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Exercício físico é mais importante do que perder peso para viver mais

Estudo mostra que obesos e sedentários diminuem em até 30% as chances de morte prematura ao se movimentar

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Gretchen Reynolds
The New York Times

Para ter melhor saúde e uma vida mais longa, exercitar-se é mais importante que perder peso, especialmente se você estiver com sobrepeso ou obesidade, segundo uma interessante revisão das relações entre condicionamento físico, peso, saúde do coração e longevidade, publicada no ano passado.

O estudo, que analisou os resultados de centenas de estudos anteriores sobre perda de peso e exercícios em homens e mulheres, descobriu que as pessoas obesas normalmente reduzem muito mais o risco de doenças cardíacas e morte prematura malhando do que perdendo peso ou fazendo dieta.

A revisão aumenta as evidências de que a maioria das pessoas pode ser saudável com qualquer peso, se também for ativa o suficiente.

Idoso caminha no Parque Ibirapuera, em São Paulo - 20.ago.2020 - Rubens Cavallari/Folhapress

Escrevi com frequência sobre a ciência do exercício e da perda de peso, grande parte da qual é, francamente, desanimadora, se seu objetivo é emagrecer. Essa última pesquisa mostra de forma esmagadora que as pessoas que começam a se exercitar raramente perdem muito peso, ou nenhum, a menos que também reduzam substancialmente a ingestão de alimentos.

Só o exercício queima muito poucas calorias, em geral, para ajudar na redução de peso. Também tendemos a compensar parte do escasso gasto calórico do exercício comendo mais depois ou nos movendo menos, ou de forma inconsciente diminuindo as operações metabólicas de nossos corpos para reduzir o gasto diário geral de energia.​

​Glenn Gaesser, professor de fisiologia do exercício na Universidade Estadual do Arizona em Phoenix, nos Estados Unidos, é bem versado na inadequação dos exercícios para se perder gordura. Há décadas ele estuda os efeitos da atividade física na composição corporal e no metabolismo das pessoas, bem como na sua resistência, com foco particular em pessoas obesas. Grande parte de sua pesquisa anterior destacou a inutilidade dos exercícios para perder peso.

Em um experimento de 2015 que ele supervisionou, por exemplo, 81 mulheres sedentárias e com sobrepeso começaram uma rotina de caminhar três vezes por semana durante 30 minutos. Após 12 semanas, algumas delas perderam alguma gordura corporal, mas 55 ganharam peso.

Em outro estudos do laboratório do dr. Gaesser, no entanto, pessoas com sobrepeso, obesidade e com problemas de saúde significativos, incluindo pressão alta, baixos perfis de colesterol ou resistência à insulina –um marcador para diabetes tipo 2–, mostraram melhoras consideráveis nessas condições depois que começaram a se exercitar, perdendo peso ou não.

Vendo esses resultados, Gaesser começou a se perguntar se o condicionamento físico poderia permitir que pessoas acima do peso desfrutem de uma boa saúde metabólica, independentemente de seu número de massa corporal, e potencialmente vivam tanto quanto pessoas mais magras –ou até mais, se as pessoas magras estiverem fora de forma.

Assim, no novo estudo, que foi publicado este mês na iScience, ele e seu colega Siddhartha Angadi, professor de educação e cinesiologia na Universidade da Virgínia em Charlottesville, começaram a procurar em bancos de dados estudos anteriores relacionados a dieta, exercícios, condicionamento físico, saúde metabólica e longevidade.

Eles estavam especialmente interessados em meta-análises, que agrupam e analisam dados de vários estudos anteriores, permitindo que os pesquisadores analisem resultados de muito mais pessoas do que na maioria dos estudos individuais de perda de peso ou exercícios, que tendem a ser de pequena escala.

Eles terminaram com mais de 200 meta-análises e estudos individuais relevantes. Então partiram para ver o que toda essa pesquisa, que incluía dezenas de milhares de homens e mulheres, na maioria obesos, indicava sobre os benefícios relativos de perder peso ou ficar em forma para melhorar o metabolismo e a longevidade. Na verdade, eles perguntaram se alguém que está pesado ganha mais saúde perdendo peso ou ao se levantar e se mexer.

Eles perceberam que a competição não foi apertada. "Em comparação direta, a magnitude do benefício foi muito maior com a melhora do condicionamento físico do que com a perda de peso", disse o dr. Gaesser.

Como um todo, os estudos que eles citam mostram que homens e mulheres sedentários e obesos que começam a se exercitar e melhorar sua forma física podem reduzir o risco de morte prematura em até 30% ou mais, mesmo que seu peso não mude. Essa melhora geralmente os coloca em menor risco de morte precoce do que as pessoas consideradas de peso normal, mas fora de forma, disse o doutor Gaesser.

Por outro lado, se as pessoas pesadas perdem peso fazendo dieta (não por doença), seu risco estatístico de morrer jovem geralmente cai cerca de 16%, mas não em todos os estudos. Algumas pesquisas citadas na nova revisão concluíram que a perda de peso entre pessoas obesas não diminui os riscos de mortalidade.

A nova revisão não foi projetada para determinar precisamente como o exercício ou a perda de peso afetam a longevidade em pessoas com obesidade. Mas em muitos dos estudos que analisaram, disse Gaesser, as pessoas que perderam peso fazendo dieta o recuperaram, depois tentaram novamente –uma abordagem "ioiô" do emagrecimento que muitas vezes contribui para problemas metabólicos como diabetes, colesterol alto e menor expectativa de vida.

Por outro lado, o exercício combate essas mesmas condições, disse ele. Também pode, inesperadamente, refazer as reservas de gordura das pessoas.

"Pessoas com obesidade geralmente perdem alguma gordura visceral quando se exercitam", disse ele, mesmo que a perda de peso geral seja insignificante. A gordura visceral, que se acumula profundamente dentro de nossos corpos, aumenta os riscos de diabetes tipo 2, doenças cardíacas e outras condições.

Alguns dos estudos que eles citam descobriram que o exercício também altera a sinalização molecular dentro de outras células de gordura de maneiras que podem melhorar a resistência à insulina, não importa qual seja o peso da pessoa. "Parece que o exercício deixa a gordura mais em forma", disse Gaesser.

A principal conclusão da nova revisão, concluiu ele, é que você não precisa perder peso para ser saudável. "Você ficará melhor, em termos de risco de mortalidade, aumentando sua atividade física e o condicionamento físico do que perdendo peso intencionalmente", disse ele.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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