Descrição de chapéu sustentabilidade

'Crescemos 10% em 2020, graças a gestão humanizada na pandemia'

Marcos Bicudo, presidente da Vedacit, aposta em tecnologia e colaboração com startups para superar falta de inovação na construção civil

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São Paulo

Representante de um setor considerado essencial na pandemia, a Vedacit cresceu 10% em 2020 e projeta crescimento de 23% neste ano. Salto sustentável e calcado em uma gestão humanizada e uma estratégia de acelerar o ecossistema de impacto socioambiental, segundo o CEO Marcos Bicudo, 58.

O administrador, que há três anos e meio está à frente da empresa do ramo de ipermeabilizantes, expõe números positivos em meio à crise sanitária, social e econômica gerada pela Covid-19.

Graças a inovações, como o lançamento da TruTec, um hub de tecnologia que oferece soluções personalizadas para construtoras e varejo, e também de um programa de aceleração de startups do ecossistema de habitação social, voltado à baixa renda.

Marcos Bicudo é o CEO da Vedacit
Marcos Bicudo é o CEO da Vedacit - Divulgação

Intramuros, a empresa tomou medidas, como o de carona solidária entre os 800 colaboradores para evitar contaminações no transporte público e reforma de moradias insalubres de funcionários.

A seguir os principais trechos da entrevista de Bicudo à Folha.

Como a pandemia impactou o negócio?
Somos serviço essencial, não podemos parar. Desde o início da pandemia, seguimos trabalhando nas fábricas e no atendimento a clientes. Houve aquecimento na demanda a partir de junho e julho do ano passado, muito incentivado pelo auxílio emergencial do governo.

Mas o setor já vinha se beneficiando de mudanças estruturais. A taxa de juros muito baixa viabiliza e fomenta investimentos. O marco regulatório do saneamento básico também foi aprovado nesse período.

E a mudança do programa Minha Casa, Minha Vida para o Minha Casa Verde Amarela, que tem um quesito de legalização de propriedades irregulares. O potencial é de quase 2 milhões de moradias para serem formalizadas, ao criar segurança jurídica para fazer melhorias.

O que esses fatores representaram em crescimento?
Crescemos 10% em 2020, enquanto o PIB da construção cresceu 1,2% no ano passado. Tivemos esse crescimento mais vigoroso graças ao que chamo de gestão humanizada, com foco nas pessoas, assegurando segurança aos colaboradores.

Assinamos o 'Não Demita' para dar tranquilidade aos nossos colaboradores. Não demitimos ninguém. Contratamos e promovemos nesse período.

Fizemos transporte solidário nas fábricas para o pessoal que estava muito preocupado por conta da contaminação no transporte coletivo. Subsidiamos combustível, abrimos o estacionamento da empresa.

Uma série de medidas com escuta ativa e empática. Todo esse cuidado nos ajudou a enfrentar essa crise e sair dela até mais fortes, como equipe e empreendimento.

Como vão sair mais fortalecidos como negócio da crise da Covid-19?
Aceleramos o avanço na digitalização, ao lançar uma empresa de tecnologia para a construção civil, a Trutec. Ela foi resultado de um processo de inovação aberta iniciado há dois anos, conectando empreendedores e startups ao nosso ecossistema.

A partir da aceleração, nós adquirimos o controle de uma dessas startups, chamada ConstruCode. Ela faz digitalização das plantas no canteiro de obra. O que permite uma atualização permanente das plantas de hidráulica e elétrica, de acordo com a evolução da construção, proporcionando maior eficiência no avanço e no acompanhamento da obra.

Que outras mudanças foram incorporadas?
Temos hoje um portfólio de serviços que oferecemos às construtoras. A gente fornece a possibilidade de instalação dos nossos produtos. Podemos vender a solução completa.

Ou seja, em vez de vender os baldinhos amarelos e as mantas asfálticas, nós vendemos o metro quadro ipermeabilizado. Já com mão de obra, teste de estanqueidade.

Entendemos bem as dores das construtoras e buscamos levar soluções que as tornem mais eficientes e produtivas.

A construção civil é um setor que ainda carece de inovação. Está longe de ser uma indústria 4.0 ?
De todas as indústrias, o setor da construção civil é o que menos inova. Ele e o agronegócio são os menos inovadores.

E são pilares da economia brasileira?
Exatamente. O que é uma janela de oportunidade enquanto país. É fazer da inovação uma grande alavanca de produtividade e desenvolvimento. E por que não dizer de desenvolvimento sustentável.

No nosso caso, estamos conectando inovação com sustentabilidade para trazer efetivamente tecnologias com impacto socioambiental positivo.

A saúde das habitações é problema grave, ainda mais na pandemia. Como vocês operam nesse nicho?
A grande semente plantada por nós foi a criação do propósito na Vedacit, que é impactar a vida de milhões de brasileiros melhorando condições de habitação e fazendo da sua casa a nossa causa.

No contexto brasileiro, a indústria da construção civil se depara com estoque de 16 milhões de residências insalubres do total de 80 milhões, ou seja, 20%. Temos que impactar positivamente e mudar esse cenário.

Isso surge com nosso propósito, a partir de uma visão sistêmica do setor. Nossa meta para 2025 é reduzir em 10% esse índice de casas insalubres e impactar 1,6 milhão de habitações, para torná-las saudáveis.

Doenças respiratórias são a quarta causa de internação do SUS. E 35% delas advém do contato com mofo e umidade. Isso causa absenteísmo na escola. Mães e pais deixam de trabalhar para ficar com a criança internada.

Como essa inovação se dá na prática?
É criando um ecossistema colaborativo. Temos uma relação grande com a rede de habitação de interesse social, cuja gestão é feita pela Vivenda e pela Habitat para Humanidade. Uma rede que conta com 60 negócios sociais e ONGs que tocam exatamente essa população.

É uma das nossas estratégias fortalecer essa parceria. Temos preço social, assegurando que nosso produto chegue com desconto de 20% a 50%.

Outra estratégia é o fomento ao ecossistema do negócio de habitação para baixa renda. Apoiamos o Lab Habitação desde 2018, uma coalizão em parceria com Artemisia, Gerdau, Tigre e Instituto Votorantim.

Como é esse trabalho juntando concorrentes?
O Lab é uma referência para a baixa renda, produz pesquisa e conhecimento e acelera 15 startups por ano, como a Digna Engenharia e Arquitetas da Vila, negócios de empreendedores sociais que levam soluções de reforma para baixa renda.

A gente faz mentorias e patrocina as acelerações. Depois, essas empresas aceleradas desenvolvem modelos de negócios que vão endereçar esse desafio da construção saudável.

A pandemia evidenciou ainda mais esses desafios?
Essa crise evidenciou desigualdade, expôs as grandes diferenças e a necessidade de o país rever as condições básicas de habitação.

É muito lindo falar para ficar em casa para quem tem casa, água potável para beber, saneamento básico. O que não é o caso de uma grande parcela da população.

A crise veio acelerar esse nosso compromisso com a melhoria da qualidade das habitações. É importante também resolver os problemas dentro de casa, antes de sair realizando grandes coisas. Nós passamos a reformar casas insalubres dos nossos colaboradores. Fizemos um programa e já reformamos quatro habitações.

Como a empresa está atuando na perspectiva da Agenda 2030?
Toda essa jornada de sustentabilidade é o caminho para nossa certificação como empresa do Sistema B. Os desafios das casas insalubres entram nesse novo arcabouço ESG, que virou modinha, mas é algo que já falamos há muito tempo.

Nosso horizonte estratégico de 2030 é posicionar a Vedacit como uma empresa referência no setor da construção civil, que responde por 54% dos resíduos do planeta. Não se pode subestimar o desafio ambiental. Ele é tão grande quanto o social.

Enquanto se demoniza o canudinho plástico, os canteiros de obra continuam operando da mesma formahá 50 anos. A construção civil que sempre foi um dos grandes pilares econômicos do país, não chega a representar a 6% do PIB hoje. Falta de inovação e produtividade é algo crônico.

Como enxerga o processo de retomada pós-pandemia?
Nós acreditamos numa retomada sustentável. O marco regulatório do saneamento básico injeta R$ 5 bilhões por ano e se conecta com a construção civil. São R$ 50 bilhões em dez anos.

As grandes construtoras fizeram IPOs, ofertas públicas de ações, em 2017, 2018, 2019. Todas estão capitalizadas. Estamos fazendo investimentos para que a Vedacit se posicione bem nesse cenário.

RAIO-X

Marcos Bicudo , 58
É formado em Administração de Empresas pela PUC-SP, com especializações em programas de gestão executiva em Harvard e Insead; preside a Vedacit, braço de construção civil do Grupo Baumgart, com faturamento de R$ 542 milhões em 2020

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