Descrição de chapéu Todo mundo lê junto

'No bullying, as duas partes precisam de ajuda', ensina psicanalista

Irmãos de 9 e 8 anos lembram de episódios chatos 'de zoação' na escola

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São Paulo

​Nessa semana, foi lembrado o Dia Nacional de Combate ao Bullying na Escola. Jorge tem 9 anos e sabe bem o que essa palavra significa, e não só porque ele já aprendeu a tradução dela, mas também porque ele já viveu suas consequências na própria pele.

"Eu tenho o cabelo longo e um pessoal ficava me chamando de ‘menina’, foi por uns três, quatro meses", conta. "Fiquei triste porque não é bom sofrer isso, não faz sentido você ser zoado por ter cabelo longo ou cabelo curto, independente do gênero."

Jorge define o bullying assim: "É quando você zoa a pessoa pelo jeito que ela tem, pela cor da pele, pelo jeito que é o corpo, pelo jeito que ela fala, outras coisas assim, que ela faz mal ou tem de diferente da maioria".

Os irmãos João e Caetano falam o que pensam sobre bullying - Zanone Fraissat/Folhapress

A psicanalista Maria Lacombe Pires, especialista em crianças e adolescentes, acha boa a definição dele, e continua na explicação. "No bullying tem uma zoação, mas não é toda zoação que é um bullying", diz.

Para Maria, conflitos são coisas que fazem parte das relações —brigar temporariamente com um amigo, fazer ou ouvir uma piada de que não se gosta, por exemplo. "Isso tudo faz parte. Às vezes, a gente exagera em alguma coisa que vai deixar o outro chateado", fala a psicanalista.

Já no bullying, ela diz, não há essa alternância de papéis. Pense como se fosse uma gangorra: nas relações em geral, há momentos em que alguém está lá em cima, e há momentos em que alguém está embaixo.

"No bullying é como se a gangorra parasse. E quem sofre o bullying acaba não encontrando um jeito de interromper aquilo, se posicionar", compara Maria.

Por isso, ela diz, quando duas crianças estão envolvidas em situações de bullying, a surpresa é que não é só quem ouve a zoação que precisa de ajuda —quem zoa também precisa de uma força.

Jorge já sofreu bullying, e Caetano lembra de um episódio chato em uma festa de aniversário; eles gostariam que esse tipo de coisa não acontecesse - Zanone Fraissat/Folhapress

Funciona assim: quem está fazendo o bullying tem que saber que chatear o outro de propósito afasta os amigos. E quem sofre precisa saber colocar limite, dizer "não", se posicionar.

Jorge, que era zoado por causa do cabelo, conseguiu se livrar do bullying sozinho. "Eu parei de ligar e eles começaram a parar. Pensava todas as noites qual seria uma solução boa. Ninguém me ajudou, consegui resolver sozinho, sem falar com ninguém", lembra. E mesmo pedir ajuda a um adulto é válido, diz Maria. "O importante é falar, não importa de que jeito", assegura.

Caetano é irmão de Jorge e tem 8 anos. Ele nunca sofreu bullying, mas se lembra de um episódio em uma festa de aniversário sua. "Minha mãe contratou uma pessoa pra fazer parkour. Aí alguns amigos meus ficaram chamando ele de ‘tiozinho’. Eu falei que não tava legal, que ele tava ali pra dar aula e não pra ser zoado."

Outra situação marcante na vida de Caetano foi na escola. "Na minha classe tinha uma pessoa que andava de cadeira de roda e não sabia falar, e todo mundo ajudava, levava ela pras brincadeiras", conta.

"Bullying é uma coisa muito ruim pra quem sofre e pra quem faz", resume Jorge. "Se todo mundo for inimigo a gente não vai conseguir viver, não vai ter mundo. Tem que tentar se colocar no lugar do outro, e se fosse com você?".

TODO MUNDO LÊ JUNTO

Texto com este selo é indicado para ser lido por responsáveis e educadores com a criança

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