Meu filho pratica bullying, e agora? Veja como lidar com o problema

Especialistas recomendam buscar ajuda profissional, pois o comportamento pode estar ligado a transtornos

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Curitiba

Descobrir que o filho está praticando bullying traz questionamentos e até negação aos pais, surpresos por não perceberem os sinais. Abuso, descontrole emocional e transtornos estão entre as causas da violência, que atinge vítima e agressor.

Após a descoberta, é indicado procurar ajuda profissional, além de entender qual foi a abordagem escolhida pela instituição de ensino. Também é importante saber os motivos que levaram a criança e o adolescente ao comportamento, uma vez que o bullying pode ser uma reação a outras agressões ou uma tentativa de se inserir em novos grupos.

Ilustração de Lívia Serri Francoio mostra um garoto e um cachorro. O animal é marrom, gordinho e está no meio da cena. Ele está virado para a direita, com a cabeça para a frente. A expressão é de susto e as orelhas estão assimétricas, a esquerda mais baixa que a direita. O menino aparece quase sentado no cachorro. Ele usa camisete de manga longa branca, com listras vermelhas. A calça é amarela e está descalço. Os cabelos são lisos e penteados para trás. O pé esquerdo está apoiado no chão, logo atrás do animal, e o direito, levantado, apoiado no cachorro. A mão direita estende-se pelo corpo do cão e a mão esquerda levanta uma espada pontiaguda.
O que fazer caso seu filho pratique bullying? - Lívia Serri Francoio

Estudo de 2019 publicado pela Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) mostra que 29% dos adolescentes foram vítimas de bullying, enquanto 16% confirmaram já ter praticado. Levantamento realizado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) no mesmo ano mostrou que cerca de 40% dos estudantes brasileiros sofrem a agressão.

Entre eles está João (nome fictício, a pedido dos responsáveis) que responde a quatro processos na Justiça por praticar ciberbullying contra meninas de sua escola. Aos 17 anos, ele levou uma faca para a sala, foi descoberto e internado por transtorno de personalidade Borderline.

Os pais, que também preferem o anonimato, não conseguiram ler as mensagens enviadas às colegas. Sabem apenas que são perseguições e incentivos para que elas se matem. "Eu fico muito mal", diz o pai. "A gente só soube porque as meninas entraram na justiça. Ele sempre foi muito quieto."

Os sinais de que uma criança ou um adolescente estão praticando bullying incluem isolamento e agressividade que podem ser direcionados aos irmãos, parentes e animais de estimação.

Segundo Patrícia Guillon Ribeiro, mestre em psicologia da infância e adolescência e professora na PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná), os jovens não apresentam muitas mudanças no seu padrão de comportamento, mas podem se tornar mais agressivos, com baixa tolerância à frustração, pouca regulação emocional e menor controle de impulsos.

A docente afirma que o agressor não tem empatia, é capaz de fazer mal e achar graça, além de muitas vezes reproduzir o que vê casa. "Ele tem pais, avós, bisavós agressivos, repassando o valor de se sobrepor e subjugar."

A escola também pode ser um fator invalidante por tratar a criança agressora como problema, levando à baixa autoestima. "Por conta disso, é muito difícil para os pais reconhecerem que seus filhos são autores. Mas o comportamento não é pontual, ele já vem acontecendo", diz Ribeiro.

Quando o pais descobrem "a tendência é negar, pois têm uma visão totalmente idealizada do filho e não conseguem enxergar", pontua o psicólogo Nei Ricardo de Souza, especialista em Saúde da Família e professor da Universidade Positivo. Depois, ficam perplexos e sem ação. Por fim, costumam adotar posturas questionadoras e punitivas.

Quando Maria (nome fictício, a pedido), soube que sua filha de 10 anos estava praticando bullying, ficou "transtornada". A garota chegou na escola exibindo sua roupa nova e humilhando uma colega, a quem chamava de pobre por receber doação de roupas usadas.

"Perdi a cabeça e dei até uns tapinhas para dar um susto nela, para que não faça mais, pois não estamos criando ela para isso", conta. "Foi muito difícil, pois nunca fizemos ou tínhamos passado por isso."

O bullying, então, se espalhou entre os alunos por meio de ameaças à vítima, que não queria mais ir para escola. Ela não sabe se a filha fez por maldade, mas explicou as consequências da ação, que podem chegar a atos extremos, "como quando vemos crianças inocentes mortas em escolas".

A necessidade de se autoafirmar faz com que os agressores procurem outros como eles, formando grupos com potencial de reconhecimento social. "Ele quer ser visto como uma figura de liderança, mais ágil e agressivo, tornando-se uma motivação de força e poder para o grupo", afirma Souza.

As razões para a prática podem estar relacionadas a abusos e transtornos de ansiedade ou personalidade. Por isso, buscar ajuda profissional se torna essencial.

Além de tratar a criança, também é necessário avaliar os pais, que precisam lidar com a frustração de perceber que seu filho não é como pensavam. "Quando esse sentimento é grande, pode ser indicativo de que não há aceitação e validação do filho", enfatiza Ribeiro.

"Precisamos reconhecer que os filhos são indivíduos com identidades próprias e que nem sempre vão corresponder ao que esperamos deles", diz a psicóloga.

Pais que deixarem de lidar com o problema podem ser responsabilizados judicialmente e ter que indenizar as vítimas por danos morais e materiais provocados por seus filhos.

O que fazer caso a criança ou o adolescente cometa bullying

  • Procurar ajuda especializada com psicólogo –o ato pode significar transtornos;
  • Ir até a escola e entender como o bullying vem acontecendo e de que forma estão trabalhando o problema;
  • Tentar entender, ao lado da instituição de ensino, se esta prática não é uma tentativa de ser aceito por um grupo;
  • Verificar se a criança ou o adolescente também não está sofrendo bullying;
  • Conversar e tentar verificar as razões dos atos contra os colegas;
  • Perceber se o seu julgamento como responsável não está sendo excessivo ou muito rígido e exigente.
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