamente o dobro de visitantes em comparação com o mesmo período em 2022 –de 79,5 mil passou para 151,9 mil, alta de 90%.

"Para alguns meses, tivemos um aumento de mais de 100% após a reabertura do Museu Paulista [nome oficial do Museu do Ipiranga]", diz o diretor do museu, Marcelo Duarte. "Além do fluxo maior no Museu Paulista, o museu de Zoologia também ampliou suas atividades interativas com o público, com o aumento de monitores que colaboram com atividades educativas, em todos os dias."

Ambulante em frente à entrada principal do Museu do Ipiranga desde 1998, José Luís Alves da Cunha, 61, também comemora a alta nas vendas. Desde a reabertura, ele passou a contratar dois ajudantes para agilizar os atendimentos nos carrinhos de sorvete, água de coco e milho verde cozido aos finais de semana, quando há maior movimento.

Sua maior preocupação, porém, é com o aumento de furtos de celular que passou a presenciar na medida em que a clientela cresceu. "O ladrão vem de bicicleta pela ciclovia e toma o aparelho de qualquer um que estiver com ele na mão", diz. "Fico constrangido porque a pessoa está aqui no meu carrinho tomando um coco e é roubada", continua.

Entre janeiro e julho deste ano, a região do 17º distrito policial (Ipiranga), que atende o entorno do museu, registrou alta de 20% nos furtos em comparação com o mesmo período em 2022, antes da reabertura. O percentual é mais do que o dobro do registrado em toda cidade, que teve aumento de 8% nos furtos nos primeiros sete meses do ano.

Em maio deste ano, a região registrou 286 boletins de ocorrência por furtos, o maior número na região em dois anos. Até então, a maior alta havia sido em setembro do ano passado, quando foram contabilizados 257 casos, mesmo mês em que o museu foi reaberto após ter ficado quase dez anos fechado para reformas.

Em nota, a gestão do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), por meio da secretaria de Segurança Pública (SSP), afirmou que a Polícia Militar irá intensificar o policiamento na região. A Polícia Civil prendeu 11 suspeitos na área próxima ao parque, segundo a pasta.

Ao lado da entrada principal do Museu do Ipiranga, um posto de gasolina desativado que, antes da reabertura recebia food trucks, ganhou estrutura fixa de contêineres e se transformou em uma praça de alimentação com cerca de dez estabelecimentos que vendem sushis, lanches e doces.

"O movimento melhorou 70% quando abriu porque havia a empolgação da entrada ser de graça", diz o comerciante Roberto Fabiano, 52, que vende hambúrgueres, porções e waffle bubbles, "um cone de waffle recheado que existe no Japão", explica.

Os ingressos que eram distribuídos de forma gratuita passaram a custar R$ 30 desde o começo de junho. Segundo a administração do museu, com a mudança, as entradas estão esgotadas apenas aos finais de semana. Nos primeiros meses após a reabertura, os ingressos chegaram a esgotar em cinco minutos e havia fila de espera pelos ingressos gratuitos.

A entrada será franca todas as quartas-feiras, no primeiro domingo do mês, nesta quinta-feira (7), feriado do Dia da Independência, e no aniversário de São Paulo, em 25 de janeiro de 2024.

Os comerciantes do entorno atribuem ao início da cobrança a queda do movimento após quase um ano de vendas aquecidas. "A maior procura foi em julho, no período de férias, quando vêm excursões de outros estados e estrangeiros", diz Celeste Leopoldino Fernandes, 66, dona de um contêiner que vende comida mineira na praça de alimentação em frente ao museu.

Ao lado do marido, João Batista Fernandes, 71, ela conta que a feijoada e as porções costumam atrair também casais de noivos e debutantes que posam para ensaios fotográficos com o museu como cenário. "Pessoal sempre acaba vindo aqui, mas diminuiu desde que começaram a cobrar entrada", diz a comerciante.

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