Descrição de chapéu Coronavírus

Como ajudar o Nordeste que corre atrás de doações concentradas em Rio e SP

Com 18% dos casos confirmados de Covid-19, região vive situação crítica, agravada pela falta de água e de hospitais

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São Paulo

A crise do coronavírus e seus impactos na economia levou à paralisação de projetos essenciais da ONG Amigos do Bem, que atende 75 mil pessoas em 130 povoados do sertão de Alagoas, Pernambuco e Ceará.

“Em março, tivemos que fechar nossos centros educacionais e mais de 10 mil crianças deixaram de receber nossas refeições diárias. Elas voltaram para suas casas de taipa, e estão passando fome", diz Alcione Albanesi, fundadora da organização que atua há 26 anos nas regiões mais carentes do país.

A arrecadação de alimentos em supermercados de São Paulo para socorrer as famílias atendidas pela ONG no Nordeste também não ocorreu como de costume. "Acontece no corpo a corpo, nos caixas, o que se tornou inviável durante a pandemia", explica a empreendedora social da Rede Folha, vencedora da categoria Escolha do Leitor do Prêmio Empreendedor Social em 2019.

"Se o coronavírus se espalhar no sertão, vai ser a maior tragédia", teme Alcione, lembrando que ao coronavírus vão se somar problemas como a falta d’água para beber e para higiene pessoal.

Sem falar carência de infraestrutura no atendimento à saúde. "Um dos hospitais da nossa região possui somente 12 leitos, sem lençol, álcool gel ou equipamentos, para atender uma população local de mais de 60 mil pessoas”, relata Albanesi. “O problema é ainda mais grave pois as pessoas estão a quilômetros de um hospital, sem transporte. É um desespero."

Um dos socorros iniciais veio da XP Investimentos, que na última semana de março lançou a campanha juntostransformamos.com.br, criada pelo empresário Guilherme Benchimol, com a doação inicial de R$ 25 milhões para uma dezena de ONGs, entre as três primeiras, a Amigos do Bem.

"Conseguimos levar alimentos para milhares de famílias que vivem em situação de extrema miséria e abandono”, afirma a fundadora da Amigos do Bem.

Alcione diz que, até agora, chegaram a 50% da meta de ajuda para os três meses mais críticos. Por isso, criaram um plano de ação emergencial, em que a ideia é conseguir 60 mil cestas básicas, 20 mil por mês.

"Quanto mais pessoas físicas doam, mais sustentável é o projeto", diz ela. Para colaborar, basta acessar www.amigosdobem.org/acaoemergencial.

Na mesma trincheira está Marcella Balthar, da rede Transforma Recife, numa luta cotidiana para socorrer com cestas básicas as famílias afetadas pela pandemia no Nordeste.


A região é a segunda com mais casos confirmados da Covid-19, com 18%, depois do Sudeste, com 58%, de acordo com o Ministério da Saúde.

A Transforma Recife reúne e conecta 600 organizações sociais em Pernambuco, que passaram a atuar para responder à urgência de alimentar as comunidades mais vulneráveis. "O desespero geral é por comida e água", diz Marcella.

Até esta segunda-feira (6), a rede captou 9.000 cestas básicas no Recife. As doações foram armazenadas em uma igreja. A Associação de Supermercados de Pernambuco (ASP) doou 3.000 cestas.

“A ajuda têm sido de impacto, com prioridade para os idosos", comemora Marcella.

Ao todo, conseguiram somar R$ 432 mil em doações, em pouco mais de dez dias, entre pessoas físicas e empresas. "Isso significa uma grande captação, porque as grandes players não estão no Nordeste”, afirma Marcella.

Ela calcula serem necessárias ao menos 12 mil cestas básicas para doação em abril. “Vamos aumentar nossa capacidade de captação", aposta, prevendo ações também no sertão com o aumento da mobilização.

As doações na casa de milhões têm sido endereçadas ao Sudeste e para campanhas da área de saúde, ampliação de leitos e apoio a hospitais.

"É preciso descentralizar as doações, a distribuição para os outros estados é pequena. É claro que o Sudeste precisa de ajuda, mas devemos nos mobilizar para levar apoio a todas as regiões ", diz a empresária Tatiana Monteiro de Barros, uma das criadoras do movimento União BR, que começou com as regionais União Rio e União SP.

Esta semana, o movimento chega aos estados do Nordeste, com União PE, União BA, além subgrupos em Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, que começam a se articular com voluntários e captação de doações.

"Estamos replicando o modelo que já funciona no Sudeste para outros estados. Abrimos os caminhos em cada região, montamos as bases e conectamos as pontas, para fazer as doações chegarem a quem precisa", explica Tatiana.

Voluntária no movimento da sociedade civil, criado a partir de um grupo de Whatsapp, ela mesma apelou para empresas como Sadia e Perdigão, clientes de sua agência de marketing, para conseguir direcionar alimentos doados por essas companhias para o Nordeste. Para ajudar Pernambuco, acesse o instagram @uniaopeorg.

"Inicialmente, os recursos serão utilizados para distribuir alimentos e produtos de limpeza e higiene a comunidades vulneráveis em todo o estado, e nas próximas etapas, para fornecer equipamentos de proteção individual (EPIs) para profissionais de saúde que estão na linha de frente", diz Tatiana.

A demanda por ajuda vem dos nove estados do Nordeste. Nesta segunda-feira (6), o Ceará chegou 1.013 casos de Covid-19 e 29 mortos em decorrência da enfermidade, pouco menos de um mês após a primeira transmissão do novo coronavírus no estado, em meados de março.

A Secretaria da Saúde do Ceará confirmou os três primeiros casos da doença no dia 15 de março. "Nesta semana, o prefeito de Fortaleza anunciou que vai disponibilizar máscaras para a população, e contratar a mão de obra de costureiras locais.

“É muito, muito importante esse tipo de iniciativa que contempla a mão de obra da região", afirma Tatiana.

Na Paraíba, a carência de água se soma a falta de renda, mesmo no caso de quem cultiva alimentos. "Há famílias que nem sequer têm como obedecer as regras de higiene, pois não possuem uma cisterna", diz José Dias, criador do Centro de Educação Popular e Formação Social (CEPFS) - Transformando o Sertão.

A ONG, que foi finalista do Prêmio Empreendedor Social, desde 1985, trabalha na busca de soluções para o desenvolvimento sustentável da agricultura familiar no semiárido paraibano brasileiro.

Em um mapeamento inicial, Dias calcula que, das cerca de 450 famílias que recebem suporte da organização atualmente, 120 delas estão em dificuldades. "Os agricultores não têm onde desovar a produção, pois as feiras livres estão fechadas. São famílias que ficam sem renda", diz.

O empreendedor social da Rede Folha também avalia que a distribuição de recursos é desigual entre as regiões do país. "Mas isso não é de hoje. O Nordeste sempre teve dificuldade em sensibilizar doadores, diante dos grandes centros com sua realidade gritante. A ideia é mudar esse quadro", diz ele.

Como ajudar:

  • Para contribuir com os Amigos do Bem, acesse www.amigosdobem.org/acaoemergencial
  • Para colaborar com o CEPFS - Transformando o Sertão, acesse: www.cepfs.org
  • Ajude as ONGs de Recife via www.benfeitoria.com/ONGSREC
  • Para doações à União BA: salvadorcontracorona.org / Insta: @uniao_bahia
  • Para apoiar a União PE: Insta: @uniaopeorg
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