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Desastrado com esportes? Falta de jeito começa no cérebro e pode ser corrigida

Você provavelmente não vai se tornar um atleta profissional, mas pode treinar sua mente para se adaptar e mudar

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Jenny Marder
The New York Times

Carmen Chavez passou grande parte de sua vida evitando esportes. Sua aversão, ela diz, surgiu do constrangimento nas aulas de educação física no Ensino Médio. Enquanto meninas mais atléticas cortavam bolas altas no vôlei, ela se preocupava em não tropeçar ou ser atingida por uma bola. Para evitar o jogo, ela costumava ficar à margem e atuar como locutora.

Durante vários anos depois, ela disse a si mesma que simplesmente era desajeitada demais para jogos com bola. Mas há um ano Chávez, agora com 26, começou a jogar basquete com uma amiga e descobriu que é muito boa em arremessos e dribles. Talvez mais importante, ela gosta de jogar.

"Ter medo, ser evasiva, me fez mais mal do que bem", afirma Chávez, que diz ainda ser tão desajeitada que de vez em quando sofre um acidente. "Estou tentando parar de deixar minha falta de jeito me impedir de ser ativa."

Ilustração de uma pessoa deitada ao lado de uma bicicleta ergometrica com a perna sobre o banco e segurando um lado do guidão. Fundo rosa
Mesmo aqueles sem coordenação podem treinar o cérebro para ir bem em esportes - Till Lauer/The New York Times

Cerca de 6% das crianças em idade escolar têm um distúrbio de coordenação do desenvolvimento, também conhecido como "síndrome da criança desajeitada", que pode persistir na idade adulta. Jill Zwicker, pesquisadora e terapeuta ocupacional da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá), indica que o distúrbio pode ser o motivo pelo qual muitas pessoas desenvolvem uma antipatia duradoura por esportes e exercícios.

Isso é importante porque até mesmo se sentir um pouco descoordenado pode ter efeitos tangíveis na vida das pessoas. Crianças que evitam atividades físicas correm maior risco de sofrer ansiedade e depressão, diz Zwicker. Um estudo com milhares de crianças britânicas também descobriu que aquelas cujos professores as descreveram como descoordenadas tinham maior probabilidade de se tornarem obesas quando adultas.

Mas sentir-se descoordenado, seja quando criança ou adulto, não significa que você não possa ser um atleta.

A falta de jeito começa no cérebro

Não há dúvida de que alguns de nós –os atletas profissionais e bailarinos– são inerentemente mais coordenados do que outros, afirma Gary Wilkerson, pesquisador de lesões esportivas e professor da Universidade do Tennessee Chattanooga.

A capacidade de girar uma bola de basquete sobre um dedo ou devolver um saque rápido de tênis vem da eficiência com que o cérebro se comunica através de nós e redes que controlam coisas como visão, atividade motora e tomada de decisão, assim como entre os hemisférios direito e esquerdo do cérebro, pontua Wilkerson.

"Se eles não sincronizam bem, você é desajeitado", acrescenta.

A boa notícia é que o tecido nervoso do cérebro e da medula espinhal é muito bom para se adaptar e mudar. Da mesma forma que alguns pacientes de AVC (acidente vascular cerebral) podem reaprender a andar, pessoas descoordenadas podem aprender novos esportes e atividades, com foco e prática. Em outras palavras, a falta de jeito, diz Wilkerson, é "muito corrigível".

Questione crenças sobre você

O primeiro passo para superar a falta de jeito é questionar a história que você conta a si mesmo, afirma Justin Ross, psicólogo clínico especializado em desempenho humano.

Assim como Chávez, as crenças da maioria das pessoas sobre suas habilidades atléticas se cristalizam na adolescência, e isso determina como elas se envolvem com o atletismo em suas vidas, pontua ele. As pessoas se prendem desde cedo a essa identidade de que não são capazes, "geralmente porque as aulas de ginástica no Ensino Fundamental ou Médio eram muito embaraçosas".

Acreditar que você é incapaz ou desajeitado pode criar uma profecia autorrealizável que leva as pessoas a se desengajar. Para reformular essas crenças, pense em suas habilidades como uma experiência, e não uma identidade: "posso ser atlético", por exemplo, em vez de "não sou um atleta".

Em seguida, encontre a vontade para tentar algo novo que detenha seu interesse. Lembre-se de que você não é quem você já foi.

"Se você não pode desafiar suas crenças, não terá coragem de começar e não estará dando ao seu cérebro a oportunidade de mudar", diz Ross.

Priorize o sono e acalme a mente

Pode parecer simples, mas uma boa noite de sono ou até mesmo uma soneca antes de um treino pode melhorar o desempenho, independentemente de quão desastrado você seja. Na verdade, um pequeno estudo sugere que a falta de sono é tão ruim quanto beber quando se trata de coordenação. Outro descobriu que quanto menos os estudantes universitários dormiam, menos controle tinham ao caminhar numa esteira.

O estresse também é um fator. Ele nos deixa distraídos, o que diminui a velocidade de processamento de informações do cérebro, afirma Charles Swanik, treinador atlético e professor de cinesiologia e psicologia aplicada na Universidade de Delaware.

Sob estresse, o cérebro pode se tornar muito excitável, diz ele, causando tensão nos músculos. Quando os músculos ficam tensos, os movimentos normalmente suaves são substituídos por movimentos exagerados. Para reduzir isso, recomenda Swanik, antes da atividade física concentre-se em acalmar a mente e o corpo por meio de música, respiração profunda ou atenção plena.

Procure instruções claras

Digamos que você queira praticar "pickleball" [uma espécie de tênis] ou uma arte marcial. Toda vez que você saca ou dá um soco, as conexões em seu cérebro são fortalecidas. Mas se você for menos coordenado é especialmente importante praticar os movimentos corretos e precisos.

Pessoas com problemas de coordenação geralmente também se beneficiam de instruções explícitas em etapas, porque o aprendizado motor não ocorre naturalmente, indica Zwicker. Por exemplo, primeiro se equilibre na bicicleta e depois coloque o pé esquerdo no pedal. Um roteiro para repetir para si mesmo pode ser útil, sugere ela. Se você estiver aprendendo a nadar, pode tentar: "braçada, braçada, respire. Braçada, braçada, respire", recomenda.

As pessoas que lutam com a coordenação também tendem a se sair melhor em esportes menos competitivos e não baseados em equipe, como artes marciais, pontua Zwicker. "Você ainda está com outras pessoas, mas você é seu próprio parâmetro. Está trabalhando em seu próprio conjunto de habilidades e progressos."

Por fim, quando se trata de novos esportes, escolha um com menos distrações, no qual você possa se concentrar. Em vez de futebol ou futebol americano, que podem parecer caóticos, tente tênis ou corrida, diz Swanik.

Transformar a falta de jeito em integração não é fácil, e há limites. Mas se os desajeitados do mundo não podem se tornar atletas olímpicos eles podem obter toda a diversão e os benefícios de um bom exercício.

Tradução Luiz Roberto M. Gonçalves

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